Consumo compulsivo

Consumo compulsivo e suas consequências

Emy Santos
Emy Santos
Publicado em 10/07/2016 às 15:00 | Atualizado em 13/08/2020 às 12:24
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Pessoas que desenvolvem o transtorno são eternos insatisfeitos e estão sempre ansiosas pela próxima compra / Foto: AFP

Pessoas que desenvolvem o transtorno são eternos insatisfeitos e estão sempre ansiosas pela próxima compra Foto: AFP

 

Compras por impulso, gastos acima das possibilidades, aquisição de produtos repetidos sem necessidade, irritação com a impossibilidade de compra, prejuízos financeiros em decorrência do excesso de gastos e sentimento de culpa após o consumo. Alguma dessas sensações lhe parece familiar? Pois elas são sintomas característicos de um comprador compulsivo.

O consumo compulsivo, também chamado de oniomania, é um transtorno causado pela ansiedade desencadeada pela necessidade de compra, saciada apenas quando a aquisição do produto acontece. De acordo com Sylvio Ferreira, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), "o comprar compulsivo é uma espécie de círculo vicioso: quanto maior a ansiedade, maior é o desejo de compra, quanto mais se compra, maior é o desejo de consumo”. A oniomania parte do mesmo princípio da compulsão alimentar, uma neurose caracterizada pela repetição de um ato impulsivo.

CAUSAS - O comportamento de um comprador compulsivo está relacionado ao desejo de preencher vazios, insatisfações com a vida; e, na tentativa de amenizar sentimentos de angústia, o consumo é realizado repetidamente. "A psicanalise explica que o desejo compulsivo pelo consumo é um apelo inconsciente para a compensação de um vazio. Uma busca imediata para compensar uma carência afetiva", diz o psicologo Sylvio Ferreira.

No entanto, o ato de comprar propõe ao comprador um prazer momentâneo, isso porque em pouco tempo é percebido que os problemas permanecem, acrescido do sentimento de culpa e arrependimento, além da preocupação em como pagar ou resolver as consequências do descontrole financeiro. Pessoas que desenvolvem o transtorno são eternos insatisfeitos e estão sempre ansiosas pela próxima compra.

Consultora em finanças e autora do livro "Virada Financeira", Patrícia Lages explica que o fato de vivermos numa sociedade de consumo, tende a glamorizar os excessos, na qual o “ter” está acima do “ser". A velocidade com que as coisas ficam obsoletas também colabora para que o consumo seja mais frequente. Quando sai um novo modelo de celular, por exemplo, todos os itens que o antecede ficam ultrapassados, mesmo que tenham sido comprados há poucos meses. Logo, você vale o que possui. O uso do cartão de crédito é supervalorizado, assim como o estímulo desenfreado ao consumo.

LIMITES - Diferente do consumidor consciente, o consumidor compulsivo não consegue para de pensar em comprar, adquire produtos sem necessidade, se endivida e esconde o que compra da família para não receber críticas, mergulhando em uma autodefesa de negação, com total dificuldade de se reconhecer como consumidor compulsivo.

A oniomania atinge uma quantidade de pessoas cada vez mais crescente."Sou consumidora compulsiva devido a um histórico de ansiedade. Sempre que entro em uma loja sinto vontade de comprar, não porque preciso, mas pelo prazer de adquirir. Geralmente, os produtos que eu consumo são livros e CDs, compro muita comida também, fast food é o que me mantém. Chego em casa com os produtos embalados e não costumo mostrar a minha família, porque na maioria das vezes meus pais julgam ser gastos desnecessários”, revela a estudante Carol Souza, 22 anos.

Já a microempreendedora R.B., 41, não considerava que comprar demais fosse algo tão grave, até chegar no limite. "Eu não consigo dormir tranquilamente por causa do volume de dívidas que tenho. Fico muito iludida com propagandas comerciais e compro sem pensar no amanhã, mas depois vem o arrependimento e as dívidas. Os produtos que compro ficam lá, escanteados, acabo nem fazendo uso, dinheiro jogado fora. Eu tento mudar essa situação, mas parece um ciclo vicioso. É tudo uma bola de neve agora, meu casamento vai de mal a pior. Eu sinto muita vergonha de tudo". Por isso não quis ser identificada na matéria.

TRATAMENTO - Se um paciente for diagnosticado como oniomania, deverá ter acompanhamento médico. Tentar fazer um controle por si só, sem um acompanhamento profissional pode ser bem complicado, pois já não se trata só de deixar de comprar. Logo, a psicoterapia é a solução. O psicólogo Sylvio Ferreira, explica que o tratamento é similar ao de qualquer outro vício, como álcool e drogas. Na terapia o paciente poderá entender os motivos que o levam a comprar, aprender formas para lidar com os sentimentos e problemas da vida de formas diferentes e meios para evitar a recaída neste padrão de funcionamento.

A especialista em consultas de finanças Patricia Lages explica quais são os riscos enfrentados por consumidores compulsivos: "São riscos semelhantes aos de pessoas com outros tipos de vícios como: ter problemas familiares, perder o crédito devido à quantidade de dívidas, perder sua credibilidade diante das pessoas e até problemas no casamento".

ONIMOANIA NO CINEMA - Veja alguns filmes relacionados ao tema:

 

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Delírios de consumo de Becky Bloom - Filme do gênero comédia romântica, lançado em 2009. Rebecca Bloomwood (Isla Fisher) é uma garota com compulsão por compras. Seu vício a leva à falência. Por ironia do destino, Rebecca acaba conseguindo um emprego numa revista sobre finanças e escreve para pessoas comuns sobre finanças pessoais enquanto foge desesperadamente de cobradores que a perseguem por suas dívidas.

 

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Rosalie vai às compras - Filme do gênero comédia, lançado em 1989. No filme o cineasta Percy Adlon abordou, de forma irônica, a contradição entre o consumismo e o poder aquisitivo do trabalhador. Nesta sátira, a protagonista Rosalie, uma dona de casa alemã, adota uma postura exageradamente consumista e foge das contas e dos pagamentos.

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