O Brasil é hoje o refúgio de 1.700 sírios que fugiram da guerra civil que teve início há quatro anos Foto: AFP
Há décadas com uma grande comunidade sírio-libanesa, o Brasil é hoje o refúgio de 1.700 sírios que fugiram da guerra civil que teve início há quatro anos. São o maior grupo de refugiados no Brasil e no resto da América Latina.
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Mouaz Tawakalna, um engenheiro de telecomunicações de 28 anos, só consegue pronunciar algumas palavras. Falando em árabe e com a ajuda de um amigo que atua com o intérprete, contou à AFP que chegou ao Brasil há apenas uma semana. "Preciso aprender a falar português para me integrar e me comunicar com as pessoas. Quero ficar e construir minha vida aqui", afirmou.
URBANOS E PROFISSIONAIS - Na mesquita do popular bairro paulistano do Brás, Ahmed Almazloum, de 28 anos, trabalha como voluntário para ajudar os compatriotas recém-chegados.
"Sou engenheiro biomédico. Aqui, em São Paulo, já trabalhei vendendo roupa e agora sou supervisor em uma fábrica têxtil. Nunca me interessei pela política, nunca participei nos protestos, mas como havia acabado de estudar, tinha de prestar serviço militar em plena guerra. E eu não quis: era morrer ou matar", explicou.
A mesquita é um dos centros de acolhida em São Paulo, porta de entrada dos sírios no Brasil. Também há várias ONGs e entidades como a Caritas, da Igreja católica, dedicadas a esta tarefa.
"Há aproximadamente 1.700 refugiados sírios no Brasil e são o maior grupo por país de origem. É uma questão totalmente relacionada com a guerra", explica à AFP Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur). No total, existem 7.000 refugiados no Brasil. No caso dos sírios, o país concedeu este status a todos que o solicitaram, ainda segundo Godinho.
Os sírios que conseguem chegar ao Brasil vêm em geral de centros urbanos e têm títulos profissionais ou técnicos. Há famílias inteiras, muitos homens sozinhos, muçulmanos e cristão. E alguns sem religião.
"Eu não sou muçulmano, sou comunista", diz Victorios Bayan, um jornalista de 39 anos que se define como opositor ao governo de Bashar al-Assad desde antes da revolução. Ele chegou há dois meses a São Paulo e também tem aulas de português na mesquita. Quando chega a hora da oração, a aula é interrompida e Bayan aproveita para fumar.
"Fui detido, espancado e maltratado. Quando poderei voltar para a Síria? Quando meu país será reconstruído? Haverá uma solução?", questiona.