Nações Unidas

Trump, convidado 'fantasma' na reunião sobre o clima na Alemanha

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 25/05/2016 às 22:46
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O virtual candidato republicano à presidência americana disse que o aquecimento global é como uma farsa  / Foto: AFP

O virtual candidato republicano à presidência americana disse que o aquecimento global é como uma farsa Foto: AFP

Donald Trump na Casa Branca? Esta possibilidade preocupa alguns dos negociadores reunidos em Bonn, na Alemanha, em uma nova sessão das Nações Unidas sobre el clima, onde os participantes também tentam relativizar, por outro lado, o impacto de uma eventual eleição do magnata.

O virtual candidato republicano à presidência americana já descreveu o aquecimento global como uma farsa perpetrada pela China para ganhar vantagem competitiva na indústria em relação aos Estados Unidos, uma teoria excêntrica até mesmo entre os céticos do clima.

Depois de se limitar, até agora, a opinar sobre o tema nas redes sociais, Trump afirmou em uma entrevista na semana passada que pretende "renegociar" os termos do acordo de Paris, do qual não é "grande fã".

O tratado estabelece que 196 nações se comprometem a limitar o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius, e a ajudar países pobres a lidarem com o impacto das mudanças climáticas.

Em um momento em que as nações se aproximam da ratificação do delicado acordo, a perspectiva de Trump na presidência causa arrepios em alguns participantes da conferência do clima de Bonn.

Quando perguntado sobre o que mais lhe preocupava neste momento, o representante de Mali e presidente do grupo de países africanos, Seyni Nafo, não hesitou: "Que Trump ganhe a eleição".

Por muito tempo, os Estados Unidos foram o país que mais poluía o planeta, e agora são o segundo, atrás da China.

Desviando-se de um Congresso obstinado e sob o controle republicano, o presidente americano, Barack Obama usou seu poder executivo para confrontar agressivamente o aquecimento global.

Durante o governo Obama, o país se converteu em um impulsor para que o acordo de Paris fosse adotado em dezembro passado, com o objetivo de reduzir as emissões mundiais de gases do efeito estufa.

Aconteceu o contrário durante o mandato de Georges W. Bush, que em 2001 se negou a ratificar o protocolo de Kioto, bloqueando a evolução do processo e provocando o abandono do tratado pelo Canadá, Japão e Rússia.

OS ESTADOS UNIDOS MUDARAM - Os especialistas estimam, porém, que mesmo que seja eleito, Trump não terá poder para modificar o acordo de Paris. O republicano poderia, no entanto, "atrasar a dinâmica", diz Nafo.

"Mas o que ele quer realmente 'renegociar'?", questiona o especialista americano Alden Meyer. "Não acho que ele entenda o que é esse tratado, nem toda a força que há por trás", lamenta.

"Efetivamente, o ele não gosta, ou o que lhe disseram que não deveria gostar, é o compromisso de Obama para reduzir as emissões americanas", acrescenta Meyer.

Mais que retirar os Estados Unidos do acordo de Paris - o que levaria quatro anos de trâmites depois da ratificação - os observadores temem que Trump desmantele as medidas meio ambientais do país - proteção do ar, consumo de combustível dos veículos, etc.

"Entramos em uma era de convulsão política", afirmou a negociadora francesa Laurence Tubiana a jornalistas durante o evento. Se os Estados Unidos escolhem "um governo hostil ao acordo de Paris, não vai ajudar", diz.

"Mas na minha opinião, isso não fará com que o acordo fracasse", afirma Tubiana.

"Todos os países se preparam para esta hipótese. E o que ouço é que 'é necessário fazer todo o possível para que os Estados Unidos continuem', mas isto não significa que se trate do princípio e do fim do acordo", acrescenta, argumentando que há outros intermediários além do presidente que participam no processo.

Efetivamente, os Estados Unidos e o mundo mudaram desde Kioto, enquanto as consequências das mudanças climáticas continuam sacudindo o planeta.

"Acredito que Donald Trump é um homem de negócios incrível e um político muito interessante, mas a retórica eleitoral é uma coisa, e a realidade do mundo é outra", diz a negociadora da União Europeia, Elina Bardram.

E "a opinião pública dos Estados Unidos também está bastante satisfeita com o acordo", conclui.

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