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Ebola corrói ganhos na Serra Leoa pós-guerra civil, alerta estudo

Mariana Campello
Mariana Campello
Publicado em 14/11/2014 às 21:01
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 Danos causados à maior parte dos setores da economia farão o crescimento do país encolher de 20,1% no ano passado para apenas 5% em 2014 / Foto: AFP

Danos causados à maior parte dos setores da economia farão o crescimento do país encolher de 20,1% no ano passado para apenas 5% em 2014 Foto: AFP

Serra Leoa está diante de uma catástrofe econômica e social, uma vez que os ganhos obtidos após a destrutiva guerra civil têm sido corroídos pela epidemia de Ebola, alertou um estudo publicado nesta sexta-feira (14).

Os danos causados à maior parte dos setores da economia farão o crescimento do país encolher de 20,1% no ano passado para apenas 5% em 2014, revelou a pesquisa conjunta do Ministério das Finanças e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

"Enquanto a prioridade número um deve ser deter a disseminação do Ebola, proteger Serra Leoa de maiores danos provocados pela doença é crucial", afirmou David McLachlan-Karr, diretor da ONU em Serra Leoa.

"Este informe é um alerta sério, que nos mostra que Serra Leoa enfrenta uma dramática perda do PIB, uma inflação significativa e uma queda severa no comércio e na produção nacionais em muitos setores", prosseguiu.

Intitulado "O impacto Econômico e Social do Vírus Ebola em Serra Leoa" (The Economic and Social Impact of Ebola Virus Disease in Sierra Leone, no original), reúne estudos realizados pelo Banco Mundial, pelo Banco Africano de Desenvolvimento e pelo Fundo Monetário Internacional.

O documento alerta que a escassez de alimentos e de moeda estrangeira, assim como a depreciação do leone, a moeda nacional, aumentarão a pressão sobre a recuperação do país.

Devastada por 11 anos de guerra civil, que chocaram o mundo com imagens de crianças-soldado e de rebeldes financiados por "diamantes de sangue" que amputavam pernas e braços de compatriotas, Serra Leoa foi durante muito tempo evitada pelos investidores.

No fim do conflito, em 2002, cerca de 50 mil pessoas tinham morrido, os serviços públicos eram inexistentes e a economia estava em ruínas.

Desde então, graças a reformas de mercado e a uma melhor governança, o setor da mineração passou a atrair investimentos sem precedentes, criando milhares de empregos e colocando o país em uma trajetória de lenta recuperação.

Mas, em setembro, o governo adotou três dias de suspensão das atividades para conter a disseminação do vírus Ebola e pôs cinco distritos em quarentena, restringindo a vida de quase a metade da população do país, de seis milhões de pessoas.

Bloqueios e postos de controle sanitários limitaram a circulação de alimentos e commodities, provocando uma disparada nos preços e o encolhimento dos salários, acrescentou o Pnud.

Segundo o documento, as crianças correm o risco de sofrer pelo menos um ano de interrupção escolar e a morte de mulheres no parto atingiu "taxas alarmantes", devido ao temor que tomou conta de hospitais e de serviços de saúde, cada vez mais sobrecarregados.

"O setor da saúde deixou de atender casos não relacionados com o Ebola", acrescentou o informe.

"Muitos trabalhadores sanitários, que correm mais riscos de contrair o vírus Ebola, pararam de comparecer ao trabalho, levando ao fechamento de clínicas e hospitais", prosseguiu.

"Enquanto isso, pacientes que sofrem de enfermidades não relacionadas com o Ebola estão evitando recorrer a qualquer cuidado de saúde profissional, colocando-se em risco de sofrer danos ou até mesmo de morrer de doenças geralmente evitáveis", acrescentou.

Para o governo leonês, o crescimento do país, até agora, tem sido pior do que o projetado no relatório, situando-se a 4% ao ano em 2014.

O ministro da Economia, Kaifala Marah, confirmou a cifra, ao apresentar ao Parlamento o orçamento do país para 2015, de 3,3 trilhões de leones (US$ 755 milhões).

Ele disse que o governo gastou 80 bilhões de leones na luta contra o Ebola e perdeu 390 bilhões de leones, uma vez que dois terços dos casos de Ebola foram registrados entre a população economicamente ativa, com idades entre 15 e 55 anos.

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