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Candidatos proporcionais em Pernambuco vão da mobilização para o guia

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 01/10/2014 às 18:34
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Aldo Lima e Pedro Josephi têm em comum a bandeira do transporte coletivo / Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem e Divulgação

Aldo Lima e Pedro Josephi têm em comum a bandeira do transporte coletivo Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem e Divulgação

Habituados a adotar postura política em sindicatos e movimentos estudantis e sociais, líderes desses grupos muitas vezes levam essa experiência para as urnas, buscando representação para as suas bandeiras no poder legislativo. Em Pernambuco, alguns candidatos a deputado seguem essa lógica, ainda mais após os protestos por melhorias em diversos serviços, como educação e saúde, que marcaram o País no ano passado e envolveram diversos movimentos.

Um dos postulantes no Estado é Aldo Lima (PSTU), 30 anos, líder oposicionista do Sindicato dos Rodoviários. Ele está na categoria há dez anos e há dois iniciou, junto com a central sindical CSP-Conlutas, a mobilização contra o ex-presidente da entidade, Patrício Magalhães, no cargo havia três décadas. Foram convocadas eleições, mas Aldo não pôde concorrer, indicando Benilson Custódio no seu lugar. Durante a negociação salarial deste ano, já houve um racha - o antigo líder, agora candidato, foi acusado de usar a categoria para fazer campanha.

Aldo se filiou ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado pouco depois de iniciar a mobilização entre os rodoviários e a decisão de lançar o seu nome como candidato a uma das 49 vagas na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) foi da legenda. “A dificuldade da classe trabalhadora brasileira não se resolve somente na luta sindical”, justifica. “Quando conseguimos tirar o presidente que deixou de atender aos anseios da categoria, resolvemos o problema interno, mas não da sociedade”, acrescenta.

Embora esteja em campanha, Aldo deixa nas entrelinhas que não deve ser eleito, já que o seu partido pode não atingir o coeficiente partidário. “A eleição não é o que resolve o problema, é um momento em que possa dar opção de voto, um voto de protesto, de luta”, diz.

A suspensão do sistema recém-instalado de Bus Rapid Transport (BRT) e o passe livre para  estudantes e desempregados são duas das propostas do rodoviário, caso, apesar da desconfiança, seja eleito. As duas para a mobilidade urbana.

Especialistas apontam que a entrada de integrantes desses líderes de entidades na vida pública no Brasil remetem, principalmente, a dois períodos: o primeiro é o Estado Novo, quando o presidente era Getúlio Vargas e foi instituída a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e o segundo é a criação do Partido dos Trabalhadores, no período da redemocratização após a ditadura militar, com destaque para a figura do ex-presidente Lula (PT).

“Desde o tempo em que começou a se organizar, o trabalhador foi em busca dos seus direitos, foi procurar suas defesas e a melhoria, e percebeu que o fórum apropriado é o da política. O que provocou isso foi essa relação entre capital e trabalho”, explica o cientista político e sociólogo Ruyter Bezerra.

Reconhecido por ser um dos coordenadores da Frente de Luta pelo Transporte Público de Pernambuco, um dos grupos protagonistas de mobilizações no Recife contra o aumento das tarifas e por melhores condições no serviço, Pedro Josephi (PSOL), 24 anos, é militante do Partido Socialismo e Liberdade há quatro anos, mas tem suas bases na política e na corrente de pensamento no movimento estudantil e nas leituras que fez nas pastorais católicas.

Como estudante secundarista ajudou a criar o grêmio estudantil da escola onde estudava e na faculdade foi presidente do Diretório Acadêmico do curso de direito da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), além de secretário-geral do Diretório Central dos Estudantes. “O movimento estudantil é a escola de todo militante. Primeiro porque deixa de estar solitário, passando a entender que política não é caridade, que se faz sozinho e criando a consciência de que é necessário se organizar coletivamente. Temos que despertar para que a universidade não é apenas a sala de aula”, afirma.

Filiado desde 2010 à legenda, por se encantar com a postura de Plínio de Arruda Sampaio nos debates presidenciais, entre outros motivos, Pedro Josephi fez parte da campanha do seu aliado Edilson Silva à Câmara do Recife no último pleito - embora tenha sito o terceiro mais bem votado, não foi eleito, já que a sigla não atingiu o coeficiente. O partido o lançou candidato a deputado estadual através de uma estratégia política para atingir o número mínimo de votos para indicar pelo menos um parlamentar, que seria o próprio Edilson. “O partido sentiu necessidade de ter várias figuras públicas além do próprio Edilson. A juventude que estava nas ruas sentiu necessidade de ter candidatura que pudesse reivindicar”, explica. Embora tenha como candidata a presidente Luciana Genro, na tentativa de eleger o primeiro deputado em Pernambuco, o Socialismo em Liberdade também se coligou ao Partido da Mobilização Nacional, que apoia Aécio Neves (PSDB), o que intitulam aliança programática.

Se eleito, Pedro Josephi tem entre as suas propostas a radicalização da democracia e da participação popular; a fiscalização e a apresentação de projetos de lei para que as discussões dos conselhos temáticos pautem as decisões do governo; a flexibilização do número de assinaturas para que os projetos de iniciativa popular entrem na pauta; a garantia ao trabalho e à saúde dos profissionais do sexo e de grupos vulneráveis; e a estadualização de universidades que estão sob gestão municipal.

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