A vítima foi assaltada e levada para um terreno de propriedade da UFPE, no Engenho do Meio Foto: Reprodução / Street View
As marcas do ataque foram divulgadas junto ao relato da jovem no FacebookFoto: Reprodução / Facebook
O caso de Maria ficou conhecido, principalmente, após a reprodução do seu relato através de amigos nas redes sociais: “Depois dessa minha atitude [de permitir o compartilhamento da história nas redes] o fato de que estupro na Federal era mito acabou de vez; as pessoas ficaram horrorizadas e estão tomando iniciativas para cobrarem da faculdade e do Estado medidas de segurança melhores. O que me motivou de início foi querer avisar para os alunos tomarem cuidado. Não quero que isso aconteça com mais ninguém, é horrível”, lembrou a estudante.
No dia em que foi assaltada e abusada, Maria ainda foi submetida a outra violência: a negligência na hora de prestar um Boletim de Ocorrência. Ao chegar à Central de Flagrantes, localizada no bairro de Campo Grande, Zona Oeste do Recife, já na madrugada do dia 30 (domingo), ela precisou esperar cerca de três horas para receber orientação.“Cheguei na central à uma e pouco da manhã e fui receber informação do que deveria fazer quando já era 4h. Um moço me encaminhou até uma delegada pra saber o que fazer e ela simplesmente falou ‘Me desculpa, sei que você está desesperada e seu caso é grave, mas estamos cheios de ocorrências de assalto e não posso parar o processo que estou fazendo para te atender; estamos sem nenhum delegado livre’ (...)", contou. "Não tenho nem como classificar essa negligência, se uma delegada mulher falou isso pra mim, eu realmente não tenho nada a declarar;é um descaso absurdo”, disse. A delegada aconselhou a vítima que comparecesse à Delegacia da Mulher, localizada no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, na segunda-feira (31 de agosto). No local, a jovem afirma ter sido bem atendida.
Depois da repercussão do caso nas redes sociais, um grupo de estudantes da UFPE foi formado no Facebook para discutir o assunto dos estupros ocorridos na Cidade Universitária. Em pouco mais de quinze dias, quase mil membros já participavam do coletivo, que realiza reuniões para cobrar providências da universidade sobre os casos de violência sexual e insegurança sofrido pelos estudantes, e principalmente pelas mulheres.
Agora longe do Recife, a estudante lembra que na UFPE há muito a ser melhorado, “principalmente a segurança e a iluminação”. Questionada sobre a reação das alunas ao ocorrido, Maria se mostrou otimista: “É um avanço em relação aos alunos. Antes o assunto era algo um pouco neglicenciado até mesmo por por eles”. Questionada sobre a reação da universidade ao fato, porém, ela demonstrou decepção: “Reclamei na faculdade sobre isso [o ataque sofrido], funcionários da cabine do reitor ficaram sabendo do caso, mas os alunos não foram avisados em momento algum”, o Portal NE10 tentou contato com a UFPE e aguarda um retorno sobre o assunto.
Segundo a estudante, as investigações em busca do criminoso estão sendo realizadas pela polícia, que deve analisar em breve imagens de câmeras de segurança das redondezas do local do ataque.
A agressão fez com que a vítima sofresse um derramamento ocularFoto: Reprodução / Facebook
As marcas corporais de Maria, que chegou a sofrer um derrame ocular por causa da agressão, podem se apagar, mas as lembranças do ocorrido - negligenciado por muitos e oprimido por tantos outros - podem jamais será esquecido: “Andei sozinha ontem, fui até a casa de uma amiga e, por todo homem que passava, eu ficava desconfiando. Não paro de olhar para todos os lados, fico desesperada”.
CASOS DE VIOLÊNCIA NO ENTORNO DA UFPE - Os casos de estupro nos entornos da universidade não são novidade. No dia 19 de agosto, pouco mais de uma semana antes de Maria sofrer o ataque, um homem foi preso na Várzea, também na Zona Oeste, por ser suspeito de ter cometido no mínimo três crimes sexuais contra universitárias entre o mês de maio e agosto deste ano. Com a ajuda das câmeras de segurança de lojas da Avenida General Polidoro, o homem, identificado como Geraldo Vieira da Silva, 34, foi indiciado pelo crime de estupro e poderá pegar até 20 anos de prisão.
*Nome fictício para preservar a identidade da vítima