Moeda norte-americana exerce influência em todo o mundo. Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
O dólar atingiu um patamar histórico nesta semana ao ser cotado em R$ 4,05. Apesar de não ser nossa moeda oficial, essa valorização da moeda norte-americana tem um impacto direto no cotidiano do consumidor. Diversos produtos deverão ter um aumento de preço, como o pãozinho francês, remédios, cosméticos e eletrônicos, alertam os especialistas.
Mas, afinal, por que dependemos tanto do dólar?
O dólar tem um impacto grande na economia mundial por que as reservas dos países estão nesta moeda. Além disso ela é usada como moeda de transações internacionais em todo o mundo. "Ela é bem aceita por oferecer mais garantia e menos incertezas que outras moedas", explica o coordenador da gradução em economia da Universidade Católica de Pernambuco, José Alexandre Ferreira. "Existem outras moedas consideradas fortes que são utilizadas em transações internacionais, como o euro e yuan, mas o impacto não é tão grande quanto o dólar", explica.
O dólar é regulado pelo próprio mercado, ou seja, por quem compra e vende a moeda. O Brasil adota o chamado câmbio flexível, que varia de acordo com a oferta e a procura. Outros países possuem câmbios diferentes e até intervêm com mais vigor na variação cambial. "O Banco Central libera dólares no mercado quando percebe que a alta dos preços está prejudicando a economia. O governo não admite explicitamente essa intervenção e esse assunto sempre gerou controvérsia em relação ao papel do BC nesse sentido", diz o professor.
RESERVAS MUNDIAIS -Desde a Segunda Guerra Mundial que os países adotaram o dólar como moeda forte na hora de compor suas reservas e fazer transações. Antes, o lastro do dinheiro que circulava no mundo era o ouro. Diversos países já investiram em alternativas para diminuir essa influência norte-americana, mas essas iniciativas não tiveram um impacto tão grande. "O Mercosul já utilizou moedas locais no comércio e os BRICS (Brasil, Rússia, Ìndia e China) vêm criando um banco único. Mas o impacto é baixo", disse o professor José Alexandre.
Nos EUA, o governo precisa lidar com muita cautela nas intervenções que faz na economia. O Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, pode aumentar os juros, que hoje estão no patamar quase zero, e isso acaba influenciando mercados como a Europa, que se recupera da crise e a América Latina, muito dependente das variações cambiais. "Os EUA controlam a moeda, mas eles não podem interferir tanto pois pode perder o nível de credibilidade. Os mercados tenderiam a adotar outra moeda mais forte."
HISTÓRICO DE ALTA - Desde que foi criado, o Real já sofreu outras crises cambiais. Em janeiro de 1999, o dólar custava R$ 1,12 e chegou a ser cotado a R$ 2,17. "Houve uma fuga muito grande de dólares e incerteza por parte dos investidores, como agora", lembra Alexandre. Em 2002, às vésperas da eleição de Luís Inácio Lula da Silva existiu um temor grande por parte do mercado do governo petista e a cotação chegou a R$ 4,00 (cerca de R$ 6,90 em valores de hoje). "Nos dois casos, o mercado usou seus mecanismos para se acomodar e se adaptar", disse.
O economista do Centro de Desenvolvimento Empresarial de Pernambuco (Cedepe) disse que o momento atual é mais crítico. "Após a eleição de Lula tínhamos a expectativa de momentos melhores apesar do temor inicial. Hoje não temos perspectiva. Estamos vivendo um horizonte opaco, de muitas incertezas", disse. "E a melhora virá através do fim da instabilidade política e econômica. E não a ver com a saída da presidente Dilma, mas sim de propostas concretas de melhoria. Hoje não existe um projeto de Brasil, mas sim de manutenção de governo", completou.
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