Polícia Federal

Professor da UFRJ investigado por terrorismo é elogiado por colegas

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 11/01/2016 às 8:20
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Condenação de Hicheur por atividade terrorista na França provocou seu afastamento do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares; cientistas intermediaram sua vinda para o Rio / Foto: reprodução

Condenação de Hicheur por atividade terrorista na França provocou seu afastamento do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares; cientistas intermediaram sua vinda para o Rio Foto: reprodução

O franco-argelino Adlène Hicheur é alvo de investigações da Polícia Federal, mas a qualidade seu trabalho, segundo seus colegas brasileiros, paira acima de qualquer suspeita. Embora a condenação por atividade terrorista na França tenha provocado seu afastamento do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), cientistas da instituição intermediaram sua vinda para o Rio, em 2013, onde retomou seus projetos no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

De acordo com o diretor do centro, Ronald Shellard, o Ministério das Relações Exteriores estava ciente dos problemas de Hicheur com a Justiça.

— Liguei para o Itamaraty e alertei sobre todos os fatos, porque não queria trazer um problema para cá — explica. — Ele veio por volta de 2013 e trabalhou dois anos aqui. Fez trabalhos relevantes e seu grupo estava muito satisfeito, tanto que depois conseguiu um emprego na UFRJ. Nossa posição é de que nos envolvemos com uma pessoa cujo desempenho era elogiado aqui e no Cern.

Hicheur, segundo Shellard, tem parentes na Europa e os visita regularmente. Nunca passou por constrangimentos com seus colegas de trabalho, que sabiam de sua prisão.

— Há coisas sobre as quais não se faz alarde, mas que também não se escondem. Agora, com a exposição na mídia, ele está numa posição complicada.

Shellard afirma que o colega estava na Europa quando um extremista muçulmano mostrou uma camisa com o símbolo do Estado Islâmico na mesquita que costuma frequentar, na Tijuca, logo após os atentados contra o semanário satírico “Charlie Hebdo” em Paris, em janeiro de 2015. Segundo Shellard, o homem não era frequentador da mesquita — teria ido lá apenas naquela vez.

— O Adlène tornou-se um caso célebre porque as evidências (da prisão) foram baseadas apenas na internet. As acusações só foram formuladas na época em que foi solto, aí houve um julgamento sobre a pena que ele já tinha cumprido.

Procurado para confirmar a autorização das atividades profissionais de Hicheur no Brasil, o Itamaraty declarou que é preciso verificar a situação com as instituições governamentais envolvidas na concessão do visto de trabalho. Hoje, Hicheur trabalha no Instituto de Física da UFRJ, que informou ter checado o visto na época. O professor Leandro de Paula, colega na universidade, diz que o franco-argelino “nunca negou” os e-mails que o incriminaram:

— É um pesquisador excelente. Sei que a reitoria tem uma série de documentações legais. Mas não sei se conhecem a sua história.

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