Qualidade do sono

Bebê não dorme, mamãe não dorme, papai também não

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 15/03/2017 às 8:04
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Bebês acordam pelo menos duas vezes na madrugada para saciar necessidades emocionais e fisiológicas / Foto: Marília Banholzer/NE10

Bebês acordam pelo menos duas vezes na madrugada para saciar necessidades emocionais e fisiológicas Foto: Marília Banholzer/NE10

Se mesmo depois de se tornar mãe suas noites de sono são ótimas, parabéns. Você faz parte de um seleto grupo que não precisa levantar pelo menos duas vezes por noite para dar aconchego, amamentar ou trocar a fralda do bebê. Uma pesquisa feita com mil mães do Canadá aponta que 73% das crianças de 6 meses a 2 anos acordam os pais no meio da noite pelo menos uma vez por semana. E mais: 43% acordam os pais na maior parte das noites. Outros 20% das mulheres levantam, no mínimo, três vezes para atender aos chamados dos seus pequenos durante as madrugadas. Por causa da rotina cansativa, muitas mães até chegam a desistir da ideia de ter o segundo filho.

Agora, se você está entre as mulheres que enfrentam essa rotina puxada a boa notícia é que a tendência é melhorar. A má notícia é que pode demorar um pouco. O pediatra Homero Rabelo explica que as crianças até seis meses têm necessidades fisiológicas que as fazem acordar mais vezes. Em geral, fome e trocas de fralda são as principais delas. Além disso, ele alerta que os bebês não entram em sono profundo e acabam acordando a estímulos como luzes e barulhos. 

"A alimentação através da amamentação ou através de comidas pastosas é eliminada rapidamente. Esse esvaziamento gástrico é um dos principais fatores para as crianças acordarem tantas vezes. É absolutamente normal. Embora o bebê seja capaz de passar a noite toda sem precisar acordar já a partir dos seis meses, isso só deve acontecer quando a alimentação dele for mais sólida, o que acontece dos 18 aos 24 meses", comentou o pediatra.



Tabela de resumo das necessidades de sono para cada fase da infância
Fonte: "Bom Sono", de Richard Ferber

Acordar diversas vezes na madrugada para cuidar do bebê é algo cansativo, em especial para as mamães, embora muito papais assumam essa função quando o neném não depende do leite materno. A professora e pesquisadora Danielle Camelo, 34 anos, é mãe de Matias de apenas nove meses. Entre o terceiro e sexto mês, o pequeno tinha um sono mais "agitado", acordando mais vezes. Segundo ela, o bebê começou a dormir mais horas seguidas por volta do oitavo mês e agora ele passou a acordar [apenas] duas vezes por noite. 

Matias melhorou seu ciclo de sono noturno depois que parou de mamar no peito da mãe

Matias melhorou seu ciclo de sono noturno depois que parou de mamar no peito da mãeFoto: Cortesia

"Matias parou de mamar aos seis meses, por vontade própria, e eu tive que complementar a alimentação dele. Desde então o sono melhorou. O momento mais crítico, na verdade, foi quando eu tive que voltar a trabalhar, então ele sentia minha falta e à noite acordava de uma em uma hora", contou Danielle. Para ela, ter o sono interrompido tem lhe causado dificuldade de concentração e até uma baixa na produtividade das suas pesquisas.

"Eu já me peguei chorando muito, cansada. A adaptação é um período muito difícil. Eu costumo dizer que na maternidade uma das questões que mais me cansam é a privação do sono até porque eu sempre fui uma pessoa que dormia muito bem. Mas certamente o nosso corpo vai se preparando durante a gestação, quando a gente acorda um monte de vezes para ir ao banheiro fazer xixi", disse a mãe do pequeno Matias.

A criança que dorme excessivamente é um sinal de alertaHomero Rabelo, pediatra
A neuropediatra Ana Van der Linden orienta que o sono da criança até um ano é totalmente diferente dos adultos e os pais devem tomar cuidados importantes para que o descanso dos pequenos não seja atrapalhado. É bom ressaltar que bebês necessitam de mais horas de sono que os adultos: recém-nascidos, por exemplo, dormem em média 16 horas entre dia e noite.

"Enquanto o adulto relaxa e se revigora durante o estágio do sono chamado REM, os bebês não chegam a esse ponto do sono que só ocorre perto da quarta hora do sono. Sendo assim, se as mamães não chegam nesta fase, o bem-estar físico e psicológico delas ficam prejudicados", analisou a neuropediatra.

Bebês precisam dormir mais do que os adultos, mas não conseguem entrar no sono profundo até um ano de vida
Já no caso dos pequenos, Ana Van der Linden orienta que o ritual de colocá-los para dormir deve seguir uma sequência, como dar banho e oferecer alimentação, seguido de um lugar tranquilo e sem luzes que estimulem essa criança a ficar acordada e, de preferência, sempre no mesmo horário. "Essa sequência é conhecida como higiene do sono e pode ser crucial para oferecer uma melhor noite de sono para o bebê", explicou a neuropediatra.

A mãe do pequeno Ravi, de um ano e quatro meses, a jornalista Isabela Lemos conta que tenta seguir uma rotina para colocar seus filhos nos braços de Morfeu. No quarto dele não há interferências tecnológicas e mesmo quando ele acorda na madrugada ela tenta não interagir muito para que ele não desperte e consiga voltar ao sono após ter suas necessidades saciadas.

"Até hoje Ravi acorda duas vezes por noite. Raras foram as vezes que ele dormiu direto nesse tempo todo, talvez umas quatro noites. Mas o engraçado é que quando isso acontece eu acordo para ver se ele está bem. O segredo é evitar que ele desperte durante a madrugada quando preciso trocar a fralda ou amamentar, mas às vezes meu marido vai buscar ele no berço e começa a conversar com o Ravi, aí ele desperta e já era", contou Isabela.

Em 16 meses, o pequeno Ravi só dormiu quatro noites inteiras

Em 16 meses, o pequeno Ravi só dormiu quatro noites inteirasFoto: Cortesia

Após 16 meses de rotineiras noites mal dormidas, Isabela diz que se sente cansada, como se não tivesse dormido o bastante. "Ravi começa a dormir umas 22h e acorda umas 7h. O último cochilo é comigo na cama, mas ainda assim há dias em que estou muito cansada e sonho em dormir uma noite toda", comentou Isabela Lemos.

Sobre a chamada cama compartilhada - quando o bebê dorme com a mãe - o pediatra Homero Rabelo decreta: "Sem dúvida é menos cansativo não ter que levantar para cuidar do bebê, mas as crianças não devem, jamais, dormir na mesma cama que os pais. Os riscos são muito grandes, seja de esmagamento ou sufocamento, como do bebê cair da cama porque passou por cima dos pais que não acordaram do sono pesado."

O médico ainda consola - um pouco - as mamães que sofrem com as noites mal dormidas em prol do bem-estar dos seus bebês: "Eu fico mais preocupado com a criança que dorme demais, é muito quieta. A criança que dorme excessivamente é um sinal de alerta. Pode se tratar de alguma doença que não foi diagnosticada previamente."

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