Despedida

Saburido diz em missa campal: Não podemos desistir

Inês Calado
Inês Calado
Publicado em 17/08/2014 às 12:21
Leitura:

Milhares de pessoas lotaram a Praça da República na despedida a Eduardo Campos / Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Milhares de pessoas lotaram a Praça da República na despedida a Eduardo Campos Foto: Diego Nigro/JC Imagem

"As cortinas da angústia encerram nossos corações. Mas não podemos desistir. Não podemos desistir do Brasil, como afirmava nosso querido Eduardo Campos", disse o arcebispo de Olinda e Recife dom Fernando Saburido ao abrir a missa campal em memória do ex-governador de Pernambuco e seus assessores Carlos Percol e Alexandre Severo. A afirmação de Saburido mal terminou de ser proferida e já era fortemente aplaudida pelos admiradores pesarosos que lotaram a Praça da República, no Centro da capital pernambucana, desde a madrugada deste domingo (17). 

A primeira leitura da celebração foi feita pelo filho mais velho do ex-governador, João Henrique Campos, de 20 anos, seguido por trecho bíblico entoado pelo irmão, Pedro Henrique. No entorno da estrutura montada para a cerimônia, milhares de corações apertados seguiam a cerimônia. Muitos incrédulos, outros chorosos, alguns perplexos. A dor - quase palpável - era um pouco apaziguada pelas palavras de Saburido. "Está morto um homem, mas que tem suas convicções vivas e que não teve a fraqueza de vender sua consciência", afirmou, completando em referência às demais vítimas: "Eles estão vivos. Não vivem somente na nossa lembrança - que tem dificuldade de acreditar que (eles) morreram, mas vivem porque estão em Deus, na vida definitiva". 

Mariana Dantas/ NE10
Dezenas de coroas de flores na calçada do Palácio - Mariana Dantas/ NE10
Luiz Pessoa/ NE10
Caixão de Eduardo Campos está coberto com bandeiras do Brasil, de PE e do PSB - Luiz Pessoa/ NE10
Mariana Dantas/ NE10
Mais de 20 bispos do Nordeste participam da cerimônia - Mariana Dantas/ NE10
Mariana Dantas/ NE10
Milhares de pessoas participam da missa campal - Mariana Dantas/ NE10
Mariana Dantas/ NE10
Viúva e filhos acompanham as palavras de dom Fernando - Mariana Dantas/ NE10
Mariana Dantas/ NE10
Caixão e familiares do fotógrafo Augusto Severo - Mariana Dantas/ NE10
Mariana Dantas/ NE10
Filhos de Eduardo Campos acompanham missa campal - Mariana Dantas/ NE10
Mariana Dantas/ NE10
Caixão e familiares do fotógrafo Augusto Severo - Mariana Dantas/ NE10
Diego Nigro/JC Imagem
Famílias compareceram ao velório para o último adeus a Eduardo Campos - Diego Nigro/JC Imagem
Mariana Dantas/ NE10
Familiares de Eduardo Campos acompanham missa campal - Mariana Dantas/ NE10
Diego Nigro/JC Imagem
José, filho de Eduardo, se abraça ao caixão do pai - Diego Nigro/JC Imagem
Luiz Pessoa/ NE10
João Henrique se emociona diante do corpo do pai - Luiz Pessoa/ NE10
Luiz Pessoa/ NE10
Dezenas de terços estão pendurados na imagem de Eduardo sobre o caixão - Luiz Pessoa/ NE10

Todos ali estavam em uma espécie de comunhão com a família de Eduardo Campos. Com Renata, com os filhos Maria Eduarda, Pedro, João, José e Miguel. Com a mãe Ana e o irmão Antônio. "Sentíamos nele, acima do gestor, um ser humano apaixonado pelo povo - especialmente os mais empobrecidos. Isso o aproximou muito de cada um de nós, mesmo para aqueles que nunca o viram de perto", expressou pela multidão dom Fernando Saburido.

Pelo mistério da Fé, eles estarão para sempre conosco

A dor instalada foi comparada pelo arcebismo, em determinado momento, com o calvário enfrentado por Nossa Senhora. "Nesta hora, por exemplo, é como se estivéssemos diante de um outro calvário. Estamos ouvindo o clamor de tristeza de esposas e filhos, pais e irmãos, familiares e amigos, enfim, de todo o povo de Pernambuco e do Brasil. Perguntemos à Virgem Maria como é que ela foi capaz de permanecer de pé junto à cruz de seu Filho!? Deus lhe deu forças, mas também lhe deu força a convicção que levou seu Filho a amar-nos até o fim. O calvário não é o fim do percurso da vida de Jesus, nem de seus discípulos", explicou aos presentes. 

A característica cristã de Campos e o apreço pelos momentos em família também foi tocado pelo arcebispo. "Durante esta semana veicularam nas redes sociais muitas imagens de Eduardo. Mas nenhuma emocionou mais do que aquelas que o mostrava no aconchego do lar, com sua família, sua mulher e seus filhos". Aspecto este notado na cantoria de Nossa Senhora, quando todos se abraçaram. João, sempre ao lado do caixão. José, agarrado à mãe, que o cobria de beijos e afagos. Maria Eduarda abraçada à avó. 

O filho José, abraçado ao caixão, é amparado pelo irmão João

O filho José, abraçado ao caixão, é amparado pelo irmão JoãoFoto: Diego Nigro / JC Imagem

Um trecho do poema O Último Andar, de Cecília Meireles, foi lido pela atriz Geninha da Rosa Borges, primeira dama do teatro pernambucano. "No último andar é mais bonito: do ultimo andar se vê o mar. É lá que eu quero morar. O último andar é mais longe: custa muito a lá chegar. Mas é lá que eu quero morar", dizia a primeira estrofe. No término da missa, a multidão gritou em coro "Eduardo, guerreiro, do povo brasileiro". As palavras de ordem foram logo acompanhadas fortemente pelos familiares. 

As últimas palavras de Saburido tentaram, ao menos, confortar aqueles que ali estavam. "Esperamos confiantes que eles estejam Convosco para sempre. Acolhei-vos em Vossa casa, que nós ainda estamos a caminho. Ajudai-vos, Senhor, a consolar-nos uns aos outros", clamou o arcebispo.  

Mais lidas