Conflito

Peritos trabalham na área da queda do avião em meio a combates na Ucrânia

Renata Dorta
Renata Dorta
Publicado em 01/08/2014 às 13:57
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Em carros brancos inspetores da Osce são escoltados por soldados. / Foto: Bulent Kilic/ AFP

Em carros brancos inspetores da Osce são escoltados por soldados. Foto: Bulent Kilic/ AFP

Várias dezenas de inspetores internacionais chegaram nesta sexta-feira (1º) ao local onde o avião malaio caiu na Ucrânia para investigar esta tragédia, apesar da retomada dos confrontos fatais no leste do país.

Ao menos dez paraquedistas ucranianos figuram entre as 14 vítimas de uma emboscada na madrugada desta sexta-feira dos rebeldes perto de Shajtarsk, a 25 quilômetros do local do acidente, indicou o Estado-Maior ucraniano.

Outros 11 militares desapareceram e 13 ficaram feridos, declarou o porta-voz do Conselho Nacional ucraniano de Segurança e Defesa, Andri Lisenko.

As forças ucranianas retomaram a operação contra os separatistas pró-russos depois de suspendê-la na quinta-feira para facilitar a investigação internacional sobre a tragédia aérea, que também provocou a adoção de sanções ocidentais contra a Rússia, acusada de armar os rebeldes.

Um pequeno grupo de especialistas holandeses e australianos conseguiu chegar na quinta-feira ao local onde o Boeing da Malaysia Airlines caiu, onde ainda há restos humanos e do avião, mais de duas semanas após o drama que deixou 298 mortos no dia 17 de julho.

Um comboio de 14 veículos partiu na mesma direção na manhã desta sexta-feira, acompanhados por homens e material procedente de Kharkiv (leste).

DISPAROS E COLUNAS DE FUMAÇA - No total, um grupo de 70 especialistas holandeses e australianos, liderados pelos observadores da Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), chegaram durante a manhã ao local da tragédia aérea, confirmou a OSCE em sua conta no Twitter.

Os especialistas internacionais, que terminaram seu trabalho por hoje, recolheram novos restos mortais, indicou em um comunicado durante a tarde o ministério da Segurança e da Justiça da Holanda, para onde já foram enviados mais de 200 cadáveres dias após a queda do voo MH17.

O governo holandês indicou que foi possível identificar uma segunda vítima e reiterou que os trabalhos de identificação dos corpos pode durar meses.

Em seu trabalho em terra, o Parlamento ucraniano autorizou na quinta-feira os policiais holandeses e australianos a portar armas, o que para Andrei Purguin, um chefe separatista, significa uma intervenção militar de fato, denunciou à agência Interfax.

A tarefa dos especialistas internacionais no leste da Ucrânia se anuncia difícil devido aos combates. A ofensiva militar ucraniana lançada no início do ano avança, em especial em alguns redutos pró-russos, como as cidades de Donetsk e Lugansk, e na zona fronteiriça com a Rússia.

A uma dezena de quilômetros do local onde o avião malaio caiu, um jornalista da AFP ouviu um disparo de tanque perto da localidade de Kirovske e viu colunas de fumaça se elevarem no céu de Shajtarsk.

As forças ucranianas reivindicaram nesta sexta-feira a tomada da cidade de Novyi Svit, 25 km ao sul de Donetsk, que conta com 8.000 habitantes, e afirmaram que a aviação russa violou o espaço aéreo ucraniano.

LUGANSK SEM ÁGUA E ELETRICIDADE - Em Lugansk, os combates deixaram cinco mortos, entre eles um menor, e nove feridos civis em 24 horas, segundo as autoridades municipais. A cidade não conta com água corrente ou eletricidade.

Em Donetsk, a prefeitura indicou que um passageiro de um micro-ônibus morreu na noite de quinta-feira em uma explosão produzida por um disparo de artilharia.

Nessa quinta-feira (31), em um encontro em Minsk entre representantes ucranianos, separatistas e russos, sob a supervisão da OSCE, as diferentes partes acordaram garantir um acesso seguro aos investigadores internacionais durante seu trabalho no local da tragédia aérea, indicou a OSCE em um comunicado.

O ex-presidente ucraniano Leonid Kushma, que representa Kiev nas negociações, afirmou que os rebeldes pró-russos, que controlam a zona onde o avião caiu, afirmaram que entregariam os objetos pessoais dos falecidos.

As duas partes se comprometeram a libertar 20 prisioneiros cada uma, acrescentou em uma entrevista à agência Interfax-Ucrânia.

Os combates deixaram mais de 1.100 mortos, segundo as Nações Unidas, sem contar as vítimas do avião, e significaram um duro golpe para as relações entre os países ocidentais e Moscou.

A Rússia, cuja economia encontra-se à beira da recessão, minimizou a importância das últimas sanções ocidentais contra setores chave como finanças, defesa e energia, e advertiu que estas medidas poderiam se voltar contra os interesses de Europa e Estados Unidos.

O opositor russo e ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov lamentou que os países ocidentais tenham esperado tanto tempo para reagir a Putin.

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