Tensão

Nova escalada de tensão entre aliados e adversários do regime sírio

Mariana Campello
Mariana Campello
Publicado em 14/02/2016 às 12:48
Leitura:

Turquia está considerando lançar uma operação terrestre conjunta com a Arábia Saudita em território sírio contra o Estado Islâmico / Foto: AFP

Turquia está considerando lançar uma operação terrestre conjunta com a Arábia Saudita em território sírio contra o Estado Islâmico Foto: AFP

A tensão entre os aliados e os adversários do regime sírio, em particular entre Rússia e Turquia, continuava aumentando neste domingo com bombardeios turcos no norte do país, que deixam cada vez mais distantes as promessas de um cessar-fogo. 

O exército turco, ignorando a desaprovação dos Estados Unidos, bombardeou pelo segundo dia consecutivo posições curdas no norte da Síria, em especial os arredores da cidade de Azaz, na província de Aleppo. 

A ação foi denunciada pelo governo sírio, que condenou os bombardeios turcos contra posições dos curdos sírios na província de Aleppo, norte da Síria, e pediu que a ONU tome as medidas necessárias para parar com esses ataques.

A Turquia lamenta o apoio militar dos Estados Unidos aos grupos curdos na Síria, em especial às Unidades de Proteção do Povo (YPG). As autoridades de Ancara temem em particular que os curdos, que já ocupam grande parte do norte da Síria, estendam sua influência por toda a área da fronteira.

O avanço do YPG sírio no oeste do rio Eufrates é uma "linha vermelha", disse o Vice-Primeiro Ministro turco Yalcin Akdogan. "Estas são questões que afetam a segurança nacional (...) A Turquia não é um país que fica olhando de braços cruzados", alertou. 

A Turquia, principal inimiga do governo de Assad, está considerando lançar uma operação terrestre conjunta com a Arábia Saudita em território sírio contra o Estado Islâmico (EI), disse neste sábado o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu.

Seu homólogo saudita, Adel al Jubeir, disse que os esforços da Rússia para "salvar" Assad "fracassarão". 

"O reino saudita tem atualmente uma presença na base aérea de Incirlik na Turquia", declarou o general de brigada Ahmed Assiri, em declarações na madrugada de domingo à rede de televisão Al Arabiya.

"Aviões das forças aéreas sauditas estão presentes com seus equipamentos para intensificar as operações aéreas (contra o EI), em paralelo às missões realizadas nas bases aéreas da Arábia Saudita", afirmou.

Assiri explicou que esse envio é resultado da decisão tomada esta semana em Bruxelas pela coalizão internacional para intensificar as operações aéreas contra o Estado Islâmico.

- Forças de Assad continuam avançando em Aleppo -

O cada vez maior envolvimento de Arábia Saudita e Turquia, dois países de maioria sunita, coincide com as dificuldades na Síria dos grupos rebeldes que apoiam, pressionados pelos curdos e pelas forças do regime. 

Irã e Rússia, principais aliados de seu regime, já dissera que se opõem ao envio de tropas terrestres. "Em nenhum caso permitiremos que a situação na Síria evolua conforme a vontade dos 'países rebeldes'. Tomaremos as decisões necessárias quando chegar a hora", disse o chefe adjunto do Estado-Maior iraniano, o general Masud Jazayeri.

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, também se opôs à intervenção terrestre e garantiu no sábado que o mundo entrou "em uma nova Guerra Fria".

Tanto Irã, que tem "conselheiros" no país, como os bombardeios da Rússia foram importantes para os sucessos recentes do exército de Assad, que continua avançando na região de Aleppo. 

Neste domingo suas forças já estavam a apenas três quilômetros de Tall Rifaat, um dos últimos redutos rebeldes na região. Esta região, alvo de 20 bombardeios russos no sábado, também está sendo atacada no leste pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), a coalizão árabe-curda apoiada pelos Estados Unidos.

A ofensiva lançada pelo regime em 1 de fevereiro provocou a fuga de milhares de pessoas, presas no norte de Azaz, que esperam que a Turquia abra sua fronteira.

Neste contexto, os dirigentes e especialistas reunidos em Munique (Alemanha) para uma conferência de segurança se mostraram pouco otimistas sobre a possibilidade de aplicar a trégua anunciada na semana passada pelas grandes potências. 

Em conversa telefônica, os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin falaram sobre a "avaliação positiva" do acordo sobre o cessar-fogo, segundo o Kremlin. 

O acordo foi fortemente criticado pelo coordenador da oposição síria, Riad Hijab, porque segundo ele permite continuar os bombardeios russos. "Agora quem está protegendo o EI é a Rússia", disse. 

O influente senador norte-americano John McCain disse que o acordo de Munique apoia apenas a "agressão militar" russa, que tem como objetivo "exacerbar a crise de migrantes para dividir a aliança transatlântica e minar o projeto europeu". 

Mais lidas