Rio de Janeiro

País não deve parar para assistir a "espetáculo" da Lava Jato, diz ministro

Júlio Cirne
Júlio Cirne
Publicado em 24/02/2015 às 18:20
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O ministro disse que a agenda do governo federal não "ficará presa" aos desdobramentos da Operação  / Foto: Reprodução

O ministro disse que a agenda do governo federal não "ficará presa" aos desdobramentos da Operação Foto: Reprodução

O ministro da Defesa Jacques Wagner disse nesta terça-feira (24) que o país não deve parar para assistir "ao espetáculo da investigação" da Lava Jato. Segundo ele, o governo tem uma agenda própria -citou a reforma política e a organização da Olimpíada em 2016- que não deve ficar presa exclusivamente aos desdobramentos da operação.

Em visita ao estaleiro da Marinha que constrói o submarino brasileiro de propulsão nuclear, em Itaguaí (região metropolitana do Rio), o ministro afirmou que o país tem que separar a investigação da corrupção na Petrobras da agenda do governo.

"A luta contra a corrupção é ininterrupta, porque onde tem dinheiro tem sedução. Não é que eu fique feliz, pelo contrário, eu queria que não tivesse acontecido, mas fico satisfeito de ver que temos a imprensa para fiscalizar e o Judiciário para punir. Mas nós não vamos parar o país para ficar assistindo ao espetáculo da investigação. Esse item tem que ter o seu contexto. Vamos trabalhar agora porque o pessoal [a população] depende de emprego e crescimento econômico", afirmou.

Wagner já havia defendido, ainda que de maneira não explícita, a investigação de empresas e a sua preservação como instituição. De acordo com o ministro, um país é conhecido pela sua cultura e também pelas suas companhias locais.

O ministro respondia se haveria alguma preocupação no governo por atraso nas obras do submarino nuclear, já que a Odebrecht, uma das empresas investigadas na Lava Jato, é sócia no empreendimento. "Eu acho que a gente tem que separar o que é a bem-vinda investigação dos que cometeram ilícito da bem-vinda manutenção das empresas brasileiras, que ao longo da sua história representam a inteligência nacional", disse.

Ele chegou a dizer que tem orgulho da Odebrecht, ao lembrar que ela foi uma das construtoras do aeroporto de Miami, na Flórida (EUA). Afirmou, contudo, que se forem comprovados desvios e irregularidades, os responsáveis devem ser punidos. "Graças a Deus o Judiciário, a Polícia Federal e o Ministério Público funcionam no país."

TESTEMUNHA - Wagner, indicado como testemunha pela defesa de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, não disse se iria comparecer ou não. Segundo ele, seu nome foi cogitado "talvez" porque a UTC tenha obras na Bahia, onde ministro foi governador (2007-2014). Ele voltou a negar que tenha recebido doações da empresa para a campanha de 2006, mas admitiu, novamente, que recebeu valores da empresa em 2010. Contudo, se contradisse na resposta sobre o tema.

Inicialmente, disse que não recebeu em 2006 e confirmou que recebeu em 2010 e que seu candidato à sucessão, em 2014, também teria recebido. Na mesma resposta, ao justificar que suas contas foram aprovadas pelo TRE da Bahia, disse que a UTC "deu contribuição em 2006 e deu contribuição em 2010". Segundo ele, as doações estão registradas e "não tenho preocupação em relação a isso".
O ministro disse ainda que o "sofrimento da sociedade" com a Lava Jato irá servir para que a reforma política vá adiante e que haja mudança no financiamento privado de campanha política.

"A máquina de financiamento privado de campanha no Brasil é claramente danosa à relação público-privada", afirmou.

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