Energia

Ártico russo, nova terra prometida para companhias de petróleo

NE10
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Publicado em 18/06/2014 às 18:23
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O Ártico russo, com suas infraestruturas remotas, seu frio glacial e suas espécies ameaçadas, é a nova terra prometida para as companhias petrolíferas, apesar da quantidade de obstáculos existentes para a sua exploração.

"O Ártico é uma das grandes zonas restantes no mundo com recursos em petróleo e gás ainda não descobertos", lembrou Rex Tillerson, presidente da gigante americana ExxonMobil, no Congresso Petrolífero Mundial, celebrado esta semana em Moscou.

É, inclusive, "um dos últimos locais com potencial de descoberta de enormes jazidas", concordou Tim Dodson, um dos encarregados da companhia pública norueguesa Statoil.

Segundo relatório publicado em 2008 pelo Instituto Geológico dos Estados Unidos (USGS), mais de 20% das reservas de hidrocarbonetos do planeta ainda não descobertas estão no Ártico.

Este tesouro - 84% submarinos - estaria situado, em grande parte, na Rússia (em frente ao litoral da Sibéria ocidental e no extremo leste do país) e atrai grupos petroleiros russos e ocidentais, como Statoil e ExxonMobil, que no ano passado fechou uma aliança para extrair petróleo no Ártico com a gigante local do petróleo, Rosneft.

Mas, "não se deve ignorar os obstáculos" para a exploração no Ártico, advertiu Dodson.

"Os desafios específicos são a segurança e o meio ambiente; a produção e a logística, assim como a utilização do gás", já que na falta de saídas, será preciso construir gasodutos, enquanto que para a exportação de petróleo são necessários oleodutos submarinos ou petroleiros adaptados ao Ártico, listou Oleg Mikhailov, vice-presidente da companhia russa Bachneft.

- Um transporte caro -

Além disso, se quiserem extrair petróleo ou gás em larga escala no Ártico russo, será preciso "transportar milhões de toneladas de material até uma das regiões mais isoladas do mundo", o que "requer uma expansão da infraestrutura ferroviária e a construção de uma rede de portos e bases costeiras", advertiu.

No que diz respeito à segurança e ao meio ambiente, "o gelo, a neve, o frio e a escuridão criam um ambiente ao mesmo tempo hostil e magnífico", destacou Dodson.

É preciso "assegurar que as companhias que operam no Ártico tenham o material, as pessoas e a formação necessários para combater uma maré negra", avaliou Mikhailov.

De fato, a catástrofe de 2010 no Golfo do México "mostra os problemas que inclusive as maiores companhias do mundo têm que enfrentar no caso de uma maré negra sem controle. Resolver uma maré negra no Ártico, em um mar congelado, seria um desafio ainda mais difícil de superar", reconheceu.

Este risco preocupa as ONGs ambientalistas, como o Greenpeace, que teve 30 militantes detidos pelas autoridades russas em setembro, inclusive a bióloga brasileira Ana Paula Maciel, quando realizavam um ato contra uma plataforma petrolífera da Gazprom. Eles foram libertados no fim de dezembro, após receberem um indulto presidencial.

Para as ONGs, as atividades petrolíferas e gasíferas no Ártico são condenáveis por uma dupla razão, já que põem em risco um ecossistema particularmente frágil, refúgio de espécies ameaçadas (ursos polares, cetáceos, etc) e porque contribuem para acelerar as mudanças climáticas, que já têm severas consequências na região.

Afinal, tudo isso pode fazer com que estes projetos sejam tão onerosos que talvez não valha a pena empreendê-los. Daí a corrida contra o relógio entre os grupos petroleiros para encontrar tecnologias que permitam reduzir estes custos.

Assim, a Statoil tenta conceber um novo tipo de plataforma de perfuração, especialmente adaptada para estas condições extremas. A francesa Total, por sua vez, busca há anos com a Gazprom uma solução rentável para explorar a gigante jazida de Chtokman, no Mar de Barents, sem ter ainda encontrado uma saída milagrosa.

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