Zika vírus

Cresce número de vítimas da síndrome de Guillain-Barré no Rio

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 17/02/2016 às 18:03
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Todos haviam sido infectados pelo vírus zika antes de manifestar a Guillain-Barré, segundo os diagnósticos / Foto: AFP

Todos haviam sido infectados pelo vírus zika antes de manifestar a Guillain-Barré, segundo os diagnósticos Foto: AFP

O número de vítimas da síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica que pode levar à paralisia completa de músculos do corpo e à morte, aumentou ao menos cinco vezes este ano em hospitais no Estado do Rio. A constatação é de médicos integrantes de uma rede de troca de informações sobre o tema, que atenderam os pacientes em hospitais públicos e privados. Todos haviam sido infectados pelo vírus zika antes de manifestar a Guillain-Barré, segundo os diagnósticos.

Membro do grupo médico, o neurologista Osvaldo Nascimento, especialista em doenças do sistema nervoso periférico do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse nessa terça, 16, que a taxa de incidência da síndrome na população sempre foi de 0,5 a quatro casos para cada 100 mil habitantes. Nos primeiros 45 dias de 2016, foram de 20 a 30 diagnósticos informou ele. Os números não são precisos porque a troca de informações se dá por meio de uma rede informal, que ainda está sendo oficializada.

"Continua uma síndrome rara, mas esse aumento chama a atenção. Esses 20 e poucos casos são os que conhecemos, há ainda os que não chegaram aos hospitais, uma vez que 80% dos pacientes com Guillain-Barré têm evolução muito boa. Quando são precedidos pelo vírus zika, no entanto, a tendência que observamos é que haja um comprometimento mais sério do sistema nervoso", disse Nascimento, professor titular e coordenador de pesquisa e pós-graduação em neurologia da UFF. Ele disse ter atendido pessoalmente seis pacientes com quadros precedidos pela zika.

"Não sabemos como vai ser nos próximos meses. Pode ser que se torne algo sazonal; pode ser que se comporte como foi com o ebola na África: todo mundo ficou com medo, mas não aconteceu o pior. Com o zika é diferente, porque o vetor é mais fácil", disse.

Dois dos casos do Huap, em Niterói (cidade na região metropolitana) são muito graves. Um é o do professor universitário Jonas Antônio Ávila França Junior, de 33 anos, que teve zika e está paralisado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Ele não consegue andar, falar e comer - só movimenta os olhos. O outro paciente está na emergência, por falta de espaço no CTI. Três casos que estavam sendo tratados como suspeitos resultaram em alta com diagnóstico definitivo de polineuropatia radicular, doença degenerativa também rara, sem ligação com a zika.

O núcleo de Nascimento no Huap é referência no estudo e tratamento de doenças do sistema nervoso periférico, como lepra e neuropatia diabéticas. Desde que o número de casos cresceu, passou a ser intenso o fluxo de médicos, alunos e pacientes em busca de informações. Levando em conta o temor da zika e de suas consequências, as condições de trabalho deveriam ser melhoradas, disse o neurologista.

"Precisamos de vagas no CTI e de pessoal para dar suporte", afirmou ele.

O Ministério da Saúde confirmou a associação entre a Guillain-Barré e o vírus zika em dezembro. Estudos ainda estão sendo realizados no Brasil e no exterior para entender que outros fatores podem estar envolvidos. Nessa terça, 16, o Huap e a Fiocruz firmaram acordo para a realização de pesquisas conjuntas sobre a relação não só com a Guillain-Barré, mas também com encefalites (inflamações no cérebro, geralmente causada por vírus) e encefalomielites, que comprometem também a medula e são virais.

Os pesquisadores buscam entender melhor a estrutura do vírus e como ele age no organismo, além de descobrir como se comporta o sistema imunológico dos pacientes. Os médicos ainda não sabem por que determinados pacientes têm manifestações leves da Guillain-Barré e outros ficam imobilizados.

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