Saúde Pública

Pacientes do Imip sofrem para marcar consultas e exames

Mariana Dantas
Mariana Dantas
Publicado em 21/10/2015 às 15:52
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Pacientes que procuram os ambulatórios são orientados a voltar em janeiro / Foto: Rodrigo Lôbo / acervo JC Imagem

Pacientes que procuram os ambulatórios são orientados a voltar em janeiro Foto: Rodrigo Lôbo / acervo JC Imagem




“Volte em janeiro para se inscrever no sorteio. Estão previstas apenas 20 cirurgias para o ano de 2016. Quem sabe a senhora tem sorte?”. Foi o que ouviu Janaína Nascimento, 29 anos, de uma das recepcionistas do setor de marcação de consulta do hospital do Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, no Recife.

Com crise de hérnia de disco há mais de um ano, Janaína precisa se medicar a cada três horas com Dimorf-30mg (remédio à base de morfina) para suportar as dores. A esperança dada pelo médico foi a realização de uma mamoplastia (cirurgia de redução das mamas) para “aliviar o peso” sobre a coluna. Moradora do município de Barra de Guabiraba, distante 141 km do Recife, Janaína saiu de casa às 4h da madrugada desta quarta-feira (21), no ônibus da prefeitura, para tentar marcar a operação no Imip. “Tenho mais de três encaminhamentos médicos, um deles com pedido de urgência, mas não adiantou", lamentou, sentada no jardim do pátio do hospital à espera do ônibus para voltar para casa, previsto para chegar às 20h. Diariamente, os jardins do hospital são ocupados por dezenas de pessoas que moram no Interior e precisam ir ao hospital para receber atendimento. Os ônibus das prefeituras deixam as pessoas na unidade no início da manhã, por volta das 6h, e retornam para buscá-las à noite.



Se as cirurgias de mamoplastia só têm previsão de 20 procedimentos para o ano que vem, a situação é pior para quem precisa marcar exames e consultas ambulatoriais. A reportagem do NE10 foi informada por uma funcionária do hospital, que preferiu não se identificar, que todas as consultas eletivas para adultos estão suspensas. “O atendimento acontece apenas para quem já tem consulta marcada. A orientação é que as pessoas voltem em janeiro para saber quando o agendamento será reaberto. Mas ainda não há previsão”, disse a recepcionista do 5º andar do edifício ambulatorial, onde funcionam as especialidades de reumatologia, neurologia, cardiologia, cirurgia, ortopedia vascular, pneumologia, endocrinologia, urologia e clínica médica.

Movimentação na emergência obstetrícia é intensa

Movimentação na emergência obstetrícia é intensaFoto: Mariana Dantas/NE10

Moradora de Carpina, na Zona da Mata, Edileuza Marques, 42, também está entre as pacientes que deram viagem perdida nesta quarta-feira. Neste dia, ela tentou marcar um exame de colposcopia para a mãe. “Disseram que não há previsão para a marcação e não temos dinheiro para fazer no serviço particular. Quem sofre com essa crise é o cidadão”, disse.

RESPOSTA - Após conversar com pacientes e funcionários, o NE10 entrou em contato com a assessoria do Imip. Sobre o número restrito de 20 cirurgias de mamoplastia para o próximo ano, que também foi confirmada por uma recepcionista nesta manhã, o órgão explicou que não há número definido para 2016, mas confirmou que a seleção é feita através de sorteio por ser o critério mais justo – já que todos os pacientes possuem diagnósticos semelhantes.



Em relação à marcação de consultas e exames, a assessoria informou que as vagas de algumas especialidades para este ano já foram preenchidas e que o agendamento será retomado no fim do ano, mas sem data prevista.

Há 15 dias, a administração do Imip divulgou nota pública sobre a situação financeira do instituto, que administra três hospitais e quatro Unidades de Pronto Atendimento no Estado (UPA). “Nossa prestação de serviço tem sido prejudicada pelos repasses que recebemos – com atrasos e com defasagem financeira. O que tem causado um déficit financeiro que compromete a sobrevivência econômica do Imip, acarreta atraso no pagamento de funcionários e fornecedores e força a instituição a limitar a quantidade de alguns tipos de atendimentos à população pobre de Pernambuco”, informou o Imip no comunicado.

Janaína terá que torcer para ser sorteada

Janaína terá que torcer para ser sorteadaFoto: Mariana Dantas/NE10

EMERGÊNCIAS FUNCIONAM
– Na manhã desta quarta, a movimentação nas emergências pediátrica e de obstetrícia do Imip foi intensa. As salas de triagem estavam lotadas, mas todos que procuraram o serviço foram atendidos rapidamente – pelo menos durante o período em que a reportagem esteve no local. “Moramos no município de Ribeirão (Zona da Mata Sul). Minha filha está grávida de seis meses e precisou vir às pressas porque o médico do posto de lá levantou a suspeita de hidrocefalia no bebê. Chegamos às 8h e ela rapidamente entrou na emergência”, disse uma senhora que preferiu não se identificar.

A filha de 15 anos de Luiziana dos Santos Soares, 51, também deu entrada na emergência obstetrícia, em trabalho de parto. “Minha filha tem convulsões e, por isso, é uma paciente de alto risco. Ela fez o pré-natal aqui e não temos o que reclamar. Hoje chegamos e ela foi rapidamente atendida”, disse.

Na emergência da pediatria, Julyana Kharolyne, 24 anos, ficou aliviada após o seu filho de 7 anos ser atendido. “Ele está com arritmia há mais de um mês e desde ontem está com febre. Ontem fui o Posto de Saúde de Rio Doce (Olinda), onde moro, e na emergência do Hospital Tricentenário. Mandaram voltar para casa. Só aqui consegui atendimento”, afirmou.

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