Entrevista

Em vídeo, Dilma defende Lula e diz não ter sentimento de vingança contra Cunha

Com informações da AFP
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Publicado em 18/02/2017 às 18:26
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Quase seis meses após sair dos holofotes depois de sofrer o impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) voltou a falar sobre o cenário político. Em entrevista à Agência France Presse, divulgada neste sábado (18), a petista voltou a defender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), suspeito de envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras. Ela também afirmou que não guarda sentimento de vingança contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cérebro por trás da destituição.

"Apesar de todo processo de tentativa de destruição da personalidade e da história, o Lula continua em primeiro  lugar. Lula continua sendo espontaneamente o mais votado", defendeu a ex-presidente sobre a pesquisa da eventual disputa nas eleições 2018. Segundo o levantamente da CNT/MDA, divulgada na última quinta-feira (15), Lula venceria a disputa caso as eleições fossem esta semana.

De acordo com a pesquisa, Lula apresenta hoje 30,5% das intenções de votos contra 11,8% de Marina Silva; 11,3% do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). O senador Aécio Neves (PSDB-MG) aparece apenas como quarto colocado, com 10,1%. Ciro Gomes (PDT-CE) tem 5% e o presidente Michel Temer conta com 3,7%.

Mesmo por trás dos autores envolvidos em sua destituição, Dilma afirma que não guarda rancor do ex-presidente da Câmara dos Deputados. "Eu não  tenho relação com Eduardo Cunha e nem um  sentimento de vingança. Ou qualquer coisa que eu valha. Eu não tive em relação a torturador, nem tão pouco para Eduardo  Cunha". Atualmente, o peemedebista está preso acusado de receber propina de contrato de exploração de Petróleo no Benin, na África, e de usar contas na Suíça para lavar o dinheiro.

EVARISTO SA / AFP
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Dilma não descarta disputa no legislativo

Destituída em 2016 pelo Congresso, sob a acusação de maquiar as contas públicas, a ex-presidente de esquerda passa seus dias em Porto Alegre, onde segue obedientemente sua rotina de exercícios físicos e passeios de bicicleta, e só parece perder a paciência quando é consultada sobre o escândalo de corrupção da Petrobras que atingiu seu governo.

"Eu não serei candidata a presidente da República, se é essa a sua pergunta. Agora, atividade política, nunca vou deixar de fazer (...) Eu não afasto a possibilidade de eu me candidatar para esse tipo de cargo: senadora, deputada, esses cargos", declarou na tarde da última sexta-feira (17) em Brasília.

Apesar do impeachment, Dilma não perdeu seus direitos políticos para ocupar cargos públicos, e pode, portanto, ser candidata a cargos eletivos. Esta decisão, tomada pelo Senado, surpreendeu porque o único precedente que existia apontava para o contrário. O ex-presidente Fernando Collor de Mello renunciou em 1992 durante o impeachment e ficou inabilitado para ocupar cargos públicos durante oito anos.

Aos 69 anos, esta ex-guerrilheira marxista disputou apenas dois cargos eletivos em sua vida: a Presidência, que venceu em 2011, e a reeleição de 2014, ambas pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Questionada sobre como é possível que desconhecesse a monumental rede de subornos que drenou mais de dois bilhões de dólares da Petrobras para financiar campanhas políticas, Dilma abandona o semblante afável que adotou após seu impeachment. "Os processos são extremamente complicados (...) Ninguém no Brasil sabe de todos os processos de corrupção hoje", afirmou.

Primeira mulher a chegar à chefia de Estado do Brasil, Dilma conserva em sua conta do Twitter a frase "presidenta eleita do Brasil". Como o País não concede nenhum tipo de pensão aos seus ex-presidentes, Dilma se mantém financeiramente com os 5.300 reais mensais que recebe de aposentadoria por ter sido funcionária do Estado do Rio Grande do Sul e completa sua renda com o aluguel de quatro apartamentos familiares.

Dilma voltou a defender Lula, suspeito de envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras / Foto: AFP

Dilma voltou a defender Lula, suspeito de envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras Foto: AFP

Impeachment

Afilhada política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010), símbolo de uma esquerda latino-americana que perdeu grande parte de seu crédito pelos escândalos de corrupção, Dilma diz que não costuma ter problemas ao percorrer as ruas do bairro Tristeza, onde vive em Porto Alegre, nem quando viaja ao Rio de Janeiro para visitar sua mãe. Mas, com as lembranças do impeachment ainda frescas na memória do país, afirma não ter garantias, apesar de contar com um guarda-costas. "Nada impede que alguém me agrida", declara.

Entre maio e agosto de 2016, o Brasil viveu um impeachment traumático, cujo ato final ocorreu no Senado, onde Dilma Rousseff se defendeu por mais de 10 horas. Sua queda foi precedida por uma série de acusações de corrupção contra seu partido, que alimentaram grandes protestos nas ruas.

Dilma diz repassar "sistematicamente" os documentos do processo que a retirou do poder e que encerrou um ciclo de mais de 13 anos do PT no governo, substituindo-a por seu vice, o conservador Michel Temer, a quem acusou de liderar um "golpe parlamentar".

"As pedras de Brasília e as emas da Alvorada sabiam que eles estavam inventando um motivo para me afastar", afirma, em uma referência ao tempo em que vivia no Palácio da Alvorada, cercado de jardins intermináveis povoados por pássaros.

"Foi a chamada justiça do inimigo: não se julga, se destrói", acrescenta.

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