Urbanismo

Recife deve ter mais praças e parques, defende coordenadora do Laboratório da Paisagem da UFPE

Mariana Dantas
Mariana Dantas
Publicado em 20/11/2014 às 8:16
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Para Ana Rita, a cidade deve ser vista como um espaço público em sua totalidade / Foto: Mariana Dantas/NE10

Para Ana Rita, a cidade deve ser vista como um espaço público em sua totalidade Foto: Mariana Dantas/NE10


“A cidade é uma extensão dos seus moradores. Sua paisagem desperta sentimentos, a partir do que vemos, ouvimos ou até do cheiro. Quem, por exemplo, não guarda na memória um momento bom vivido em um espaço público da cidade? Seja na praia, na rua, no parque ou praça?”. As observações são da arquiteta Ana Rita Sá Carneiro, que defende o investimento nos espaços públicos como única alternativa para tornar o Recife mais humano. Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Rita também coordena o Laboratório da Paisagem, núcleo acadêmico que desenvolve pesquisas voltadas para a paisagem da cidade.


Para a professora, a cidade deve ser vista como um espaço público em sua totalidade, um ambiente comum a todos. “O desenho urbano deve priorizar a vida social. Mas, infelizmente, a ocupação do Recife é segregada, sempre foi assim, desde os tempos dos engenhos. Gilberto Freyre descreve isso muito bem na obra Casa Grande & Senzala. E hoje vivemos a mesma segregação, em uma cidade dividida entre áreas ricas e Zeis (Zonas de Interesse Social)”, afirma Ana Rita, destacando que as áreas mais pobres também são as mais carentes de espaços públicos. 
Os prédios causam um impedimento da paisagem, afirma Ana Rita

Os prédios causam um impedimento da paisagem, afirma Ana RitaFoto: Boby abisak



O processo de verticalização do Recife também é apontado pela pesquisadora como uma agressão à paisagem, que provoca um desconforto aos moradores. Ela cobra do poder público um maior controle da cidade. “Os prédios causam um ‘impedimento’ da paisagem. Ao chegar em sua janela e avistar uma barreira de concreto, a sensação que temos é de embutimento, esmagamento, como se estivéssemos presos”, afirma Ana Rita.

Ana Rita defende que, além de investir em novas áreas de convivência, como parque e praças, é preciso pensar em propostas que atendam às necessidades da população. “O projeto de um parque precisa ser bem feito porque pode comprometer o uso. É preciso ouvir a população para saber suas necessidades sob risco de a área ser rejeitada”, explica a professora, citando como exemplo o Parque do Caiara, na Zona Oeste,  que, embora tenha uma área verde extensa, não foi abraçado pela população do entorno. “Acredito que as pessoas não se identificaram com a proposta e a identidade é fundamental”, disse. A Empresa de Urbanização do Recife do Recife (URB) informou que o Caiara passa por uma readequação do projeto e deverá funcionar como centro de atividades esportivas. Mas a obra está atrasada.

Largo do Mercado de Casa Amarela foi tomado pelos feirantes

Largo do Mercado de Casa Amarela foi tomado pelos feirantesFoto: Guga Matos

CONSERVAÇÃO - A conservação das áreas públicas já existentes é outra preocupação de Ana Rita. Ela é defensora do legado deixado pelo paisagista Burle Marx, que criou 54 jardins na cidade, sendo 20 em áreas públicas. Os seis mais representativos são as praças de Casa Forte, Euclides da Cunha (Benfica), do Derby, da República (Centro do Recife), Salgado Filho (Imbiribeira, em frente ao aeroporto) e Faria Neves (Dois Irmãos). “São jardins históricos assinados por um paisagista internacionalmente conhecido, que precisam de uma maior atenção", observa. Ela comenta o estado desses locais: "A Praça do Derby e Salgado Filho receberam intervenções recentemente e estão em bom estado. Mas a Faria Neves, que foi reformada em 2006 e ficou belíssima, hoje está completamente destruída porque não existe controle urbano. Nos fins de semana, ambulantes pisam no jardim e pôneis ocupam o espaço". A arquitetura também pede reparos na Euclides da Cunha,  revitalizada em 2002.

A crítica à falta de controle urbano não se restringe às praças. Ana Rita reclama do estado das calçadas e dos canais que cortam a cidade. “Os canais do Recife poderiam ser transformados em corredores verdes, arborizados”. Ela destaca a situação dos pátios e largos históricos. “Esses locais tão ricos historicamente estão esquecidos, ocupados pelo comércio informal. O largo do Mercado de Casa Amarela (Zona Norte), por exemplo, foi tomado pelos feirantes. Já o largo da Encruzilhada sofreu redução devido a obras viárias”.


Parque Linear Caminho das Capivaras terá áreas de lazer e convivência

CAMINHO DAS CAPIVARAS – Como exemplo positivo de um projeto que propõe integrar realmente a capital pernambucana, Ana Rita cita o Parque Capibaribe – Caminhos da Capivaras, elaborado por pesquisadores da UFPE e lançado recentemente pela Prefeitura Recife. O projeto prevê intervenções às margens do Rio Capibaribe, numa área de 30 quilômetros de extensão, integrando o rio à cidade, através de novos espaços de convivência, passeios públicos para os pedestres e ciclovias. “É um projeto estruturador, que enxerga a cidade como sistema. Torço para que dê certo”.

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