Vitamina do Sol

Vitamina D: excesso de sol poderia prejudicar absorção nos nordestinos

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 05/04/2017 às 14:01
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Exposição excessiva ao sol poderia ser responsável para organismo criar mecanismo de defesa / Foto: Gustavo Belarmino/NE10

Exposição excessiva ao sol poderia ser responsável para organismo criar mecanismo de defesa Foto: Gustavo Belarmino/NE10

Especialistas do mundo inteiro tentam entender o que muitos questionam: se a vitamina D é ativada no nosso corpo quando ficamos expostos ao sol, por que populações de países tropicais, como o Brasil, estão sofrendo com baixos níveis dela no organismo? O "mistério" pode estar justamente no excesso de exposição aos raios ultravioleta. De acordo com a endocrinologista Maria Amazonas, da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia - Regional Pernambuco, pesquisas internacionais sugerem que esta relação "íntima" com o sol pode ser o principal fator para que nosso corpo não absorva tanto a vitamina que é a queridinha do momento.

"Estudos apontam que populações que se expõe ao sol como os nordestinos têm mais dificuldade de sintetizar a vitamina do que quem mora em países europeus, onde o sol não é tão incidente. É como se nosso corpo se protegesse desse excesso de estímulo à vitamina D. Mas não há nada concreto, são hipóteses que começam a ser levantadas em estudos científicos internacionais", explicou a especialista. Ainda segundo ela, são esses mesmos estudos que vêm descobrindo cada vez mais benefícios da vitamina que antes era relacionada apenas ao combate de doenças ósseas. Mas hoje se sabe que esta é uma substância essencial para o funcionamento e equilíbrio do organismo.


O uso do protetor solar para evitar doenças como câncer de pele pode ser um dos "causadores" da baixa absorção de vitamina D na população de lugares ensolarados, com o Recife. Foto: acervo JC Imagem

Hoje a vitamina D é associada ao tratamento de pessoas com problemas cardiovasculares, esclerose múltipla, psoríase, diabetes, hipertensão e até alguns tipos de câncer. Ainda há pesquisas que apontam uma ligação entre a falta de vitamina D na gestação e o autismo. "Antes, nós não nos preocupávamos em mandar dosar a vitamina D por acreditar que a exposição diária ao sol seria suficiente para manter os níveis altos. Somente depois que foram surgindo essas informações benéficas começamos a pedir [a dosagem] e descobrir que a maioria das pessoas está com carência da vitamina", lembrou a endocrinologista.

Essa exposição é diferente de quando se é bebê e a gente indica banho de sol. No caso das crianças, é o sol benéfico e está relacionado com imunidadeMaria Amazonas, endocrinologista

Dados recentes da Organização Mundial de Saúde revelam que mais de 50% da população mundial sofre de insuficiência ou deficiência da vitamina D. O "susto" com os baixos níveis do nutriente tem feito muitas pessoas buscarem a reposição, seja se expondo mais ao sol, ingerindo alimentos ricos do nutriente ou através de suplementação oral (líquido ou cápsulas). No tocante à exposição solar, a médica Maria Amazonas desaconselha. "O sol considerado 'bom' para a ativação da vitamina D é aquele que é ruim para a pele, das 10h às 16h. Mesmo que você se exponha ao sol por 15 minutos diários, sem proteção, não seria suficiente para repor na quantidade ideal e ainda aumentaria as chances de um câncer de pele, já que esse tipo de exposição é acumulativa e nós só vemos os malefícios dela com o tempo", ressaltou a endocrinologista.

No meio da polêmica da exposição, ou não, ao sol, sabe-se que, no Brasil, já há indicativos da deficiência com maior destaque para a região Sul do país. A região Nordeste, no entanto, também tem apresentado índices baixos de vitamina D, principalmente em mulheres - mesmo aquelas em idade reprodutiva. Além disso, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realizada em duas etapas, concluiu que ao final do inverno a deficiência do nutriente chegava aos 77,4%; já ao final do verão caía para 37%.

A alimentação enriquecida não seria suficiente para alcançar os níveis ideais da vitamina

A alimentação enriquecida não seria suficiente para alcançar os níveis ideais da vitaminaFoto: divulgação

Sobre a alimentação, a nutricionista Cristina Lopes é pragmática: não há como repor níveis até as taxas ideais de vitamina D apenas com a alimentação. "Mesmo que a pessoa coma vegetais verde escuro, peixes gordos (salmão, sardinha), ovos, fígado, derivados de leite e tudo que contém grande volume do nutriente, não há como regular os níveis que andam muito abaixo do esperado. Essa alimentação enriquecida seria apenas uma das estratégias. É preciso suplementar com orientação médica", defendeu ela. Cristina ainda complementa: "Não sou contrária à exposição ao sol, acredito que tudo tem um lado bom e outro ruim. É preciso fazer essa exposição com responsabilidade, mas não adianta apenas ficar torrando no sol", resumiu.

Reposição de vitamina D virou rotina

Há seis meses a atendente de posto de saúde Ivone Gomes, de 50 anos, moradora de Nazaré da Mata, na Zona da Mata pernambucana, começou a repor vitamina D através de suplementação. A necessidade foi descoberta quando foi fazer exames médicos relacionados à menopausa. "Minhas unhas ficaram quebradiças, cabelo caindo muito. Não tinha muita disposição. Agora que estou repondo noto diferença, mas é um processo lento. Tomo um comprimido por dia, mas também procuro usar roupas menos fechadas para quando for ao trabalho andando ficar mais exposta ao sol", contou ela.


Ivone e Vera já estão no grupo de pessoas que fazem reposição com acompanhamento médico. Foto: acervo pessoal

Já a pedagoga Vera Carneiro, 63 anos, que mora no Recife, evita ao máximo a exposição solar. Ela descobriu a necessidade da suplementação oral em agosto de 2016 durante exames de check up. Desde então toma a medida de 10 mil unidades por semana e tem notado unhas mais firmes, a pele menos seca e o cabelo mais brilhoso. "Minha médica disse que não adianta mais tomar banho de sol todo dia porque não vai repor essa necessidade que tenho, aí eu até prefiro suplementar. Não gosto de me expor ao sol, transpiro muito e tenho a pele muito clara", comentou.

O excesso desse nutriente no organismo pode comprometer o funcionamento dos rins, que têm um papel de filtragem no nosso corpo

Atentas à banalização da suplementação, a endocrinologista Maria Amazonas e a nutricionista Cristina Lopes concordam que é preciso ter cautela para não causar problemas relacionados ao excesso da vitamina D no organismo. "As pessoas podem estar carentes de vitamina D, mas isso não significa que vai ter sempre que suplementar. O problema é quando a pessoa tem deficiência e ainda sofre com fatores como doenças cardiovasculares, diabetes etc", esclareceu a médica. "O excesso desse nutriente no organismo pode comprometer o funcionamento dos rins, que têm um papel de filtragem no nosso corpo. Ou seja, o excesso pode ser até tóxico para o nosso organismo", pontuo a nutricionista.

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