Empoderamento

Mulheres usam a internet para denunciar abusos sexuais e machismo

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 07/03/2016 às 20:07
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Especialistas apoiam criação de campanhas mas convocam que mudança de comportamento saia das redes sociais e vá para a vida real / Foto: reprodução

Especialistas apoiam criação de campanhas mas convocam que mudança de comportamento saia das redes sociais e vá para a vida real Foto: reprodução

Relatos de machismo, abusos sexuais, inclusive nas escolas, e correntes de luta pelo fim da violência contra a mulher. Esses são apenas alguns dos temas das principais campanhas promovidas nas redes sociais, em especial Twitter e Facebook, por pessoas que defendem a segurança das mulheres brasileiras, além da punição para os autores desses abusos. 

A exposição dos casos, através de relatos muitas vezes emocionantes, têm se tornado frequentes por meio de hashtags que determinam o assunto a ser exposto. Essa prática, popularizada no último ano, tem o objetivo de alertar a população e mostrar que esses crimes são mais comuns do que se pensa.

No último ano, por exemplo, pelo menos cinco campanhas causaram grande envolvimento nas redes sociais: #MeuAmigoSecreto #MeuPrimeiroAssédio, #MeuNúmeroé180, #MeuProfessorAbusador e #VamosJuntas. Na maioria dos casos, os desabafos contam sobre algum tipo de abuso sofrido pela mulher em diversas faixas etárias.

Para a diretora geral de Enfrentamento da Violência de Gênero de Pernambuco, Bianca Rocha, essa disposição para expor situações antes guardadas como segredos está relacionado com uma mudança da sociedade em não aceitar a banalização da violência contra as mulheres. “Quanto mais a sociedade reconhece como crime esse tipo de violência (através do fortalecimento da Lei Maria da Penha ou do Feminicídio) que antes era banalizado, isso colabora para que as mulheres tenham mais força em denunciar, assumir os casos, dizer não para novas violências.”

Sobre a popularização do uso das hashtags, Bianca Rocha, que também é psicóloga, explica que a criação de um “espaço”, mesmo que virtual, no qual várias pessoas dividem suas experiências, faz com que outras vítimas se sintam mais à vontade para fazer o mesmo. “Na psicologia a gente sabe que quando se fala, se liberta (sic). Uma vítima que guarda o segredo por muito tempo sente a necessidade de falar o que viveu. Cada vez que fala daquilo é uma forma de se curar. A partir do momento que ela ressignifica essa necessidade de expor, ela deixa de lado o medo de ser julgada e ganha força para se expor. A rede social hoje é uma ferramenta em que as pessoas conseguem socializar suas experiência e ainda receber uma resposta, um retorno.”

Na opinião da advogada Jéssica Barbosa, assistente da equipe de Direitos das Mulheres da Actionaid no Brasil, esse tipo de campanha é importante, mas precisa virar o primeiro passo para que essas ações saiam das redes sociais para a vida real: "Esse tipo de campanha é muito positivo, é como se o Facebook estivesse oportunizando as mulheres a falar e ver que outras também passaram por aquela situação. Algumas mulheres não compartilham suas dores e isso as encoraja, mas também é importante ressaltar que é preciso sair do online para trazer para nossa prática de vida, trazer para o real. Precisamos passar a ter mais solidariedade com as mulheres da nossa comunidade". A Actionaid é uma organização internacional que combate à pobreza presente em 45 países, e trabalha com o tema de direitos das mulheres. 

CONFIRA AS CAMPANHAS GERAS ATRAVÉS DAS HASHTAGS:
Após comentários sexualizados em torno de uma participante do Masterchef Jr, os internautas foram convidados a falar sobre a primeira vez que sofreu algum tipo de abuso sexual. Estima-se que a hashtag tenha sido replicada mais de 100 mil vezes no Twitter.  

#primeiroassedio Eu tinha 11 anos e um homem por volta dos 50 que morava no mesmo bairro que eu, passou por mim, eu de...

Posted by Zaíra Alves Magalhães Pires on Quinta, 22 de outubro de 2015

Na época de fim de ano, quando são realizadas festas de “Amigo Secreto”, mulheres usaram essa hashtag para denunciar atitudes machistas que passam despercebidas no dia a dia. O termo foi usado mais de 170 mil vezes, apenas no Twitter.  

Uma página criada no Facebook reuniu depoimentos sobre pessoas que sofreram algum tipo de abuso ou assédio sexual de professores nas escolas e universidades. Em menos de uma semana, mais de 600 casos foram relatados. Dados da ActionAid, organização que, entre outros assuntos, trabalha com o tema de direitos das mulheres, revelam que 27,5% das brasileiras que estudam já sofreram algum tipo de assédio na escola.  

#625 "Tive problemas desse tipo com alguns professores, especialmente em cursinhos. Não achei que fosse ter em grupos de...

Publicado por Meu Professor Abusador em Quarta, 24 de fevereiro de 2016
Durante o Carnaval foi lançada uma campanha para repelir os casos de violência contra as mulheres no período de folia. A proposta era de que se um homem tivesse uma abordagem violenta, a vítima deveria responder #MeuNúmeroé180, número através do qual as mulheres podem denunciar caso de violência em todo o País.


Uma comunidade no Facebook chamada Vamos Juntas convida mulheres a andarem juntas, se forem para o mesmo destino, com o objetivo de tornar o caminho menos inseguro. No entanto, as internautas aproveitaram para dividir suas experiência, em geral, momentos de susto por serem perseguidas nas ruas. Ainda segundo um levantamento da Actionaid, cerca de 74% das mulheres já desviaram seu trajeto por conta da escuridão da rua e outros 70% já deixaram de sair de casa em determinado horário com receio de sofrer algum tipo de assédio ou violência.

Sozinha nunca mais!

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