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Negociação nuclear com Irã bloqueada em três pontos chave

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 30/03/2015 às 10:46
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As negociações sobre o programa nuclear iraniano em Lausanne, na Suíça, seguem bloqueadas em pontos-chave, um dia antes do fim do prazo estabelecido para a conclusão de um acordo político, enquanto os diplomatas se esforçam para avançar.

Pela primeira vez desde a rodada de negociações em Viena, em novembro, todos os chefes da diplomacia das grandes potências do grupo 5+1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) e do Irã se reuniram na mesma mesa nesta segunda-feira (30) de manhã.

A reunião durou um pouco mais de uma hora e meia e uma segunda plenária esta prevista para o início da tarde.

As negociações buscam chegar a um acordo antes de terça-feira para que o Irã garanta a natureza civil de seu programa nuclear em troca da suspensão das sanções internacionais que asfixiam sua economia.

Mas três pontos chaves continuam a bloquear uma possível solução, segundo indicou um diplomata ocidental após a primeira plenária.

O primeiro ponto diz respeito à duração do acordo em negociação. As grandes potências desejam um quadro estrito de controle das atividade nucleares iranianas por ao menos 15 anos, mas o Irã não quer se comprometer além de 10 anos, segundo este texto.

A questão da retirada das sanções da ONU continua a ser um dos maiores pontos de bloqueio. Os iranianos querem a retirada de todas as sanções econômicas e diplomáticas, consideradas humilhantes, assim que o acordo seja assinado. Mas as grandes potências desejam uma retirada gradual dessas medidas ligadas à proliferação nuclear e adotadas a partir de 2006 pelo Conselho de Segurança da ONU.

Em caso de retirada de algumas dessas sanções, certos países do 5+1 querem um outro mecanismo que permitiria reimpor rapidamente as punições em caso de descumprimento por Teerã de seus compromissos, segundo a fonte diplomática.

"Não pode haver acordo se não for encontrada uma resposta a estas questões", acrescentou o diplomata, que pediu anonimato.

"SIM OU NÃO" - Ao final da reunião, o chefe da diplomacia russa, Sergueï Lavrov, declarou que deixaria Lausanne ainda nesta segunda-feira, em razão de compromissos em Moscou.

"Ele retornará em caso de uma chance realista de um acordo amanhã" (terça-feira), declarou uma porta-voz, Maria Zakharova.

Nenhuma autoridade arriscava prever nesta segunda que rumo irá tomar as negociações.

Um fracasso até terça-feira não significaria automaticamente a ruptura e o fim de todas as negociações, ressaltam os protagonistas.

Mas todos concordam em dizer que a situação será muito mais complicada e difícil em razão dos conflitos internos nos Estados Unidos e no Irã, onde os opositores a um acordo sairão fortalecidos em caso de fracasso das discussões em Lausanne.

"Em determinado momento é preciso dizer sim ou não", resumiu a fonte ocidental.

"Estamos em uma situação histórica", todos os chefes da diplomacia dos países envolvidos nas negociações estão presentes, argumentou essa fonte. "Sentimos que este é o momento de agir".

Uma opinião não compartilhada pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que voltou nesta segunda-feira a atacar qualquer acordo com o Irã.

"Os países moderados e responsáveis na região, especialmente Israel e muitos outros Estados, são os primeiros a sofrer as consequências deste acordo", lançou. Ele também considerou que os negociadores em Lausanne fazem "vista grossa" sobre o apoio prestado pelo Irã aos rebeldes xiitas no Iêmen, combatidos por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita.

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