Política americana

Era Trump: o que esperar do novo presidente dos Estados Unidos

Ingrid Cordeiro
Ingrid Cordeiro
Publicado em 19/01/2017 às 9:45
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Esta sexta-feira (20) será de grande atenção do mundo inteiro aos Estados Unidos. Neste dia, que promete ser de chuva e baixas temperaturas em Washington D.C., o polêmico presidente eleito Donald Trump tomará posse no mais alto cargo da política americana e mundial. Os últimos dias têm sido de pesquisas que mostram sua impopularidade e promessas de protestos. Do outro lado, o democrata Barack Obama deixa a Casa Branca com uma das popularidades mais altas para um presidente americano:  60% aprovam sua gestão. 

Mas o que o novo presidente dos EUA tem a ver com o Brasil? Como ele pode influenciar nossa economia e por que questões como imigração americana e terrorismo deveriam nos interessar? Quem responde é o cientista político Thales Castro, doutor pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

Os dias que antecedem a posse de Donald Trump e sua equipe de governo têm sido de pesquisas que mostram sua impopularidade com os americanos e promessa de protestos / Foto: Spencer Platt / Getty Images / AFP

Os dias que antecedem a posse de Donald Trump e sua equipe de governo têm sido de pesquisas que mostram sua impopularidade com os americanos e promessa de protestos Foto: Spencer Platt / Getty Images / AFP

Um homem de negócios à frente da política americana

Formado em economia pela Universidade da Pensilvânia, em 1971 Trump recebeu do pai o controle da empresa de imóveis da família. Durante a sua carreira no mundo dos negócios, construiu cassinos, hotéis, campos de golfe, torres de escritórios e outros empreendimentos que levam o seu sobrenome no mundo todo.

Além disso, também foi dono do concurso de beleza mais famoso dos Estados Unidos: o Miss USA, de 1996 até 2015. No ano passado, apareceu na lista da famosa revista Forbes como a 113ª pessoa mais rica dos EUA com um patrimônio líquido de US$ 4,5 bilhões.

Donald Trump pode ter uma vasta experiência à frente dos negócios, mas quando o assunto é a Casa Branca e a política americana, o empresário ainda terá que provar a quê veio.

Para Thales Castro, o governo que se inicia a partir desta sexta ainda é uma icógnita. "Trump entende que o mundo tem uma cabeça voltada para o business americano. É um presidente exótico no exercício da Casa Branca. A questão mais grave sobre ele ainda é a não experiência para o cargo". De acordo com o cientista político, os primeiros dias de Trump serão para tentar entender como funciona a máquina governamental: "Os cem primeiros dias serão de observação." 

 

Governo Temer e Governo Trump: o que esperar para os próximos anos

Um mês após declarada a vitória do magnata contra a democrata Hillary Clinton, o presidente brasileiro Michel Temer ligou para Trump. Na conversa, Temer reafirmou que o Brasil tem interesse em manter investimentos e uma agenda em comum entre os dois países.

Segundo uma nota divulgada pelo Palácio do Planalto na época, a conversa havia sido "amigável e positiva". Nesta ligação ainda houve um acordo entre os dois presidentes de que já em fevereiro haverá uma agenda bilateral entre os países para o crescimento.

Logo que Trump foi eleito, Temer enviou uma carta parabenizando o empresário e reforçando o desejo de manter os lanços comerciais com os Estados Unidos. Segundo Thales Castro, as relações entre os países não terão mudanças bruscas. "Os EUA continuarão com uma relação de cordialidade com o Brasil. Nesse aspecto, não há mudança estratégica. Os países vão se tratar com a gentileza típíca da esfera diplomática, já que o Brasil não é um daqueles países que Trump citou como problemáticos, como no caso do México."

 


Trump: os imigrantes e o clima

Muro, cercas e deportações. Essa é a tríade defendida na corrida presidencial pelo presidente eleito quando o assunto é imigração. Donald Trump afirmou várias vezes - seja em comícios ou em programas de televisão - sobre a intenção de construir um muro que separe os Estados Unidos do México. 

Em uma entrevista para o programa "60 minutes" do canal americano CBS, ele afirmou o motivo que o fará levantar a edificação. "Quando o México manda gente para os Estados Unidos, não está mandando os melhores. Eles estão mandando pessoas que têm muitos problemas e estão trazendo esses problemas para nós. Eles estão trazendo drogas, estão trazendo crime, estão trazendo estupradores, e, alguns, presumo, são boas pessoas". Segundo o empresário, depois que ele assumir o cargo, nesta sexta, até 3 milhões de pessoas devem ser deportadas dos EUA, o que também inclui brasileiros.

Para Thales Castro, o presidente eleito vai cuidar de questões importantes para o mundo como a imigração e o clima sem o conhecimento necessário para tal. "Ele vai tratar as questões mundiais com o mesmo desconhecimento de causa que ele apresentou durante a campanha. Na questão climática, por exemplo, o presidente eleito acredita que o mundo não está passando pelo aquecimento global que é propagado e pretende ser um presidente que vai destruir o legado da COP 21 (conferência do clima realizada em Paris, no ano passado)"

 

Mala preta, protestos e Latino na posse de Trump

A sexta-feira será movimentada para o presidente eleito. Em meio a vários protocolos - Trump pretende quebrar alguns, como o desfile que, com ele, durará apenas 90  minutos - haverá a entrega de uma maleta preta que contém alguns documentos e instruções para a ativação de armas nucleares espalhadas no mundo, além de um cartão com códigos de ativação para o presidente levar no corpo. Um café da manhã com a família Obama e um desfile entre a Casa Branca e o Capitólio, local da posse, também estão na agenda.

O maior protesto previsto será a Marcha das Mulheres, que acontecerá no sábado (20), dia em que o presidente eleito vai à Catedral Nacional de Washington para uma cerimônia de oração que marca o início do novo mandato. Na posse do presidente, na sexta-feira, 400 ônibus pediram autorização para estacionar na cidade, segundo autoridades, já no dia da marcha os pedidos ultrapassam 1.800. 

Pesquisas divulgadas no início da semana mostram que Trump é um dos presidentes eleitos com a popularidade mais baixa dos Estados Unidos. De acordo com Thales Castro, o mandato do magnata será de grandes desafios. "Os americanos vão precisar reatar as feridas da campanha e elas precisarão ser curadas por causa do momento crítico em que o país vive como a questão racial e das mulheres, já que a radicalização política é grande", explica o cientista político.

 

 

Em uma ação promovida por uma rádio brasileira, o cantor Latino foi convidado a assistir a posse do presidente eleito e se hospedar em um dos hoteis de luxo de Trump. De acordo com o comunicado da rádio, a intenção é mostrar que os latinos são boas pessoas, em referência à política de imigração do empresário.

"Trump ganhou as eleições nos Estados Unidos e já avisou que vai ficar de olho em nós, latinos. Mas como a Mix quer mostrar para o Trump que Latino é gente boa e só quer festa, a gente manda você pra posse do presidente dos Estados Unidos, em Washington!", dizia a promoção que também levará uma ouvinte.

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