Transporte

Sem terminal, pegar Vasco da Gama/Afogados é um verdadeiro transtorno

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 03/11/2015 às 17:15
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Rua ao lado da UPA é um dos três lugares onde os ônibus geralmente ficam estacionados / Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Rua ao lado da UPA é um dos três lugares onde os ônibus geralmente ficam estacionados Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Já imaginou ter que pegar um ônibus que não tem ponto definido? Seria um transtorno, não é? Mas essa é a realidade dos moradores de Nova Descoberta, bairro de 34 mil habitantes na Zona Norte do Recife, que dependem da linha 680-Vasco da Gama/Afogados. Um dia, o ônibus para em um lugar da rua. No seguinte já é diferente. O terminal, na Avenida Vereador Otacílio Azevedo, é improvisado há mais de 20 anos, obrigando fiscais, motoristas e cobradores a usar um banheiro sem condições mínimas de higiene, além de não terem onde estacionar os veículos entre uma viagem e outra. É um retrato da desordem vista todos os dias pelos usuários do transporte coletivo na Região Metropolitana, principalmente no subúrbio.

Essa barraca azul é o espaço para os rodoviários

Essa barraca azul é o espaço para os rodoviáriosFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Uma barraca de alumínio com poucos metros quadrados é o único espaço disponível para o fiscal e motoristas e cobradores de oito veículos da linha - quatro são da empresa Globo e quatro da Pedrosa, cuja garagem é quase em frente ao "terminal". Na verdade, esse é apenas um espaço alugado pela Pedrosa para os funcionários, já que, segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte, não há realmente um terminal; o que funciona oficialmente é apenas o ponto final. Não há sequer espaço para isso ou previsão do órgão para a construção em outra localidade. A Pedrosa afirma que a solução encontrada foi oferecer a garagem como área de apoio para os rodoviários e como ponto de ônibus.

O banheiro atual, de tão apertado, quase não tem espaço para entrar - veja na foto abaixo. "Em tempos de calor é muito ruim, fica ainda pior", reclama o fiscal Antônio da Silva, 58, que exerce a função há 34 anos. O servente de operações Lázaro Gonçalves, 41, afirma que sempre leva a dificuldade aos supervisores, mas a questão nunca foi resolvida. "É burocracia demais. A gente aguarda, aguarda, e vai levando do jeito que está mesmo", lamenta. Para ele, esse é um dos piores terminais da Região Metropolitana.


Quem gostaria de usar esse banheiro no trabalho? Ninguém (Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito)

Os motoristas da Vasco da Gama/Afogados ficam sem saber onde deixar os ônibus até a próxima viagem, já que, se estacionassem em frente ao ponto final, bloqueariam o trânsito já complicado na avenida de mão dupla, prejudicando até o acesso à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do local. Assim, os veículos geralmente ficam na calçada da via, cerca de 20 metros após a unidade de saúde, na rua ao lado ou ainda na garagem da Pedrosa. "É muito ruim. Se a gente deixa na calçada, corre risco de ser multado. Quando para na rua, engarrafa tudo. O problema de ter que ir para a garagem é que às vezes a gente tem pouco tempo para isso", relata o motorista Silas de Oliveira, 47, que atua na linha há três anos.

Ônibus também costumam parar na avenida

Ônibus também costumam parar na avenidaFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Se é ruim para os profissionais, a desordem não traz menos transtornos para os passageiros. A cabeleireira Gleyce Maria Ferreira, 32, já perdeu as contas das vezes em que perdeu o ônibus por estar esperando em um ponto e o veículo sair do outro. "São três lugares. Quando sai da garagem, o motorista às vezes vem até a frente da UPA chamando, mas esquece quem fica ali (na rua ao lado), que perde e tem que esperar pelo menos mais meia hora. Se vamos perguntar lá, muitas vezes somos tratados com ignorância e ficamos sem saber a hora e o lugar que vai sair", denuncia.

O intervalo deveria ser de 15 minutos entre uma viagem e outra, mas não é a realidade para o aposentado Severino José da Hora, 65. "Já estou há mais de 40 minutos esperando. Dizem isso, mas só sabe quem espera", afirma. "Às vezes demora tanto que pego outro. Uma vez, depois de esperar mais de uma hora, preferi pegar dois de outras linhas para chegar à Rua da Harmonia", conta. "Tive que pagar duas passagens, podendo gastar só uma vez, se ele passasse na hora certa", reclama a esposa dele, Jauciara Santos, 57. A tarifa do Vasco da Gama/Afogados é a A, que custa atualmente R$ 2,45.


Fiscais são os que mais reclamam das condições do "terminal" (Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito)

O Sindicato dos Rodoviários já visitou o terminal e verificou os problemas. "Lá tem risco grave de vazar corrente elétrica", acrescenta o assessor de comunicação da entidade, Genildo Pereira. "Só tem uma solução: retirar o terminal de lá e conseguir um local. O ideal seria levar para o Alto do Eucalipto", defende. O sindicato afirmou que enviará um ofício para o Grande Recife Consórcio de Transporte reivindicando a transferência do ponto final. Porém, até lá, os problemas deverão continuar.

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