Após túnel

Paradas, obras do corredor Leste-Oeste não têm prazo de conclusão

Amanda Miranda e Lorena Barros
Amanda Miranda e Lorena Barros
Publicado em 14/04/2015 às 18:45
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Quase prontos, TIs estão abandonados há meses / Foto: Lorena Barros/JC Trânsito

Quase prontos, TIs estão abandonados há meses Foto: Lorena Barros/JC Trânsito

Mesmo com pendências, o Governo de Pernambuco correu e abriu uma das principais obras do Corredor Leste-Oeste, o Túnel da Abolição, com mais de um ano de atraso. A questão agora, além de concluir o equipamento, é que estações de BRT (Bus Rapid Transport) e dois terminais integrados previstos no projeto não têm prazo de conclusão. Por impasse com o consórcio responsável, que pode até acabar com a rescisão do contrato, a construção está parada oficialmente desde janeiro. E tudo deveria estar pronto na Copa do Mundo.

Foram investidos até agora R$ 136 milhões no corredor, que vai do Centro do Recife até a cidade vizinha de Camaragibe e foi orçado em R$ 168,7 milhões. Nas contas da Secretaria das Cidades, a obra está com aproximadamente 80% das intervenções previstas prontas. Mas o que falta impacta a vida dos usuários: são 12 estações de BRT a serem erguidas e dois terminais integrados de ônibus em andamento.

O consórcio que iniciou as obras é formado pela Servix e pela Mendes Júnior, que vem com problemas desde que foi envolvida nas investigações da Operação Lava Jato, com diretores presos pela Polícia Federal. As empresas foram notificadas pela gestão estadual devido ao descumprimento do contrato.

De acordo com o secretário-executivo de Mobilidade de Pernambuco, Marcelo Bruto, com isso, o consórcio pode sofrer sanções. O Estado pensa até em tomar uma medida mais drástica: rescindir o contrato. A decisão deverá ser tomada em reuniões realizadas nos próximos dias, incluindo com os técnicos das construtoras. "Acredito que teremos uma resposta nesse prazo", afirma o secretário - embora as datas nunca sejam cumpridas no caso desse corredor.

No caso de o Governo de Pernambuco optar pela rescisão, o próximo passo poderá deixar a obra ainda mais lenta, pois deverá ser feita uma nova licitação, processo que dura meses. Questionado, Bruto afirmou que ainda não se pode prever qual dos dois lados deverá pagar mais - se as empresas devolverão o investimento estadual ou se a gestão terá que gastar ainda mais em tempo de arrocho.

BRT ainda não tem todas as condições de circular como o previsto. E não há prazo

BRT ainda não tem todas as condições de circular como o previsto. E não há prazoFoto: Lorena Barros/JC Trânsito

Enquanto a decisão não é tomada, os milhares de passageiros que seriam beneficiados com as estações do BRT continuam aguardando. Das 25 paradas previstas, 13 estão em operação. E o secretário responde sem pestanejar as outras que podem estar lhe dando dor de cabeça: seis na Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife; uma próximo ao Elevado da Caxangá, na Zona Oeste; três em Camaragibe, na Região Metropolitana; além de duas que estão em fase final na PE-05, também no Grande Recife.

Nos terminais Perimetrais III e IV, também previstos no projeto, que receberam um investimento de R$ 18 milhões e deveriam beneficiar, juntos, mais de 90 mil passageiros por dia, a situação era a mesma da constatada pela equipe do JC Trânsito no mês de fevereiro, quando as obras estavam paradas desde novembro: apesar de já ter forma de terminal, com sinalização de paradas e placas, não há trabalhadores em nenhuma das duas obras.

A falta de manutenção nos locais é denunciada pela presença de entulhos e de mato. Ninguém além dos seguranças - que impedem invasões no terreno - estão no local.

Das 25 estações previstas, apenas 13 estão operando

Das 25 estações previstas, apenas 13 estão operandoFoto: Lorena Barros/JC Trânsito

Do lado de fora do Terminal Perimetral IV, próximo ao viaduto da Caxangá, passageiros esperam ônibus em paradas improvisadas, enquanto outros passageiros aguardam ônibus dentro da estação BR-101 do BRT. Já no III Perimetral, próximo ao cruzamento com a Av. General San Martin, a estrutura já apresenta sinais de depredação, com as paredes pichadas.

