Iraque

Forças do Iraque lançam batalha para recuperar oeste de Mossul

Lucas Vaz Lemos
Lucas Vaz Lemos
Publicado em 19/02/2017 às 15:53
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Dois carros-bomba foram destruídos e mais de 20 extremistas foram mortos pelas forças iraquianas / Foto: AFP

Dois carros-bomba foram destruídos e mais de 20 extremistas foram mortos pelas forças iraquianas Foto: AFP

Milhares de soldados e policiais iraquianos lançaram neste domingo uma ofensiva para tomar o oeste de Mossul do grupo extremista Estado Islâmico (EI), enquanto as organizações humanitárias se preocupam com o destino dos 750.000 civis bloqueados na região.

A operação começou no início da manhã e permitiu a tomada de uma dezena de povoados ao sul de Mossul, no caminho que leva ao aeroporto, um dos principais objetivos das tropas governamentais.

Perto da linha de frente, nas colinas de Al Buseif e a apenas de cinco quilômetros do aeroporto, era possível observar intensos bombardeios e fogo de artilharia, constatou uma jornalista da AFP.

"Até o momento, alcançamos todos os nossos objetivos. Destruímos ao menos dois carros-bomba e matamos mais de 20 extremistas", disse o general Abas al Juburi, comandante da Força de Intervenção Rápida, chave na luta contra o EI.

O anúncio desta operação foi feito quatro meses após o lançamento de uma grande ofensiva para retomar Mossul, segunda cidade do país e capital da província de Nínive. Após semanas de duros combates, as forças iraquianas conseguiram em janeiro controlar a zona oriental da localidade.

"Nínive, viemos libertar a parte ocidental de Mossul do terror do Daesh (acrônimo árabe do EI)", anunciou o primeiro-ministro Haider al-Abadi na televisão.

 

Protejam as crianças

As forças governamentais, formadas por soldados, policiais e milícias, recebem o apoio da aviação da coalizão internacional dirigida por Washington e o assessoramento de conselheiros militares americanos.

Em primeiro lugar, a polícia federal e a Força de Intervenção Rápida tentarão tomar o aeroporto, situado ao sul da cidade, a oeste do Tigre, o rio que divide Mossul em dois.

A violência dos combates que se anunciam preocupa a ONU, que lançou "uma corrida contra o tempo" para montar novos acampamentos, diante da possibilidade de que a nova ofensiva provoque a fuga de parte da população.

A ONG Save The Children convocou, por sua vez, as forças iraquianas a fazer todo o necessário para proteger as 350.000 crianças presas no oeste de Mossul.

"As crianças se encontram ante uma escolha macabra: as bombas, os combates e a fome, se ficarem, ou as execuções e os disparos de franco-atiradores, se tentarem fugir", afirmou Mauricio Crivallero, diretor no Iraque da ONG.

Cercado no seu último grande reduto no Iraque, o EI opõe desde 17 de outubro uma feroz resistência para defender Mossul, onde seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou um califado em junho de 2014.

 

Casa por casa

Depois de ter conseguido controlar os arredores de Mossul, as forças de elite iraquianas - as unidades do serviço antiterrorista - precisaram de mais de dois meses para reconquistar, no final de janeiro, a parte leste de Mosul. 

E a reconquista da parte ocidental, com maior densidade populacional, será ainda mais difícil, já que as ruelas da cidade velha dificultarão a passagem dos veículos militares, advertem os analistas.

A batalha pelo oeste de Mossul "pode ser mais difícil, com combates casa por casa, mais sangrentos e em maior escala", afirma Patrick Skinner, do Soufan Group Intelligence Consultancy. 

Além disso, os extremistas podem se beneficiar de um maior apoio dos moradores da zona oeste, em sua maioria sunitas, do que na parte leste, estimam os especialistas. 

"A resistência do EI pode ser maior nesta área e será mais difícil, mas é mais essencial", afirma Emily Anagnostos, do Institute for the Study of War.

As forças federais sofrem um desgaste significativo, mas a situação do EI é ainda pior. Os extremistas podem não ter recursos suficientes para defender o oeste de Mossul de forma eficaz.

A coalizão internacional liderada por Washington celebrou neste domingo a retomada da ofensiva, "uma batalha difícil para qualquer exército", afirmou o comandante americano Stephen Townsend. 

A conquista de Mossul significaria o fim da presença no Iraque de EI como força implantada em seu território.

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