Crise humanitária

A interminável tragédia dos migrantes no Mediterrâneo

Ingrid
Ingrid
Publicado em 05/10/2016 às 13:29
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As imagens de Messinis são um testemunho comovente, com centenas de pessoas, entre elas crianças e mulheres, aterrorizadas e abarrotadas em um barco de madeira e em botes infláveis. / Foto: Aris Messinis / AFP

As imagens de Messinis são um testemunho comovente, com centenas de pessoas, entre elas crianças e mulheres, aterrorizadas e abarrotadas em um barco de madeira e em botes infláveis. Foto: Aris Messinis / AFP

Mais de 10.600 migrantes socorridos em 48 horas no Mediterrâneo e dezenas de mortos, mas mesmo com um número maior de barcos de resgate perto do litoral líbio, o sonho de chegar à Europa supera todos os perigos.

"Houve pânico a bordo, pessoas pulavam na água", contou Aris Messinis, fotógrafo da AFP, testemunha direta do drama dos migrantes a partir do barco "Astral", a embarcação da ONG espanhola ProActiva Open Arms.

A terça-feira (4) foi um pesadelo para a tripulação do "Astral", que começou seu trabalho de resgate de embarcações em alto-mar às cinco da manhã, quando ainda era difícil avistar o horizonte.

As imagens de Messinis são um testemunho comovente, com centenas de pessoas, entre elas crianças e mulheres, aterrorizadas e abarrotadas em um barco de madeira e em botes infláveis, onde contou e fotografou vários dos 22 cadáveres esmagados no fundo da embarcação.

O "Astral" é um pequeno veleiro e sua função é identificar os barcos repletos de migrantes, distribuir coletes salva-vidas, ajudar os mais vulneráveis e doentes e manter a calma para garantir que a transferência aos barcos de resgate maiores seja segura.

Na terça-feira, boa parte dos navios que patrulham e resgatam migrantes no Mediterrâneo estavam ocupados com a transferência dos 6.000 migrantes socorridos em apenas um dia na véspera.

Até que o navio "Libra", da marinha italiana, retorne à região, "Astral" é o único que patrulha a zona junto a um avião militar.

As fotos de Messinis mostram como as longas horas de espera à deriva geraram pânico: os migrantes esgotados, com os olhos enrijecidos, se lançavam na água para tentar se agarrar aos poucos botes de salvamento.

Nesta quarta-feira, o fotógrafo da AFP assistiu comovido à contagem em uma lancha dos cadáveres de 19 mulheres e 10 homens, que morreram asfixiados ou esmagados dentro das embarcações. Os corpos de dois homens e de uma mulher que morreram afogados flutuavam.

 

Quatro nascimentos

A guarda costeira italiana, que coordena as operações de socorro nas águas internacionais diante da costa da Líbia, informou na terça-feira que 28 pessoas morreram no total.

Na segunda-feira, havia informado sobre nove mortos, enquanto a Guarda Costeira líbia havia recuperado no mar os corpos de nove mulheres e duas crianças, sem fornecer mais detalhes.

Depois dos dramáticos naufrágios que comoveram o mundo em 2013, foram criados vários dispositivos para resgatar os migrantes que partem da costa da Líbia e nos quais participam, entre outros, a marinha e a guarda-costeira italiana. No entanto, os migrantes seguem morrendo e o Mediterrâneo continua sendo um cemitério.

Além de correr o risco de se afogar, os migrantes, muitos deles africanos, iniciam a travessia debilitados devido à longa viagem iniciada meses atrás e pelas condições deploráveis nas quais esperam o momento de partir da Líbia.

Também morrem por asfixia, pelos gases do combustível, que costuma se misturar com a água do mar e queima a pele, e por desidratação, inclusive com poucas horas de navegação. A guarda costeira coordena mais de 30 operações de socorro por dia, um número recorde.

Outro fenômeno cada vez mais comum é o medo de dar à luz na Líbia. Por isso, muitas mulheres grávidas embarcam, apesar do risco que correm. Três bebês nasceram nas últimas horas no barco "Datillo" da guarda costeira, outro no "Argos" da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Com as operações dos últimos dias, a Itália registrou a chegada de 142.000 migrantes desde o início deste ano, números similares aos totais em 2014 e em 2015.

No entanto, com o fechamento das fronteiras do norte, as autoridades italianas buscam novos espaços para alojá-los. Na Itália cerca de 160.000 pessoas pediram asilo este ano, contra 66.000 no fim de 2014 e 103.000 em 2015.

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