Dietas com shake

Médicos divergem sobre consumo de shakes para emagrecer

Mariana Dantas
Mariana Dantas
Publicado em 11/09/2014 às 20:48
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A facilidade e o desejo de perder peso levam muitos ao consumo excessivo dos shake / Foto: Freeimages

A facilidade e o desejo de perder peso levam muitos ao consumo excessivo dos shake Foto: Freeimages

Na corrida contra a balança, muitas pessoas optam pelos shakes e chás que prometem emagrecimento rápido. Saborosos e práticos, os produtos vendidos como substitutos parciais de alimentos são encontrados facilmente em casas conhecidas como "espaços de vida saudável", farmácias ou através de distribuidores independentes. A facilidade e o desejo de perder peso levam muitos ao consumo excessivo dos shakes, sem acompanhamento médico e uma dieta balanceada. Os resultados são sérios prejuízos à saúde e carências de vitaminas.

Segundo a nutricionista do Hospital Memorial São José, Steffany Agnnes, os shakes têm uma quantidade incompleta de nutrientes e não fornecem toda a energia que o organismo necessita para se manter equilibrado. "Na minha opinião, nada substitui uma refeição. Nenhum alimento é completo, cada um possui nutrientes diferentes e por isso é preciso ter uma alimentação diversificada. Não acredito que os shakes substituam isso, sem contar que esses produtos não incentivam a reeducação alimentar", afirma Steffany.

Em 2008, o Journal of Hepatology publicou artigo contra a Herbalife

Em 2008, o Journal of Hepatology publicou artigo contra a HerbalifeFoto: Divulgação

A nutricionista também questiona o alto teor de proteína em alguns shakes. "A Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) fez um levantamento com algumas marcas e constatou que os produtos apresentam até 32% de proteína, quando o recomendado é de 10% a 15%. Este excesso compromete o metabolismo sobrecarregando algumas funções importantes, como a renal e a hepática", explica.

A jornalista Cristina Almeida*, 21 anos, foi diagnosticada com hepatite medicamentosa no início deste ano. A substância exata que causou a inflamação no fígado não foi identificada, mas há suspeitas de que a doença tenha sido provocada pelo consumo de shake da marca Herbalife. Cristina, que é uma pessoa sedentária, começou a utilizar o produto em setembro do ano passado, quando conseguiu perder 9 quilos em três meses (tinha 87kg e ficou com 78kg). Em janeiro ela voltou a tomar o shake, que substituía duas das suas três principais refeições. "Como estava muito estressada com o estágio e o projeto de final do meu curso, tomava o shake no almoço e jantar", conta. 

No final do mês de fevereiro, Cristina passou a sentir fortes dores de cabeça, enjoos e coceira no corpo. "Depois de identificar que eu estava com hepatite, o médico passou exames para descobrir o seu tipo (A,B ou C). Todos deram negativo e nenhum outro tipo de vírus foi identificado. Por eliminação, a hepatite foi provocada por intoxicação e o único produto que eu tomava na época era Herbalife. Cortei o consumo e fiquei curada", afirma a jornalista que hoje pesa 84kg.

A gastro hepatologista Sylene Rampche, do Instituto do Fígado de Pernambuco (IFP), confirma que nos casos de hepatite medicamentosa, às vezes é difícil identificar o agente causador da intoxicação. “Trabalhamos com a exclusão do possível agente tóxico. Já recebi em consultório pacientes com hepatites leves e alterações de transaminase e que consumiam shakes e chás. Como não temos conhecimento sobre a fórmula e composição, prefiro orientar a interrupção do consumo", explica a médica.



Em 2008, o Journal of Hepatology, um das revistas científicas mais conceituadas no mundo, fez uma publicação sobre a ocorrência de 12 casos de problemas hepáticos provocados pelo consumo de Herbalife, na Suíça e em Israel. O estudo relacionou o uso de produtos da marca a lesões hepáticas graves, como morte de células ou parte do tecido do fígado (necrose) e inflamação do fígado (hepatite). A publicação provocou alerta e pedidos de explicações em vários países, incluindo o Brasil. Na época, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou os processos de todos os produtos registrados no País pela empresa Herbalife. 

MÉDICO DEFENDE - “Às vezes a pessoa já tem um problema hepático, provocado pelo excesso de gordura no fígado, e acha que foi o shake. Em primeiro lugar, é importante lembrar que Herbalife não é medicamento e sim alimento, considerado como substituto parcial de refeição, consumido por 3,9 milhões de pessoas no mundo. Além disso, o produto não faz mal para o fígado. Prova disso é que a empresa colocou à disposição das autoridades de todos os países o processo de fabricação e ingredientes e a sua comercialização continua autorizada pela Anvisa”, afirma o médico especialista em nutrição e pediatra Nataniel Viuniski.

Nataniel defende e consome o produto e afirma que a Herbalife segue as exigências da Anvisa (portaria 30/1998), sendo considerado um substituto parcial de refeição, com porção calórica entre 200 kcal e 400 kcal, e que respeita as quantidades de proteínas, carboidratos e outros nutrientes exigidos pela portaria.

Amanda Souza acredita que os shakes são saudáveis

Amanda Souza acredita que os shakes são saudáveis Foto: acervo pessoal

Questionado se o shake é tão rico em nutrientes como as frutas e verduras, o médico disse que não gosta de fazer comparações com os alimentos tradicionais. “Para quem já tem uma alimentação balanceada e saudável, eu não indico o uso de shakes. Mas existem pessoas que, por exemplo, não tomam café da manhã e durante o dia consomem frituras e fast-food. Neste caso, é melhor tomar o shake,” explica, lembrando que a pessoa pode substituir o produto por duas das três principais refeições (café, almoço e jantar), se a intenção é perder peso. “Uma das refeições deve ser feita com alimentos tradicionais, saudáveis e equilibrados. Os três lanches nos intervalos também são importantes”, afirma.

Segundo Nataniel Viuniski, antes de optar pelo susbtituto alimentar, é recomendável consultar um profissional de saúde. “O produto é indicado para adultos saudáveis. Esse grupo não engloba crianças, idosos, pessoas com diabetes ou pressão alta, além de gestantes e lactantes”, alerta o médico especialista em nutrição.

A analista contábil Amanda Souza, 27, conta que conseguiu perder cinco quilos em um mês com Herbalife. "Me sinto até mais disposta quanto tomo o shake. Acho que é importante seguir as orientações do produto. É o que procuro fazer e por isso não tenho medo", afirma.

* A jornalista preferiu não divulgar o nome, que foi substituído pelo nome fictício de Cristina Almeida.

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