Crise no sistema prisional

Morre detento ferido em tumulto no Complexo do Curado

Inês Calado
Inês Calado
Publicado em 31/01/2015 às 11:37
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PMs foram acionados para ajudar a controlar a confusão / Foto: Hesíodo Goes/JC Imagem

PMs foram acionados para ajudar a controlar a confusão Foto: Hesíodo Goes/JC Imagem

A morte de um dos quatro detentos feridos no tumulto da manhã deste sábado (31) no Complexo do Curado, na Zona Oeste do Recife, foi confirmada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos no fim da manhã. A vítima havia sido levada para o Hospital Otávio de Freitas, mas não resistiu. 

A confusão começou por volta das 7h30, quando mulheres de presos do Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros, uma das três unidades, ficaram indignadas com o atraso na entrada para a visita íntima. Em protesto, subiram nas grades. Os detentos, por sua vez, ao ouvir a gritaria do lado de fora, atiraram pedras pelos muros. Foram usadas balas de borracha para controlar o tumulto, o que deixou o clima ainda mais tenso.

Hesíodo Goes/JC Imagem
- Hesíodo Goes/JC Imagem
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Por volta das 9h, a entrada das mulheres foi liberada para os três presídios do complexo, apesar da confusão.

Mulheres na fila aguardando para entrar no Complexo do Curado

Mulheres na fila aguardando para entrar no Complexo do CuradoFoto: Hesíodo Goes/JC Imagem

Além da vítima, outros dois detentos foram levados para o Hospital Otávio de Freitas. Um deles foi visto deixando o complexo prisional em um carro de mão, desacordado e com um ferimento na cabeça. Outro saiu caminhando com dificuldade e machucado na barriga. São eles: Alisson Avelino da Silva, 21 anos, e Diogo Santos de Lima, 20 anos. Outros dois  feridos foram atendidos na enfermaria do presídio com ferimentos leves. 

A secretaria informou que será aberto um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do reeducando. Leia a íntegra da nota enviada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos sobre o assunto:


"A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informa que foi contido um tumulto ocorrido na manhã deste sábado (31) no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros,  no Complexo Prisional do Curado. O tumulto ocorreu antes do início da visita íntima, na manhã deste sábado (31), sendo necessária a intervenção dos agentes para manter a ordem na unidade e a segurança de todos. Na ocasião, os reeducandos Alisson Avelino da Silva, 21 anos, e Diogo Santos de Lima, 20 anos, ficaram feridos e estão passando por cirurgia no Hospital Otávio de Freitas, para onde foi levado David Bezerra dos Santos, de 20 anos, que faleceu ao dar entrada na unidade. Outros dois  feridos foram atendidos na enfermaria do presídio com ferimentos leves. Será aberto um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do reeducando."


Foto: Edmar Melo/JC Imagem | Arte: NE10

SISTEMA EM CRISE - Nos primeiros dias de janeiro, o novo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, enfrentou a primeira crise no caótico sistema prisional do Estado. Em apenas quatro meses e uma semana como secretário de ressocialização, Humberto Inojosa renunciou ao cargo. Em seu lugar, assumiu o coronel da PM Eden Vespaziano. Na ocasião, o  secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, anunciou também um pacote de medidas.

A promessa mais ousada foi acabar com a circulação de armas brancas e celulares nas unidades prisionais, feita três dias depois da Rede Globo divulgar flagrantes registrados no Complexo do Curado.  O sistema prisional do Estado é proporcionalmente o mais superlotado do Brasil, com déficit de agentes penitenciários e policiais militares para a segurança e monitoramento. Hoje, existem cerca de 31 mil detentos onde caberiam 10 mil deles.

No Complexo do Curado, uma rebelião foi deflagrada na véspera de Natal e por pouco detentos não conseguiram fugir por um túnel. A Globo divulgou imagens de presos circulando com facões e celulares, sem serem importunados, no complexo, a maior unidade do Estado. No último dia 7, o Batalhão de Choque foi ao local e fez uma varredura, encontrando cerca de 40 armas e celulares.

A situação ficou ainda pior na semana passada, quando o Complexo do Curado passou por três dias de rebelião, motim de deixou três mortos, dois detentos, um deles decapitado, e um sargento da PM. A reivindicação dos reeducandos era a saída do juiz Luiz Rocha, acusado pelos presos de não ser hábil no julgamento dos processos de progressão de pena e transferências e exigiam melhores condições de convivência dentro das unidades e garantias de que seus familiares seriam melhor tratados em dias de visita. Nessa sexta-feira (30), o esquadrão antibombas foi acionado para desativar uma possível bomba instalada dentro do presídio Frei Damião de Bozzano.

Na mesma semana, os presos da Barreto Campelo também se rebelaram. Eles exigiam mais rapidez no julgamento de processos. De acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, 27 presos ficaram feridos.

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