Isabel relatou que uma grelha era usada para preparar a carne da vítima Foto: Luiz Pessoa/NE10
"Não participei da morte de Jéssica, apenas ajudei a ocultar o cadáver. Quem esquartejou foi Jorge", relatou à juíza Maria Segunda. Segundo a acusada, a ideia inicial do trio era apenas ficar com a filha da vítima. "Não chamei para nenhum trabalho não. Chamei apenas para ela morar com a gente e para cuidar da criança na nossa casa. Jéssica queria um lar para morar, então eu tive a ideia de levá-la para casa", afirmou a ré, contrariando os depoimentos dados à Polícia Civil na época da descoberta do crime, nos quais o trio afirmou que a jovem havia sido contratada como doméstica.
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Questionada pela promotora Eliane Gaia se chegou a preparar coxinhas e empadas com carne humana para vender, Isabel negou, diferentemente do que disse à polícia na época das investigações. Isabel justificou que inventou essa mentira para ser transferida para o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP).
Por diversos momentos durante as perguntas feitas pela juíza Maria Segunda, promotora do MPPE (Ministério Público de Pernambuco) Eliane Gaia e pelos advogados de defesa, Isabel afirmou ser dependente emocional de Jorge Beltrão. "Eu tinha muita amizade com ele. Mas também tinha muita independência emocional. Por isso que fazia essas coisas", alegou. A juíza voltou a insistir na questão em vários momentos do interrogatório. "A senhora não teve chance de contar às autoridades?", perguntou Eliane Gaia. "Sim, mas eu nunca conseguia. Eu era muito dependente dele emocionalmente", afirmava a ré, que por diversos momentos parava de falar por nervosismo.
No questionamento feito por Eliane Gaia, divergências nos depoimentos começaram a surgir. Sempre muito incisiva, a promotora afirmou à mais velha do trio que Jorge havia dito em julgamento que quem entregou a faca - objeto usado no assassinato de Jéssica - havia sido Isabel. "Jorge disse que foi a senhora que entregou a faca para ele. Se não foi a senhora, então ele está mentindo? Então ele não te ama, dona Isabel", alegou. Confusa, a ré demorou alguns instantes para responder e terminou por dizer: "Ou então ele não se lembra."
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Isabel Cristina também confessou à promotora que a criança havia, sim, comido da carne da própria mãe. Questionada, divagou e disse: "Porque ela já estava lá (na casa) e fazia parte da família". A promotora perguntou ainda como a carne era preparada. "A gente usava uma grelha", afirmou.
Outra questão levantada foi um suposto abuso sexual sofrido pela menor, acusação prontamente negada pela acusada. "Levamos ela para a médica, que disse que havia uma ruptura. Houve abuso sexual, mas não foi da gente. Ela já tinha passado pela mão de muita gente", alegou. Na época do crime, a menina tinha apenas 1 ano.
Em todo momento, vítima alegou dependência emocional de Jorge Foto: Luiz Pessoa/NE10
DEFESA - O advogado Paulo Sales, advogado de defesa da interrogada, usou do seu tempo de perguntas para confirmar com Isabel Cristina que quem idealizou a seita denominada O Cartel foi Jorge Beltrão. A defensora pública Tereza Joacy, designada para defender Jorge, usou a estratégia de fazer perguntas sobre as constantes idas de Jorge ao Caps (Centro de Atenção Psicossocial), os diversos tratamentos com psiquiatras e o estado emocional conturbado que o acusado assumia quando ficava sem tomar a medicação prescrita.
Já a defesa de Bruna fez diversas perguntas sobre o relacionamento de Jorge Beltrão e Bruna Cristina. A pressão emocional também foi um ponto tocado pelos advogados. "Dona Isabel, Jorge exercia algum poder emocional sobre vocês?". Ao afirmar que Jorge exercia, sim, pressão sobre as duas, a defesa continuou: "Então ele acabava convencendo vocês a fazer o que ele queria?". A acusada voltou a dizer que sim.