Desaparecidos

Pais de estudantes mexicanos alertam que não permitirão fim das investigações

Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda
Publicado em 28/01/2015 às 9:03
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Apesar de investigações oficiais apontarem que jovens foram mortos, pais disseram que manterão "a luta até que seja demonstrado de maneira científica", uma vez que apenas um corpo foi identificado até o momento / Foto: AFP

Apesar de investigações oficiais apontarem que jovens foram mortos, pais disseram que manterão "a luta até que seja demonstrado de maneira científica", uma vez que apenas um corpo foi identificado até o momento Foto: AFP

Os pais dos 43 estudantes mexicanos desaparecidos em setembro advertiram na terça-feira (27) que não permitirão o fim das investigações sobre o destino de seus filhos, em uma reação à conclusão da promotoria de que os jovens foram assassinados e incinerados.

"Os pais de família repudiam a forma como hoje (terça-feira) o procurador (geral, Jesús Murillo Karam) pretende fechar de maneira descarada a investigação", afirmou o porta-voz dos familiares dos estudantes, Felipe de la Cruz.

"Não vamos permitir que concluam ou encerrem as investigações com base apenas na declaração dos assassinos confessos", completou De la Cruz, na presença de ativistas e de vários pais.

Ele afirmou que os pais manterão "a luta até que seja demonstrado de maneira científica" o que aconteceu depois que os jovens desapareceram em 26 de setembro em Iguala (Guerrero, sul do México).

A procuradoria mexicana anunciou que já há a "certeza legal" de que os 43 estudantes desaparecidos em setembro passado em Guerrero (sul) foram assassinados por pistoleiros do narcotráfico.

A investigação, que inclui confissões de quase uma centena de detidos e elementos materiais, nos dá "a certeza legal de que os normalistas (estudantes) foram mortos nas circunstâncias descritas", disse, em coletiva de imprensa, o procurador-geral, Jesús Murillo Karam.

Os depoimentos da quase centena de detidos, os elementos materiais e as perícias "nos permitiram fazer uma análise lógica causal e chegar, sem sombra de dúvidas, a concluir que os estudantes foram privados da liberdade, privados da vida, incinerados e jogados no rio San Juan, nesta ordem. É a verdade histórica", afirmou Murillo Karam.

Até agora, a procuradoria considerava os jovens como desaparecidos, depois que em 26 de setembro foram vítimas de um brutal ataque a tiros de policiais corruptos da cidade de Iguala (Guerrero) e depois entregá-los a pistoleiros do cartel Guerreros Unidos.

Os pais das vítimas, que na segunda-feira lideraram uma marcha com milhares de pessoas na Cidade do México, se negam a acreditar na reconstrução que a justiça fez da trágica noite e temem que o governo pretenda encerrar o caso que chocou o México e a comunidade internacional.

Por enquanto, os legistas só identificaram os restos mortais de um dos estudantes e familiares mantêm as esperanças de que os outros 42 continuem vivos.

A promotoria tampouco tinha manifestado até agora a certeza sobre a motivação do suposto massacre.

Nesta terça-feira, seus encarregados disseram que "a confissão" do pistoleiro Felipe Rodríguez, conhecido como 'El Cepillo', um dos supostos autores da chacina, detido em 15 de janeiro, corroborou a hipótese de que os estudantes foram apontados como membros de Los Rojos, um bando rival dos Guerreros Unidos.

"Consolida-se a motivação consistente em que os estudantes foram apontados pelos delinquentes como membros do grupo antagônico ao crime organizado na região. Esta foi a razão pela qual os privaram de liberdade em um primeiro momento e, finalmente, da vida", disse Tomás Zerón, diretor-chefe da Agência de Investigações Criminais.

Nós "não pudemos determinar que (os estudantes) tenham sido parte de nenhum grupo criminoso. Penso que foi ao contrário", reforçou Murillo Karam.

O procurador antecipou que foram solicitadas penas de até 140 anos de prisão para 'El Cepillo' e outros responsáveis pelo crime.

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