Nepotismo

Trump nomeia genro como conselheiro e gera incógnitas legais e éticas

Maria Luisa Ferro
Maria Luisa Ferro
Publicado em 10/01/2017 às 10:08
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Audiências de ética com os escolhidos por Trump para compor o governo começam nesta terça (10) / Foto: AFP

Audiências de ética com os escolhidos por Trump para compor o governo começam nesta terça (10) Foto: AFP

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na segunda-feira (9) a designação de seu genro, Jared Kushner, promotor imobiliário e editor de revistas, como alto conselheiro da Casa Branca, ignorando várias questões legais e éticas. Nesta terça-feira (10), começam as audiências de confirmação dos futuros 'ministros' de seu governo, e a nomeação de Kushner formaliza o papel fundamental desempenhado pelo marido de sua filha Ivanka.

Um comunicado confirmou na segunda-feira à noite esta nomeação anunciada poucas horas antes pela imprensa americana. Nas últimas semanas, muito se especulou sobre o papel que o jovem empresário, de 36 anos, teria na Casa Branca, como a sua influência tem crescido nos últimos meses.

Kushner, que renunciou a qualquer salário para assumir o cargo, "tem sido um ativo tremendo e um assessor de confiança através da campanha e da transição, e estou orgulhoso por tê-lo em um papel de liderança no meu governo", declarou Trump, que participará na quarta-feira de sua primeira coletiva de imprensa desde a sua eleição.

Jared Kushner, que não tinha experiência política antes de se tornar o cérebro da campanha de seu sogro, é o mais jovem da lista de pessoas indicadas por Trump para ajudá-lo a governar os Estados Unidos. Ele que sempre trabalhou nas sombras deverá operar "em estreita colaboração" com o polêmico Steve Bannon, conselheiro estratégico e figura do "alt-right" próximo dos nacionalistas, e de Reince Priebus, secretário-geral da Casa Branca.

'Todos vão passar'

Segundo alguns comentaristas, Kushner, que preside uma grande empresa imobiliária herdada de seu pai, poderia estar acima de Bannon e Priebus: todo presidente tem  "uma ou duas pessoas nas quais confia intuitivamente e estruturalmente. Jared poderia ser esta pessoas", declarou recentemente o ex-secretário de Estado Henry Kissinger à revista Forbes, que conhece muito bem Trump.

Kushner não terá que passar pelo Congresso para ter sua nomeação validada, mas os membros da futura administração Trump deverão receber a autorização dos congressistas, incluindo senadores, que vão começar suas audiências nesta terça-feira. Entre os primeiros a ser ouvido figura Jeff Sessions, um republicano ultraconservador que Donald Trump quer nomear ao cargo de secretário da Justiça, ou o ex-general John Kelly, que deve liderar o departamento de Segurança Interna.

Rex Tillerson, o futuro secretário de Estado será auditado a partir de quarta-feira (11). Segunda-feira, Trump expressou sua confiança de que "todos vão passar".

Fidelidade a toda prova

A nomeação de Kushner, rico presidente das Empresas Kushner, poderia alimentar as críticas a respeito dos assessores milionários que cercam o próximo presidente, eleito, em parte, com a promessa de ser o porta-voz dos perdedores da globalização. Vários analistas também estimam que a designação de Jared pode violar a lei federal de nepotismo e representar conflito de interesses entre seus negócios e o trabalho para o governo.

Os advogados de Kushner acreditam, no entanto, que a lei que proíbe funcionários públicos de contratar membros da família não vale para o seu caso, porque a Casa Branca não é uma agência do governo, segundo o New York Times.

Quanto aos conflitos de interesse do jovem, uma advogada contratada por Kushner disse na segunda-feira em um comunicado que "ele deixará suas funções" nas suas empresas, distanciando-se das questões que possam ter "um efeito direto e previsível" sobre os seus interesses financeiros.

"Kushner está determinado a respeitar as leis federais americanas em matéria de ética e estamos em contato com o bureau federal de ética governamental sobre as medidas a adotar", declarou Jamie Gorelick, advogado de Kushner na empresa WilmerHale e procurador-geral no governo de Bill Clinton.

Durante a campanha, Kushner seduziu seu sogro demonstrando uma fidelidade a toda prova. Kushner - que ao contrário de Trump não utiliza jamais o Twitter e deixa a sua esposa Ivanka a tarefa de promover sua família no Instagram - chegou ao posto de maestro assegurando com sucesso a promoção do candidato republicano nas redes sociais.

Desde a eleição, Kushner se tornou indispensável em vários assuntos. Segundo o jornal The New York Times, a equipe de transição de Trump teria pedido aos responsáveis do governo de Barack Obama que entreguem a Kushner tudo sobre o tema de política externa que possa merecer a atenção do novo presidente. Donald Trump indicou recentemente que Kushner, que escreveu seu discurso de campanha sobre Israel, poderia "ser aquele que fará a paz entre Israel e os palestinos".

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