Insegurança

Após mais uma fuga no Aníbal Bruno, o sentimento é de cada um por si e o Estado por ninguém

Ingrid Cordeiro
Ingrid Cordeiro
Publicado em 23/01/2016 às 17:58
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Ruas ficam vazias e moradores apreensivos a cada anúncio de fuga no Curado. / Foto: Ingrid Cordeiro/ NE10

Ruas ficam vazias e moradores apreensivos a cada anúncio de fuga no Curado. Foto: Ingrid Cordeiro/ NE10

Diferentemente do que muitos possam pensar, morar nos bairros que se encontram ao redor do Complexo de Presídios do Curado, antigo Aníbal Bruno, Zona Oeste da Região Metropolitana do Recife, traz tensão, mas não chega a assustar. Moro no bairro vizinho de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, desde que nasci e já perdi as contas de quantas vezes vi o helicóptero da SDS sobrevoando minha casa e a de tantos amigos em inúmeras fugas e rebeliões no presídio. 

É fato que as pessoas ficam mais apreensivas a cada anúncio de mais uma fuga, no entanto quando se mora em bairros próximos, lidar com isso se torna (infelizmente) uma banalidade. Quando criança não entendia muito bem o meu pai e minha mãe me pedindo para fechar as portas e não sair de casa numa tarde de sábado como esta de hoje (23). Logo o sábado, aquele dia em que a gente se reunia na frente da casa de minha avó para papear como em todo bairro residencial se faz.

Ingrid Cordeiro/ NE10
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Os anos foram passando e mais rebeliões acontecendo. Eu desisti de fechar a porta e parece que os meus vizinhos também. Muitos ainda se escondem com medo de que algum preso possa invadir sua casa e fazer a família refém, obrigando-os a esconder os delinquentes. Só que o sentimento que posso observar das pessoas que moram nos bairros próximos ao Aníbal Bruno é o de completo abandono do Estado. A tensão vira revolta e alguns tentam seguir a vida minutos após o susto inicial.

O medo não se foi. Na verdade, ele se travestiu de revolta. Aqui, seja em Cavaleiro, Jardim São Paulo, Totó ou Itamaracá (onde tivemos uma fuga recente no presídio Barreto Campelo), o que a gente sente é que é cada um por si e o Estado por ninguém.

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