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Pais de vítimas e agressores devem ficar atentos aos sinais de bullying e agir

Karol Albuquerque
Karol Albuquerque
Publicado em 21/09/2016 às 22:05
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Para identificar se o filho é vítima de agressões é preciso observar o comportamento da criança / Foto: Free Images

Para identificar se o filho é vítima de agressões é preciso observar o comportamento da criança Foto: Free Images

Vítimas de bullying no momento atual são constantemente confrontadas com a máxima de que “isso não existia na minha época”. Alguns afirmam que era brincadeiras, apenas uma graça com o coleguinha. Mas, essas pessoas já chegaram a perguntar aos apelidados se realmente achavam que era brincadeira? Repetir isso, principalmente para os filhos, pode prejudicá-los ainda mais quando são constantemente importunados no ambiente escolar.

O problema já é amplamente discutido, mas as ações ainda são escassas, de acordo com a psicopedagoga Jojemima Mesquita. Segundo a profissional, o mal precisa ser cortado pela raiz: é ainda na infância, entre os 2 e 5 anos, que o bullying dá seus primeiros sinais. A criança que pratica, inclusive, pode sofrer dentro de casa situações semelhantes e, por esse ser o exemplo, passa a incomodar os coleguinhas.

Para que os pais identifiquem que o filho é vítima de agressões verbais é preciso observar o comportamento da criança. A psicopedagoga destaca, entre os “sintomas”, o isolamento e a falta de vontade de ir à escola. “Se instala uma ansiedade, um medo, fala que a professora é chata, todas as vezes que dá o horário da aula sente dor de barriga, sente indisponibilidade”, elucida Jojemima Mesquita.

E, quando o problema é deixado de lado na educação infantil, ele se fortalece na adolescência.  “A adolescência guarda arquivos cognitivos que ele traz da infância e isso passa a ser revisto”, explica. Vítimas quando criança são potenciais agressores na fase seguinte da vida.

A professora Deyse Montenegro utiliza a sala de aula para trabalhar com os alunos o bom convívio. “Procuro realizar atividades educativas com os alunos, fazendo um trabalho preventivo a respeito do bullying”, disse. Ainda assim, algumas vezes ela precisa intervir nas situações. “Converso bastante com os meus alunos sobre o tema, passo a minha experiência e tento sensibilizá-los, fazendo com que eles se coloquem no lugar dos colegas”, relata a professora.

Ela tem uma boa razão: já esteve do outro lado. Quando era adolescente, no fim da década de 1990, Deyse passou a praticar o bullying contra colegas de sala. “Brincadeiras, musiquinhas e apelidos (tudo isso feito constantemente) fizeram com que eu me reconhecesse no papel de agressora. Para minha surpresa, eu só vim dar conta disso quando estava na faculdade, com quase 20 anos”, destaca a professora.

Ao se aprofundar no tema, Deyse passou a se questionar sobre a garota que ela e o resto da turma incomodavam. Decidiu procurá-la. “Minha maturidade se dava conta do quanto eu e meus amigos poderíamos ter prejudicado a formação daquela menina e eu queria pedir desculpas”, disse. A então vítima da professora achou estranho o pedido, por ser algo do passado, mas agradeceu.

Os agressores, segundo a psicopedagoga Jojemima Mesquita, também requerem atenção e acompanhamento. “Quem pratica precisa de olhar, porque ele busca atenção, quando ele agride ele pede socorro”, disse. O não solucionamento pode acarretar desvios de caráter em convivência social para o valentões e baixa autoestima nos subjulgados.

Passados vinte anos, a jornalista Isabela Dias não teve, ainda, a mesma sorte que a vítima de Deyse, mesmo que os agressores de outrora saibam como encontrá-la. Ela sofreu a “violência constante sem motivo aparente” (significado da palavra de língua inglesa bullying). O incômodo chegou a prejudicar o desempenho escolar dela, que repetiu de ano por não conseguir manter o foco. A queda no rendimento acadêmico é um grande resultado do bullying, segundo Jojemima.

Quando os pais dela se reuniram com os docentes, porém, apenas o aproveitamento foi citado. Isabela foi ridicularizada por quatro anos, até o momento em que reprovou, no ensino médio. Não eram só os apelidos. “Colavam papéis nas minhas costas, com coisas do tipo ‘sou feia’”, relembra.

Para se encaixar,  jornalista pedia para ter roupas caras, mudar o cabelo e chegou até a procurar um endocrinologista para engordar. “Sempre fui magrinha e colocavam apelidos diversos . Eu tinha vergonha das pessoas e onde estudei, por ser um colégio com pessoas de classe alta, as pessoas formavam grupos e eu me sentia excluída, porque não usava as roupas de marca e não fazia parte desses grupos”, relata Isabela. 

Mãe de Rafael Dias, de 16 anos, a jornalista ensina ao filho adolescente o respeito às diferenças “Quero que ele trate as pessoas como gostaria que fosse tratado e que conte qualquer agressão ou xingamento feito a ele. Tenho cuidado para que comente qualquer coisa feita com ele”, garante Isabela.

As reações de Deyse e Isabela, depois de estarem em ambientes permeados pelo bullying devem ser tomadas como exemplos. Jojemima Mesquita assegura: os pais precisam confiar nos relatos dos filhos e ir até a escola, que deve intervir.

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