Favoritismo

Evo Morales em busca de vitória esmagadora para governar Bolívia sem oposição

Renata Dorta
Renata Dorta
Publicado em 11/10/2014 às 18:07
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Objetivo de Morales é alcançar 80% dos votos.  / Foto: Aizar Ralde/ AFP

Objetivo de Morales é alcançar 80% dos votos. Foto: Aizar Ralde/ AFP

O presidente boliviano, Evo Morales, chega às eleições deste domingo (12) como claro favorito nas pesquisas para conquistar um terceiro mandato (2015-2020) e com o desafio de conseguir votos suficientes para garantir a manutenção da maioria absoluta no Congresso e impulsionar reformas sem a oposição.

As últimas pesquisas apontam que vencerá as eleições no primeiro turno com 59% dos votos, contra 18% do empresário centrista Samuel Doria Medina e 9% do ex-presidente liberal Jorge "Tuto" Quiroga, em uma eleição na qual seis milhões de bolivianos estão registrados para votar.

Apesar da clara vantagem de mais de 40 pontos, Morales direcionou todos os esforços para aumentar a distância e garantir a hegemonia na Assembleia Legislativa Plurinacional, como nos últimos cinco anos de gestão.

Seu objetivo, segundo ele, é alcançar 80% dos votos válidos e evitar o chamado "voto cruzado".

Nas eleições de 2009, 28% dos eleitores cruzaram seu voto apoiando na presidência Morales, um indígena esquerdista de 54 anos, mas optando por um candidato opositor para a vice-presidência.

Com o controle do Congresso, Morales pode ter carta branca para modificar a Constituição, em particular, como teme a oposição, para habilitar a reeleição presidencial indefinida. A atual Constituição boliviana só permite uma reeleição consecutiva.

Além dos eleitores que residem na Bolívia, o padrão eleitoral está composto por 272.000 bolivianos residentes em 69 cidades de 33 países, que escolherão apenas presidente e vice-presidente.

Nas eleições, ainda estão em jogo 20% de votos de indecisos ou de pessoas que afirmam que votarão branco ou nulo.

Além dos três candidatos principais competem pela presidência Juan del Granado, um ex-aliado de Morales que postula pelo Movimento Sem Medo, com 3% de intenções de voto, e Fernando Vargas, um indígena amazônico ecologista, do Partido Verde, com 2% nas últimas pesquisas.

LA PAZ COM POUCO CLIMA DE ELEIÇÃO - As horas anteriores à votação mostram a cidade de La Paz com pouco clima pré-eleitoral. Quase não há propaganda dos candidatos nas ruas, embora predominem os cartazes que destacam as obras públicas do governo, como as novas estradas, o teleférico que une La Paz e a cidade vizinha de El Alto e o primeiro satélite boliviano, comprado da China, que melhorou as comunicações no país.

Apesar dos ataques verbais, que prosseguiram nas últimas horas nas redes sociais, depois que entrou em vigor na quinta-feira a proibição eleitoral, a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que aguarda uma votação "normal e participativa", segundo o chefe da missão de observadores deste organismo, o ex-presidente da Guatemala Alvaro Colom.

"Eu esperaria um processo normal e muito participativo, ao estilo boliviano, que teve grandes avanços nos últimos 20 anos", afirmou Colom.

A votação começa às 08h00 e termina às 16h00 locais (17h00 de Brasília).

O organismo eleitoral informou neste sábado que nenhum meio de comunicação poderá divulgar anúncios preliminares de resultados de boca de urna antes das 20h00 locais.

Os analistas afirmam que devido às diferenças mostradas pelas pesquisas pode haver um resultado decisivo da eleição pouco depois do encerramento da votação.

Uma vez que a vitória de Morales seja confirmada - que a esta altura não está em xeque - o presidente irá ao Palácio Quemado, sede do governo, para dar saudações e uma breve mensagem, informou seu comando de campanha.

DA RESISTÊNCIA AO APOIO - Depois de enfrentar uma dura resistência em seus primeiros anos de governo, que quase chegou à guerra civil em 2008, Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, conseguiu subjugar os embates da oposição, concentrada especialmente em Santa Cruz, motor econômico e a região mais rica do país.

Os analistas não descartam que ele pode triunfar pela primeira vez neste difícil reduto e superar 50% dos votos. Há cinco anos obteve 42%.

Morales apoiou sua campanha eleitoral nas conquistas econômicas de sua gestão, que converteram a Bolívia em um dos países com maior crescimento da região, e medidas como a nacionalização dos hidrocarbonetos em 2006, que deram recursos consideráveis ao Estado e permitiram melhorar a distribuição da renda em benefício dos setores populares.

A oposição atacou as áreas mais fracas do governo, como a insegurança, o crescente tráfico de drogas, a pobreza extrema na ordem de 20%, o desemprego juvenil e sua aliança com Venezuela, Cuba e Irã.

Morales chegou ao poder em 2006 com 54% dos votos e após a aprovação de uma nova Constituição, em 2009, revalidou o cargo em novas eleições nas quais obteve 64% dos votos para o período 2010-2015.

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