Educação

Língua curda volta às escolas do norte da Síria

Mariana Campello
Mariana Campello
Publicado em 14/02/2016 às 13:40
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"Roj ba?, mamûste!": vestidos com seus casacos e gorros, alunos do nordeste da Síria cumprimentam, em curdo, seus professores antes de entrar em sala de aula, uma cena impensável antes do início da guerra.

O curdo reapareceu em algumas regiões do nordeste administradas por esta comunidade, que representa 9% da população síria.

Antes do começo do conflito, há quase cinco anos, a língua estava proibida nas escolas e na administração. Para este curso, foi introduzido, pela primeira vez, um programa em curdo nos centros primários. 

Na escola Musa Ben Nusayr, na cidade de maioria curda de Qamishli, este curso coexiste com o programa oficial em árabe.

"Aprendo e escrevo o alfabeto curdo em meu caderno", disse com orgulho Brefa Husein, uma aluna de seis anos. "Os professores nos ensinam os nomes dos animais e das flores", explica.

Em 2012, o regime sírio retirou suas tropas das zonas de maioria curda do norte e nordeste do país, onde seus habitantes estabeleceram suas próprias instituições, forças de segurança e escolas.

Foi o início, então, de um renascimento das tradições curdas e da língua, concretamente. 

- 86 mil alunos -

As escolas que dependem da administração curda acolhem mais de 86 mil alunos e contam com cerca de 3.800 professores, explica Samira Haj Alí, uma responsável pela educação na província de Hasake, onde está Qamishli.

O novo curso já é aplicado nas escolas primárias, enquanto que, para os mais velhos, continua sendo implementado o programa do governo.

Mas, segundo Haj Alí, a administração curda prevê estabelecer seus próprios programas em árabe, assim como em siríaco, a partir do próximo ano. 

A medida irritou o governo sírio, que decidiu deixar de pagar os professores que apoiam este curso.

Alguns pais retiraram seus filhos das escolas administrada pelos curdos, como Amina Berro, uma professora de inglês curda, que preferiu transferir os seus para um colégio de gestão governamental.

"O programa curdo não é reconhecido e os professores ainda não são qualificados", argumenta à AFP. Ela diz apoiar o ensino do curdo como uma matéria, mas não entende a razão de se ensinar nesta língua.

Riham al Ahmed, uma menina de nove anos que chegou à cidade de Qamishli fugindo dos combates da província de Aleppo, mais a oeste, permanece com o programa clássico em árabe na escola Musa Ben Nusayr, depois de tentá-lo em curdo.

- 'Vitória' -

"No começo, foi difícil me integrar", reconhece Riham, que tentou seguir, sem sucesso, o curso em curdo. "Mas agora as coisas são mais fáceis porque entendo bem", explica.

Para muitas famílias curdas, o ensino de sua língua materna é um sonho de infância que se torna realidade.

Jan Musa, professora de curdo de 21 anos, espera que "todos os alunos aprendam sua língua materna".

O diretor do Musa Ben Nusayr, Jamil Murad, aprendeu curdo em segredo, durante sua juventude. Está encantado que seu filho de oito anos, Raman, possa fazê-lo na escola.

"A língua faz parte da sobrevivência de um povo", garante Murad, que acredita que esta aprendizagem é "a maior vitória da administração autônoma". 

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