Conflitos e terrorismo

Papa adverte que 'pobreza e frustração' propiciam o 'terrorismo'

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 25/11/2015 às 19:18
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O pontífice pediu aos líderes do planeta que promovam "modelos responsáveis de desenvolvimento econômico" / Foto: AFP

O pontífice pediu aos líderes do planeta que promovam "modelos responsáveis de desenvolvimento econômico" Foto: AFP

O papa Francisco pediu nesta quarta-feira (25), no Quênia, que se combata "a pobreza e a frustração", que propiciam os "conflitos e o terrorismo" e repartir de forma justa os recursos naturais e humanos.

O pontífice também pediu aos líderes do planeta que promovam "modelos responsáveis de desenvolvimento econômico" para enfrentar "a grave crise ambiental que ameaça o mundo".

Francisco iniciou nesta quarta-feira sua primeira viagem pela África, ao aterrissar na capital do Quênia, e tem previsto visitar também Uganda e República Centro-africana.

"A experiência demonstra que a violência, os conflitos e o terrorismo se alimentam do medo, da desconfiança e do desespero, que têm sua origem na pobreza e na frustração", destacou o papa argentino perante dirigentes quenianos.

"Exorto, em particular, que se preocupem verdadeiramente com as necessidades dos pobres, as aspirações dos jovens e uma distribuição justa dos recursos naturais e humanos", afirmou.

Além disso, estimou, "existe uma relação clara entre a proteção da natureza e a construção de uma ordem social justa e equitativa".

Assim, Francisco pediu aos dirigentes do planeta que promovam "modelos responsáveis de desenvolvimento econômico" para enfrentar "a grave crise ambiental que ameaça o mundo".

"Temos a responsabilidade de transmitir às gerações futuras a beleza da natureza em sua integridade e a obrigação de administrar adequadamente os dons que recebemos", afirmou, após encontro com o presidente queniano, Uhuru Kenyatta.

Uma sociedade que, "ao invés de proteger, continua explorando"

Em uma sociedade "que, ao invés de proteger, continua explorando nossa casa comum, estes valores devem inspirar os esforços dos líderes nacionais para promover modelos responsáveis de desenvolvimento econômico", acrescentou.

Previamente, também na quarta-feira, bailarinos e um coro deram as boas-vindas ao papa no aeroporto de Nairóbi. Bandeiras do Quênia e do Vaticano foram içadas da cabine da tripulação pouco após a aterrissagem e Kenyatta recebeu o papa no aeroporto, com um tapete vermelho de boas-vindas.

Francisco sorriu e acenou com a mão quando saía do avião, ao mesmo tempo em que a multidão o ovacionava.

As autoridades mobilizaram 10.000 militares para garantir a segurança do papa argentino.

O papa escolheu para a primeira viagem pelo continente três países castigados de forma diferente pelas desigualdades sociais, a corrupção e a violência islamita.

Francisco, de 78 anos, quer promover a paz, a reconciliação, a justiça social e o diálogo entre o Islã e o cristianismo durante os cinco dias intensos que passará no continente, de 25 a 30 de novembro.

Ao saudar cada um dos 75 jornalistas que o acompanhavam no avião papal, Francisco expressou o desejo de que a viagem "dê os melhores frutos, tanto espirituais quanto materiais" aos africanos.

Quando perguntado por um jornalista se estava nervoso com as ameaças de atentados feitas antes de partir, o pontífice argentino, que nunca havia pisado em solo africano, respondeu com um sorriso: "Na realidade, tenho mais medo dos mosquitos", disse.

O programa da décima primeira viagem ao exterior do papa inclui 19 discursos e vários encontros com a população local.

Na quinta-feira, o papa presidirá um encontro inter-religioso no Quênia, um país que tem muitos muçulmanos e protestantes.

Na sexta, visitará o bairro mais pobre e o maior do país, Kangemi, onde se encontrará com os "movimentos populares", cristãos e não cristãos.

Em Uganda, a segunda etapa da viagem, Francisco se reunirá com o presidente, Yoweri Museveni, e depois visitará Munyonyo, onde foram condenados à morte mártires católicos e anglicanos.

O papa homenageará assim todos os mártires cristãos da África e celebrará uma missa em um santuário para comemorar os primeiros santos, 22 jovens cristãos que foram queimados vivos no final do século XIX por terem se recusado a se tornar escravos sexuais.

A principal organização ugandense de defesa dos homossexuais, por sua vez, afirmou nesta quarta-feira que militantes gays católicos de Uganda solicitaram uma audiência privada ao papa quando ele visitar o país africano esta semana.

A etapa mais perigosa de sua visita será a última, Bangui, capital da República Centro-africana, aonde chegará no domingo, dia 29, segundo o programa oficial.

Ali tem planejada uma visita à mesquita do bairro-fortaleza árabe, a um acampamento de refugiados e às vítimas da guerra civil.

Francisco inaugurará o jubileu extraordinário na África, ao abrir a porta santa da catedral de Bangui, dez dias antes de se iniciar com uma cerimônia solene no Vaticano.

Não se exclui que tenha que mudar na última hora seus planos, devido à violência entre milícias muçulmanas e cristãs e à insegurança reinante neste país.

"Não recebemos ameaças contra o papa, só muito genéricas. É óbvio que estamos preocupados, não somos inconscientes. O papa se sente sereno e não quer mudar seu programa de viagem", admitiu na terça-feira Costanzo Alessandrino, vice-comandante da Gendarmeria vaticana, em um programa de televisão do canal italiano Rete4.

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