OUTRO TERMINAL - Já no final da Avenida Caxangá, o terminal que leva o mesmo nome da avenida não transparece o desconforto que dá aos passageiros que precisam utilizá-lo. Inaugurado em 2008 e transportando quase dez mil passageiros por dia, em oito linhas diferentes, o TI começou a operar com a linha de BRT "TI Caxangá (Centro)" e passou a ser ponto de passagem de mais duas linhas (Tabatinga e Jardim Primavera/Vale das Pedreiras) em dezembro de 2014.

A implementação do BRT no terminal aumentou também o número de passageiros no local. A fila do ônibus que segue pela faixa exclusiva chega a ter o triplo do tamanho das outras filas no meio da manhã, fora de horário de pico.

O estudante Messias Muniz, de 21 anos, afirma ter sido beneficiado pelo BRT. Agora, sua viagem até o Centro do Recife tem uma duração menor. Ele afirma, porém, que é comum que o ônibus saia cheio da integração, e que o espaço do terminal deixa a desejar. "Penso que o terminal é muito pequeno para a quantidade de gente que o utiliza, principalmente em horários de pico", diz.

O TÚNEL - Em todo esse período, a única obra que andou - a passos lentos, quase parando - foi o Túnel da Abolição, aberto ao tráfego nesse domingo (12). "A empresa tem dificuldades financeiras e de mobilização. Pensamos em garantir o túnel, para que a empresa tivesse fôlego operacional. Além disso, outra parte da discussão é que a empresa tem entendimento de que teria a receber e o Estado não reconhece", explica o secretário de Mobilidade.

Por ter ainda várias pendências, como infiltrações e a instalação de um elevador e de uma escada, a abertura do túnel foi alvo de inúmeras críticas no Twitter e no Facebook do JC Trânsito. "Não foi inaugurado, foi liberado para o tráfego. É uma decisão que se precisava tomar. O transtorno diário era tão grande que achamos razoável, pois o ganho para o tráfego era maior do que o benefício de esperar o tempo de serviços finais", justifica Bruto.

Para conter as infiltrações e a água que mina de alguns pontos na parede, o consórcio tem injetado resina há três semanas, totalizando 800 litros. Também será feito o saneamento. "Não há risco de a estrutura ser danificada por isso. Hoje não há problemas, mas temos o entendimento que algo precisa ser feito. Todo túnel é tolerável algum nível de umidade, e no nosso ainda não é o ideal", admite o secretário.

Lorena Barros / JC Trânsito
O túnel foi inaugurado nesse domingo (12), com um ano e quatro meses de atraso - Lorena Barros / JC Trânsito
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É possível identificar infiltrações na parede do túnel, assim como pequenas poças d'água no local - Lorena Barros / JC Trânsito
Reprodução / Google Street View - Lorena Barros / JC Trânsito
Uma das faixas da Rua Real da Torre foi inviabilizada com a obra - Reprodução / Google Street View - Lorena Barros / JC Trânsito
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Agora, motoristas tem duas faixas para seguir para Afogados/Boa Viagem e uma para entrar na Caxangá - Lorena Barros / JC Trânsito
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A passagem de pedestres para o túnel ainda não foi aberta, e apenas carros trafegam no local - Lorena Barros / JC Trânsito
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O túnel terá um ponto de desembarque de passageiros, que ainda não foi inaugurado - Lorena Barros / JC Trânsito
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Os ônibus que seguem para bairros como Afogados e faziam retorno na Rua José Osório agora seguem direto pelo túnel, economizando tempo - Lorena Barros / JC Trânsito
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Na Rua José Osório, motoristas eram orientados pelos amarelinhos e por batedores da CTTU - Lorena Barros / JC Trânsito
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Muitos motoristas faziam o retorno na Rua José Osório, que agora não tem mais saida direta pra o sentido Centro da Caxangá - Lorena Barros / JC Trânsito
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Mesmo com a inauguração do tunel, o trânsito continua muito lento no final da Avenida Caxangá - Lorena Barros / JC Trânsito


Além das obras e dos serviços para conter as infiltrações, uma licitação ainda é prevista. O procedimento será feito para levar medidas paliativas ao Museu da Abolição, que alega ter sofrido consequências negativas por causa do túnel, como um jardim que já estava previsto no projeto inicial, em que se gastou R$ 16 milhões, e a reforma da praça na saída do equipamento, na Rua Benfica.

Há ainda a previsão de abrir uma passagem de pedestres na Rua Real da Torre, o que justifica a faixa sem saída tão questionada na lateral esquerda do túnel. Assim como o Corredor Leste-Oeste, não há prazo para essas intervenções.

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