Manuscrito Voynich

Editora espanhola clona um dos livros mais misteriosos do mundo

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 22/08/2016 às 23:57
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Alguns pesquisadores dedicaram suas vidas a tentar interpretar o chamado Manuscrito Voynich / Foto: AFP

Alguns pesquisadores dedicaram suas vidas a tentar interpretar o chamado Manuscrito Voynich Foto: AFP

O exemplar original de um dos livros mais misteriosos do mundo, que foi escrito há séculos em uma linguagem que nem os melhores criptógrafos conseguiram decifrar, será reproduzido nos mínimos detalhes por uma pequena editora da Espanha.

Alguns pesquisadores dedicaram suas vidas a tentar interpretar o chamado Manuscrito Voynich, uma obra particular que mistura escrita elegante, desenhos de plantas raras e mulheres nuas, e à qual foram atribuídos, inclusive, poderes mágicos.

Durante décadas, o livro desgastado ficou guardado em uma abóbada da Biblioteca Beinecke da Universidade de Yale, no estado americano de Connecticut, de onde saiu em poucas ocasiões.

A editora Siloé, com sede em Burgos (norte da Espanha), teve que insistir por dez anos até conseguir a autorização para clonar o manuscrito.

"Tocar no Voynich é uma experiência", diz Juan José García, diretor da Siloé, em entrevista à AFP no último andar de um museu do livro em Burgos, a poucas ruas da emblemática catedral gótica da cidade.

"É um livro que tem uma aura misteriosa tal que quando você o vê pela primeira vez é de um atrativo absoluto, te invade uma emoção que é muito difícil de descrever", afirma.

Eterna juventude

Siloé, especializada em fac-símiles de manuscritos antigos, obteve os direitos para fazer 898 réplicas exatas do Voynich, tão fiéis que reproduzirão as manchas, buracos e costuras do pergaminho original.

A expectativa é tão alta que a editora já recebeu 300 pedidos, e planeja vender as cópias por entre 7.000 e 8.000 euros (7.800 a 8.900 dólares).

Yale decidiu fazer as cópias ante a grande quantidade de solicitações para consultar o delicado livro, explicou o curador da Biblioteca Beinecke, Raymond Clemens.

"Pensamos que um fac-símile facilitará aos interessados saber como se vê e como se sente o original", disse Clemens. "Também permitirá às bibliotecas e museus terem cópias com fins educativos", acrescentou.

O manuscrito recebeu o nome do antiquário Wilfrid Voynich, que o comprou em 1912 dos jesuítas na Itália e o tornou de conhecimento público.

A partir de então, as teorias sobre o significado real da obra se multiplicaram.

Por muito tempo se pensou que era de autoria do frade franciscano Roger Bacon, cujo interesse pela alquimia e pela magia o levou à prisão no século XIII.

Mas essa teoria foi descartada quando um teste com carbono permitiu determinar que o texto data de entre 1404 e 1438.

Outras hipóteses sugerem que o livro pode ter sido escrito pelo jovem Leonardo da Vinci, por alguém que o escreveu em código para burlar a Inquisição, por uma pessoa que fez uma brincadeira muito elaborada ou inclusive por um extraterrestre que o deixou ao abandonar a Terra.

Seu conteúdo misterioso alimenta a incógnita. As plantas desenhadas jamais foram identificadas, enquanto as suas cartas astronômicas e mulheres esboçadas não oferecem grandes pistas.

O manuscrito poderia ser a chave da juventude eterna? Ou uma mera compilação de remédios naturais?

Vários estudiosos tentaram decifrar o enigma, entre eles o criptógrafo William Friedman, líder da equipe que conseguiu compreender o código da máquina japonesa de criptografia Purple durante a Segunda Guerra Mundial.

A única pessoa que foi capaz de descodificar o Manuscrito Voynich foi Indiana Jones, em um romance sobre o personagem criado por George Lucas.

À parte da ficção, a Biblioteca Beinecke recebe todos os meses milhares de emails de pessoas que afirmam ter resolvido o enigma, conta Rene Zandbergen, engenheiro espacial dedicado a estudar o manuscrito.

"Mais de 90% das visitas à biblioteca digital se devem ao Manuscrito Voynich", acrescenta.

Cópia fidedigna

A obra tem 200 páginas, várias delas desdobráveis de grande tamanho, e é um pouco maior que um livro de bolso.

A Siloé demorará cerca de 18 meses para produzir os primeiros fac-símiles, através de um meticuloso processo que foi iniciado em abril, quando um fotógrafo foi à Yale para documentar o original.

A partir das fotos, os trabalhadores da Siloé produzem maquetes, para depois imprimir as páginas com uma técnica capaz de fazer com que o produto final se pareça exatamente igual ao original.

O papel utilizado, fabricado pela própria empresa, será tratado para ficar parecido com o pergaminho do Voynich. Uma vez impresso, as imperfeições do volume original serão reproduzidas com ferramentas especiais, afirma Juan José García.

"Meu sócio (...) diz que o autor do Voynich também pode ter sido um sádico, porque deixou todos nós envolvidos nesse mistério", brinca García.

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