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Promotora rebate tese de insanidade dos canibais e tenta provar mesma participação do trio no crime

Malu Silveira
Malu Silveira
Publicado em 14/11/2014 às 13:19
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Algumas provas dos autos dos processos, como mídia de depoimentos prestados à Polícia Civil, foram apresentadas pela promotora / Foto: Luiz Pessoa/NE10

Algumas provas dos autos dos processos, como mídia de depoimentos prestados à Polícia Civil, foram apresentadas pela promotora Foto: Luiz Pessoa/NE10

"Você não vai manipular a Justiça. Você será condenado!", disse, com dureza ao réu Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, 52 anos, a promotora  Eliane Gaia ao abrir sua fala no segundo dia do júri popular dos acusados de matar, esquartejar e comer a carne da moradora de rua Jéssica Camila da Silva Pereira em 2008. Além dele, respondem pelo mesmo crime Isabel Cristina Torreão Pires, 53, e Bruna Cristina de Oliveira, 28. 

Bastante afiada em seu discurso e se dirigindo frequentemente aos sete jurados que compõem o Conselho de Sentença, a promotora do Ministério Público de Pernambuco - primeira na fase de debates neste segundo dia do julgamento - discorreu por mais de duas horas sobre os crimes cometidos pelo trio que ficou conhecido em 2012 - época em que o asssassinato da jovem Jéssica, à epoca com apenas 17 anos, foi descoberto - como "Os canibais de Garanhuns". Mais dois crimes foram cometidos no município do interior de Pernambuco. "Nunca antes tínhamos visto um caso desse de canibalismo. Com requinte de perversidade e maldade. Para isso, eles tiveram piedade da vítima? Não!", defendeu Eliane Gaia. 

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No canto direito do salão do júri, no Fórum de Olinda, o trio assistia ao discurso da promotora. "Bruna, você está linda hoje. Toda sensual. Bruna adora rir. Ela é a estrela do momento! Uma canibal feliz", se referiu, sarcasticamente, à mais jovem dos acusados. Sobre Jorge, foi bastante dura. "E Jorge, jurados. Este homem que é quase uma parede. Olhem para ele, o olhar dele não muda", afirmou por diversas vezes. Com Isabel Cristina, a mais velha e apontada como mais frágil, foi irônica. "E Dona Isabel? A doce Dona Isabel, que gosta de  comer fígado", descreveu aos jurados e plateia. 

Jorge, Isabel e Bruna tiveram suas condutas amplamente estudadas pela promotoria

Jorge, Isabel e Bruna tiveram suas condutas amplamente estudadas pela promotoriaFoto: Luiz Pessoa/NE10

Durante o debate, a promotora chegou a reclamar com a juíza Maria Segunda de tentativas do trio de atrapalhar o seu discurso. Bruna, inclusive, chamou a atenção da magistrada, pedindo a vez para falar. Eliane Gaia se irritou e parou o discurso até que o mal-estar fosse resolvido. "Por favor, desconte aí no meu tempo, Vossa Excelência", disparou.

As provas estão aí e elas são fartas. Os senhores são soberanos para julgar os fatos. Utilizem essa soberania para fazer justiçaEliana Gaia, promotora

Os laudos dos exames de sanidade mental dos três acusados elaborados pelo psiquiatra forense Lamartine Hollanda, que atestavam que nenhum dos três têm doenças ou distúrbios mentais que possam comprometer o entendimento deles sobre o crime, foi uma das estratégias usadas pela promotora para tentar convencer os jurados. "Dona Isabel, por exemplo, sabia o que estava fazendo. Todos sabiam, eles se associavam para fazer, em uma pluralidade de ações", sustentou. 

Jorge, Isabel e Bruna tiveram suas condutas amplamente estudadas pela promotoria durante o tempo reservado à acusação. Bruna, por sua postura fria, foi o principal alvo de alfinetadas. "Bruna é tão inteligente que quando perguntamos sobre o processo de Garanhuns, ela prontamente disse: 'Eu respondo lá!', e por quê? Porque o de Garanhuns ela ainda não estudou o processo. Este, jurados, ela leu todo", explicou. 

