Aeronave não tripulada

Diversificado, mercado de drones cresce no Brasil mas aguarda regulamentação

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 08/03/2016 às 16:42
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A publicação de normas para o uso comercial dos drones poderia gerar novas vagas de emprego, por exemplo / Foto: Fotos Públicas

A publicação de normas para o uso comercial dos drones poderia gerar novas vagas de emprego, por exemplo Foto: Fotos Públicas

Multifuncionais, os drones estão sendo usados nas mais em diversas áreas: combate ao Aedes aegypti, fotografia e filmagem profissionais, mapeamento geográfico e até estratégias militares. Com uma gama enorme de possibilidades, o mercado dos objetos voadores não tripulados está em alta no Brasil. Somente em 2016, a expectativa é de que o setor arrecade até R$ 200 milhões com vendas de equipamentos,  treinamentos de pilotos e prestação de serviços.

Estes dados são extra oficiais e foram compilados pela empresa MundoGEO, líder na América Latina em soluções integradas de mídia e comunicação para o setor geoespacial e de localização. Apesar do sucesso, a evolução do ramo esbarra na falta de regulamentação de normas para manipulação desses equipamentos e, ao “pé da letra”, todos que usam os drones para fins comerciais estão desobedecendo a lei. 

Entre suas funcionalidades, os drones podem ajudar na segurança pública

Entre suas funcionalidades, os drones podem ajudar na segurança públicaFoto: Fotos Públicas

Diretor da Santos Lab Indústria Aeroespacial, empresa que desenvolve e fabrica aeronaves não tripuladas para clientes nos setores militar e civil, Adriano Kancelkis Pereira acredita que o mercado tem mostrado que existe uma grande demanda reprimida em vários setores, desde segurança pública, mineração, meio ambiente, além de outros que ainda podem surgir. “É muito importante uma regularização da operação destes sistemas no mercado. Para isso, é vital que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) dê o próximo passo na direção da regulamentação da utilização comercial destas aeronaves no espaço aéreo brasileiro”, comentou o executivo. 

Também de olho nas possibilidades de negócio, o fotógrafo Raphael Lima, 28 anos, criou a empresa recifense GoDronne, que presta serviços de foto e vídeo com imagens aéreas e seus principais clientes fazem parte do setores imobiliário e da indústria. Após um investimento de R$ 25 mil na compra de três aeronaves de pequeno porte - que capturam imagens em 4k - ele tem visto a empresa dar retorno. Por 10 minutos de voo ele cobra entre R$ 800 (fotos) e R$ 1.500 (vídeo). Por semana, a empresa costuma fazer dois sobrevoos.

“Nossos drones são daqueles que pesam menos de 5 kg e não têm muita proibição para uso. Mas nós tomamos todos os cuidados de não voar perto de pessoas e numa altura que não ultrapasse os 120 metros. Não fazemos eventos como shows, onde pode haver uma multidão ou algo do tipo”, explicou o fotógrafo que é apaixonado por aeromodelismo desde a adolescência. 

“Não é chegar, comprar um drone na internet e sair voando. Eu piloto aeromodelo já faz uns 10 anos, tenho alguns aviões, mas sempre busco um local ideal como um aeródronomo, tenho seguro e tudo mais”, comentou Raphael que é a favor da criação de normas específicas para drones, assim como defende uma espécie de carteira de habilitação para pilotar os equipamentos.

Em alta, o mercado de drones pode faturar até R$ 200 milhões com manutenção, venda de aparelhos e treinamento

Em alta, o mercado de drones pode faturar até R$ 200 milhões com manutenção, venda de aparelhos e treinamentoFoto: Fotos Públicas

Além das questões de segurança que devem ser reforçadas com a regulamentação, o presidente da Associação Brasileira de Multirrotores (ABM), Flávio Lampert, acredita que com novas as regras o mercado pode crescer ainda mais, além de se tornar mais profissional e confiável. “Quando houver as regras da Anac haverá a divisão entre as empresas sérias que se adequarão e prestarão um serviço mais confiável, e aqueles que vão viver à margem, com contratos menores, já que as empresas sérias irão querer os profissionais que podem lhe dar garantias.”

Esse tipo de fiscalização dificultaria situações como a que uma quadrilha usava drones para mapear e preparar locais que seriam assaltados. O grupo, detido em São Paulo, era acusado de usar a mesma tática em ações criminosas realizadas em cinco Estados brasileiros.

Com a profissionalização deste tipo de negócio, a estimativa dos especialistas na área é de que novos empregos sejam criados, abrindo espaço para até 5 mil profissionais somente este ano no Brasil. “Nossa expectativa é de que as regras sejam publicadas antes das Olimpíadas do Rio de Janeiro, até por causa da segurança dos atletas estrangeiros”, pontuou Flávio Lampert, da ABM. A Anac encerrou uma consulta pública em novembro do ano passado e promete que as regras entrarão em vigor até o dia 5 de agosto. Se a proposta da agência for aceita, o uso recreativo dos drones será proibido em áreas urbanas e povoadas.

Não é chegar, comprar um drone na internet e sair voando; defendo a criação de uma carteira de habilitaçãoRaphael Lima, fotógrafo e empresário
Enquanto a regulamentação das normas ainda não é efetivada no Brasil, cabe à Anac tratar dos assuntos técnicos/operacionais voltados às condições das aeronaves (certificação, registro, cadastro, etc) e à situação dos pilotos (licenças, requisitos, cadastros, etc). Já as autorizações relacionadas de uso dos espaços aéreos durante os voos ficam a cargo do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), ligado à Aeronáutica. Entre as exigências está a que prevê que os pedidos de voos sejam feitos com antecedência de 48 horas.

Também no fim de novembro, o Decea publicou uma instrução sobre o uso do espaço aéreo por drones que vem sendo usada como parâmetros paras quem deseja trabalhar com esses aparelhos. Entre elas, os equipamentos só poderiam ser usados para uso comercial se operados a até 120 metros do solo, com drones cadastrados, numa distância mínima de 30 metros de pessoas. Ainda haverá obrigação de contratar um seguro de danos a terceiros.

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