EDUCAÇÃO

Toda idade é a melhor idade para aprender inglês

Mariane Monteiro
Mariane Monteiro
Publicado em 26/07/2019 às 8:00
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Crianças tendem a absorver idiomas mais facilmente, mas adultos entendem a importância e se dedicam mais ao aprendizado. / Foto: Débora Claro

Crianças tendem a absorver idiomas mais facilmente, mas adultos entendem a importância e se dedicam mais ao aprendizado. Foto: Débora Claro

Os quatro filhos da médica anestesista Nelbe Cyreno, 62 anos, estudaram inglês desde muito cedo. Os dois mais novos, por exemplo, entraram no curso ainda na alfabetização. Hoje em dia, já adultos, aproveitaram oportunidades trazidas pela fluência e usam o idioma no cotidiano, seja porque moram fora do país ou porque trabalham em multinacionais. Mas Nelbe mesmo só foi começar a aprender inglês bem mais tarde: aos 60.

Apesar de valorizar o aprendizado de novas línguas e de ter feito questão de que os filhos fossem fluentes em inglês desde cedo, para não perder oportunidades, Nelbe chegou à terceira idade se comunicando apenas em português. Foi na aposentadoria que finalmente foi atrás do que sempre quis. Com esse empenho, a idade e o suposto “tempo perdido” não a impediram de começar. “Eu me perguntava ‘será que eu consigo?’ E fui me entusiasmando”, afirma.

A intenção inicial de Nelbe era viajar sem precisar da ajuda de ninguém e compensar todas as limitações que sentiu durante a vida adulta por não falar inglês. Agora, faz das aulas um momento de descontração, aprendizado e exercício cerebral. A turma dela, na Cultura Inglesa, de Olinda, é formada por outras três mulheres na mesma faixa etária.

Cultura Inglesa

Christopher John Thirlaway defende que nunca é tarde demais para começar a
aprender inglês.

“Estou descobrindo uma coisa que para minha idade faz muito bem. É toda uma geração de jovens senhoras que ainda têm muito para viver”, conta. A unidade já conta com duas turmas voltadas para a terceira idade.

Diretor Acadêmico de uma das unidades da Cultura Inglesa no Recife, Christopher John Thirlaway defende que nunca é tarde demais para começar a aprender inglês. “Mas especialistas dizem que também nunca é cedo demais”, balanceia. O argumento é que as crianças estão em um momento onde tudo é aprendizado, elas absorvem grandes quantidades de informações e há estímulos por todos os lados. “Essa é a melhor hora para introduzi-las a novas linguagens, porque estão aprendendo sobre tudo ao seu redor, novos sons, novas intonações, e processando informações”, alega.

O que Christopher observa no aprendizado dos estudantes da escola de idiomas, de fato, é o que embasa o trabalho do doutor em Ciências da Linguagem e coordenador do curso de Letras da Unicap, Antonio Henrique Coutelo de Moraes. De acordo com o especialista, embora as pesquisas indiquem que a melhor idade para começar a aprender uma língua seja antes dos 10 anos, na verdade não há idade certa para aprender um idioma. Qualquer um, a qualquer altura da vida, pode aprender a se comunicar em outra língua.

“As explicações científicas variam. Alguns atribuem à facilidade infantil a uma ‘janela crítica’ dos dois aos quatro anos, fase em que a criança está aberta a certos tipos de experiências durante a formação de seu cérebro. Outros atribuem à sua plasticidade cerebral, outros acreditam que se deve ao Dispositivo de Aquisição de Linguagem sugerido por Chomsky”, explica.

Cultura Inglesa

Como as crianças estão em um momento onde tudo é aprendizado, a aquisição da língua fica mais fácil para os pequenos.

Fluência e proficiência

João Adeodato é um dos filhos de Nelbe e também aluno da Cultura Inglesa. Aos 26 anos, seu discurso coincide bastante com a visão de Christopher. “Eu nunca soube o que é não falar inglês. Comecei a estudar aos seis anos e isso fez uma diferença absurda em questão de fluência para mim. Aos 16 anos, já tinha dez anos de inglês nas costas, já tinha feito exames de proficiência, o que me ajudou muito”, ressalta.

João Adeodato

João Adeodato começou a estudar inglês ainda criança e isso fez a diferença na sua
carreira profissional.

Outro fator que pode contribuir para a rapidez do aprendizado é o fato de as crianças serem mais espontâneas, enquanto adultos tendem a ser mais reservados e envergonhados na hora de praticar em público, o que pode causar bloqueio. “Quando mais novas, as crianças não têm o mesmo nível de timidez. Se eles falarem algo errado, vão continuar mesmo assim. Mas quando vamos ficando mais velhos, existe certa vergonha”, continua Adeodato. Sem contar com a quantidade de tarefas e obrigações que a vida adulta traz, tornando mais escasso o tempo e a disponibilidade para o aprendizado de um novo idioma.

Nelbe até concorda com esse argumento – esperou até a aposentadoria para finalmente poder direcionar recursos financeiros e emocionais para se dedicar a aprender algo novo. Mas a maturidade também traz a responsabilidade e dedicação que o jovem nem sempre usa com o mesmo discernimento. “Acho que agora tenho mais determinação. A gente, como tem certa disponibilidade de tempo, absorve mais”, acredita.

A satisfação que Nelbe sente hoje em dia, podendo estudar a língua, é resultado de uma dedicação que também surge como um novo desafio para essa nova etapa da vida. Coutelo, coordenador do curso de Letras da Unicap, também fala sobre os benefícios para além da aquisição de uma novo idioma.

“Aprender uma língua estrangeira após ingressar na vida adulta pode ser um desafio, principalmente devido a mudanças sociais: ingresso no mercado de trabalho, ritmo de vida acelerado, interesses, prioridades. Além disso, quanto mais tarde começamos a aprender uma língua, mais interferência ela sofre da primeira língua. Junte-se a isso questões físicas, como a acuidade auditiva... Então, pode-se dizer que aprender uma língua na terceira idade representa um desafio, mas não é impossível e deve ser estimulado. Afinal, ajuda a exercitar o cérebro, pode significar a retomada de um projeto adiado e, com certeza, gera satisfação de aprender”, explica o especialista.

Já em outra faixa etária, o consultor empresarial e ex-aluno da Cultura Schwarzenegger Masceno dos Ramos pensa da mesma forma. O caso dele é um meio termo entre o de Nelbe e o de João – ele aprendeu inglês no fim da adolescência, aos 17. “Percebi que o senso de responsabilidade quando se é mais velho te ajuda a se dedicar mais. Na minha turma, tem pessoas mais novas que não conseguiam evoluir tanto quanto os mais velhos, justamente por causa da dedicação fora da sala de aula. Começar cedo pode te ajudar a alcançar a fluência, mas ajuda muito mais o quanto você se dedica além da aula”, afirma.

Nelbe e Masceno, portanto, são a prova de que é possível, sim, e que as limitações da idade não são impedimento algum. “Ainda sou aprendiz, mas estou chegando perto. Já assisto a filmes com legenda em inglês. Você sabe a emoção de abrir um livro e não precisar de um tradutor junto? É muito boa. Há dois anos eu parti do zero, e digo a você que sou uma prova viva de que não tem idade para aprender. Eu me sinto muito mais livre dominando outro idioma. Somos capazes”, conclui Nelbe.

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