A mentira passa a ser considerada um problema quando o indivíduo começa a estabelecer as suas relações através dela, busca prejudicar alguém ou tirar algum tipo de vantagem da situação Foto: Divulgação
"Nem sempre a mentira deve ser encarada como um problema. É preciso avaliar bem a situação. Mentir pode estar ligado a vários fatores, até mesmo a uma questão cultural. O brasileiro, por exemplo, tem o costume de mentir por um motivo banal para evitar aborrecer ou constranger alguém", afirma o psiquiatra Hugo Couto.
A psicóloga Priscilla Silva também concorda que a mentira é algo comum na sociedade. "Eu diria que praticamente todos já mentiram em algum momento da vida e eventualmente mentirão em alguma outra ocasião, pelos mais diversos motivos. As chamadas 'mentiras para convívio social' ou como algumas pessoas falam 'mentiras brancas' seriam mentiras mais amenas", explica.
A mentira só passa a ser considerada um problema quando o indivíduo começa a estabelecer as suas relações através dela, busca prejudicar alguém ou tirar algum tipo de vantagem da situação. Um dos casos mais conhecidos no Brasil foi o do estelionatário Marcelo Nascimento da Rocha, condenado à prisão depois aplicar vários golpes e fingir ser oficial do exército, músico, piloto de avião e até herdeiro da empresa de linhas aéreas Gol. Sua história foi contada no filme Vips, estrelado pelo ator Wagner Moura.
Outro caso de repercussão nacional foi o da falsa grávida de Taubaté (São Paulo). Em janeiro de 2012, a professora Maria Verônica afirmou que estava grávida de quadrigêmeos e usou um enchimento falso para simular a gestação. Com a história, muitas pessoas chegaram a fazer doações de fraldas e roupas para o enxoval dos bebês. A professora e o marido chegaram a ser processados na Justiça por estelionato, mas a acusação foi arquivada em dezembro de 2014.
“Para algumas pessoas a mentira tornar-se um recurso tão essencial para as suas vidas que não conseguem parar de mentir, mesmo com suas relações ameaçadas, pois com o tempo as pessoas podem começar a notar as falsas verdades. Podem passar a mentir continuamente até por coisas bobas como dizer que saiu para jantar em tal restaurante quando na verdade ficou em casa”, afirma a psicóloga Priscilla Silva. Segundo ela, caso esta situação esteja trazendo sofrimento a pessoa que mente compulsivamente e/ou as pessoas ao seu redor, é preciso lidar com as questões e conflitos internos. “A psicoterapia de base analítica é indicada, e junto a ela, a depender da singularidade do caso, um acompanhamento de um profissional da psiquiatria.”
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE - O hábito de mentir compulsivamente é conhecido como mitomania e, segundo o psiquiatra Hugo Couto, esse comportamento geralmente está relacionado com algum tipo de transtorno de personalidade. “Existe o mentiroso consciente, que mente para obter um benefício específico. Ele é um antissocial porque não se preocupa com o sofrimento que pode provocar no outro. Há também aqueles que mentem sem a intenção de prejudicar um terceiro, mas pelo fato de não aceitar sua realidade. Em alguns casos passam a acreditar na própria mentira”, explica.
Segundo Hugo Couto, a mitomania geralmente está relacionada com algum tipo de transtorno de personalidadeFoto: Mariana Dantas/Ne10
“Não existe remédio para curar a mentira. Quando a mentira aparece como sintoma de um transtorno de personalidade esse, sim, deve ser tratado”, explica Hugo Couto.