Terrorismo

Investigação sobre ataques em Paris avança em meio à comoção na França

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 15/11/2015 às 13:30
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Segundo testemunhas, o veículo encontrado em Montreuil transportou o grupo que atirou contra clientes / Foto: AFP

Segundo testemunhas, o veículo encontrado em Montreuil transportou o grupo que atirou contra clientes Foto: AFP

Dois dias após os atentados de Paris, os investigadores encontraram um dos veículos utilizados pelos terroristas, ainda carregado de armas, reforçando os temores de haver cúmplices em liberdade.

O carro, um Seat preto, foi encontrado em Montreuil, nos subúrbios de Paris, com vários fuzis AK47, mesmo tipo daqueles utilizados nos atentados, informou uma fonte da justiça.

No total, três equipes de jihadistas semearam o terror e a morte na sexta-feira (13) na capital francesa, matando ao menos 129 pessoas e ferindo mais de 350.

Segundo o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, 103 pessoas mortas nos atentados já foram identificadas, mas entre "20 e 30" vítimas ainda precisam ser identificadas, o que deverá "acontecer ao longo do dia".

Os ataques, coordenados, foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI).

Segundo testemunhas, o veículo encontrado em Montreuil transportou o grupo que atirou contra clientes em três bares e restaurantes no leste de Paris.

Depois de identificar um primeiro jihadista envolvido nos ataques mortais de Paris, os investigadores concentram suas atenções em potenciais cúmplices e patrocinadores.

Sete pessoas próximas a Omar Ismaïl Mostefai, o suicida francês identificado como um dos autores do ataque na casa de espetáculos Bataclan, estão sob custódia, incluindo seu pai e irmão e a esposa deste último.

O pai e o irmão do atacante, morto na explosão de seu cinto de explosivos, foram detidos na noite de sábado e buscas foram realizadas em suas casas em Romilly-sur-Seine (leste da França) e Bondoufle (arredores de Paris).

FICHADO POR RADICALIZAÇÃO - Omar Ismail Mostefai, um francês de 29 anos, foi identificado graças a um dedo cortado encontrado na cena do crime.

Nascido em Courcouronnes, subúrbio de Paris, este pequeno delinquente condenado por vários crimes comuns foi fichado por sua radicalização islamita a partir de 2010, mas "nunca tinha sido envolvido em um caso" jihadista, segundo a justiça.

Ele também teria rompido com a sua família. Os investigadores tentam confirmar se ele viajou para a Síria em 2014.

Os investigadores também encontraram, perto do corpo de um homem-bomba no Stade de France, um passaporte sírio pertencente a um migrante registado na Grécia, segundo Atenas.

Antecipando a polêmica sobre a possível presença de jihadistas infiltrados entre os migrantes que chegam na Europa, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apelou para que a União Europeia mantenha a cabeça fria.

"Aqueles que perpetraram os atentados são exatamente aqueles de quem os refugiados fogem, e não o inverso, e por consequência não devemos mudar a política geral europeia em matéria de refugiados", afirmou.

CINCO PRISÕES NA BÉLGICA - A França pediu neste domingo a realização de um conselho internacional dos ministros do Interior da União Europeia em 20 de novembro em Bruxelas para reforçar a luta antiterrorista após os atentados de Paris.

A investigação também aponta para uma pista belga. Cinco pessoas foram presas em Molenbeek em conexão com os ataques, entre elas o homem que alugou o carro Polo preto dos suicidas encontrado estacionado em frente ao Bataclan, palco do mais mortal dos ataques, com ao menos 89 mortos.

Os investigadores buscam compreender se alguns dos atacantes conseguiram escapar e se outros ataques estão em preparação.

Segundo o procurador de Paris, François Molins, três equipes participaram nos atentados. Sete terroristas morreram no curso de suas ações criminosas. Mas outras pessoas podem estar envolvidas nos ataques.

Três jihadistas morreram no Bataclan, outros três fizeram-se explodir perto do Stade de France, onde 80.000 pessoas, incluindo o presidente François Hollande, assistiam a uma partida de futebol entre a França e a Alemanha, e um no Boulevard Voltaire, no leste Paris.

Dez meses depois dos atentados contra a revista satírica Charlie Hebdo e a um mercado kosher, que fizeram 17 mortos em janeiro, os ataques de sexta voltaram a mergulhar a França na tristeza.

Um luto nacional de três dias é respeitado desde domingo. Museus e teatros continuam fechados na capital. Sábado à noite, os restaurantes estavam vazios - exceto, paradoxalmente, no distrito do Bataclan.

Neste domingo, a falta de feiras ao ar livre, típicas em Paris, era marcante.

E apesar da proibição de manifestações em Paris até quinta-feira, centenas de pessoas prestaram homenagens às vítimas, comparecendo aos locais dos ataques para deixar floretes e velas acesas. Em várias cidades ao redor do mundo, também foram prestados tributos às vítimas e ao povo francês.

O presidente francês, que apelou para a unidade nacional, recebeu líderes de partidos, incluindo seu antecessor e rival de direita, Nicolas Sarkozy.

Na segunda-feira, ele discursará para as duas Câmaras do Parlamento reunidas em Congresso em Paris, em um ato político excepcional.

O presidente, que chamou os ataques de um "ato de guerra", decidiu mobilizar três mil soldados adicionais na operação Sentinel, criada após os ataques em janeiro para proteger os locais sensíveis (sinagogas, mesquitas...) e locais públicos.

No total, dez mil soldados serão mobilizados até terça-feira à noite no território, especialmente em Paris, o limite máximo previsto para Sentinel.

As mensagens de solidariedade e apoio continuam a chegar de todo o mundo. Os Chefes de Estado e de Governo do G20 reunidos em Antalya, na Turquia, prepararam uma declaração comum.

Em Israel, o ministro da Defesa Moshe Yaalon instou a Europa a aprovar leis "para uma luta mais eficaz contra o terrorismo", considerando que o "equilíbrio" decaía muito "em favor dos direitos humanos" à custa da segurança.

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