Já nas considerações finais, a promotora explicou a diferença entre imputáveis - que podem responder pelo crime que cometem - e inimputáveis - portadores de doença mental que, no momento do crime, não têm consciência para responder judicialmente sobre o delito. "O louco premedita o crime?! Não! Ele faz a vítima, ele não articula o crime", explicou a promotora. 

Algumas provas presentes nos autos dos processos, como mídia de depoimentos prestados à Polícia Civil de Pernambuco na época das investigações e cópias dos desenhos feitos por Jorge Beltrão, foram apresentadas pela promotora. "Eu aprendi uma verdade no júri. Ela é subjetiva, mas sempre segue um caminho. Mas a verdade do criminoso é que ele sempre está certo. Cada um tem a sua verdade. Eles acreditavam que estavam certos, mas eles não sou loucos. São pessoas normais", afirmou ao corpo do júri. 

A promotora usou seus últimos minutos para se dirigir diretamente aos jurados. "As provas estão aí e elas são fartas. Os senhores são soberanos para julgar os fatos. Utilizem essa soberania para fazer justiça", terminou Eliane Gaia. 

Luiz Pessoa/ NE10
Jorge Beltrão é um dos acusados de canibalismo - Luiz Pessoa/ NE10
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Isabel Cristina, esposa de Jorge, mostra-se a mais abalada do trio - Luiz Pessoa/ NE10
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Bruna Cristina apresentou um comportamento frio no primeiro dia - Luiz Pessoa/ NE10
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Jorge Beltrão é um dos acusados de canibalismo - Luiz Pessoa/ NE10
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Isabel Cristina, esposa de Jorge, mostra-se a mais abalada do trio - Luiz Pessoa/ NE10
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Isabel Cristina, esposa de Jorge, mostra-se a mais abalada do trio - Luiz Pessoa/ NE10
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Jorge Beltrão, 52 anos, Isabel Cristina, 53, e Bruna Cristina, 28, são os réus do julgamento - Luiz Pessoa/ NE10
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Jorge Beltrão, 52 anos, Isabel Cristina, 53, e Bruna Cristina, 28, são os réus do julgamento - Luiz Pessoa/ NE10
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Julgamento dos canibais chega ao segundo dia no Fórum de Olinda - Luiz Pessoa/ NE10
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Promotora Eliana Gaia quer condenação integral para os três - Luiz Pessoa/ NE10
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O trio responde por homicídio quadruplamente qualificado, vilipêndio e ocultação de cadáver - Luiz Pessoa/ NE10
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Promotora Eliana Gaia quer condenação integral para os três - Luiz Pessoa/ NE10
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A juíza Maria Segunda Gomes de Lima é responsável pelo julgamento do trio - Luiz Pessoa/ NE10
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Julgamento dos canibais chega ao segundo dia no Fórum de Olinda - Luiz Pessoa/ NE10
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Julgamento dos canibais chega ao segundo dia no Fórum de Olinda - Luiz Pessoa/ NE10
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O trio responde por homicídio quadruplamente qualificado, vilipêndio e ocultação de cadáver - Luiz Pessoa/ NE10
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Defensora pública de Jorge Beltrão, Tereza Joacy inicou sua fala com a Oração de São Francisco - Luiz Pessoa/ NE10
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Tereza Joacy criticou a acusação: "nem o Código Penal é capaz de especificar [a punição]" - Luiz Pessoa/ NE10
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Isabel Cristina chorou em vários momentos do júri - Luiz Pessoa/ NE10
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Isabel Cristina chorou em vários momentos do júri - Luiz Pessoa/ NE10
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Bruna Cristina não tirou o sorriso dos lábios durante o júri - Luiz Pessoa/ NE10
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Advogado Paulo Sales começou a defesa de Isabel falando sobre Jorge - Luiz Pessoa/ NE10
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Rômulo Lyra, advogado de Bruna Cristina, disse que Jorge seduziu sua cliente - Luiz Pessoa/ NE10
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Além de rir, Bruna Cristina soltou beijinho durante o júri - Luiz Pessoa/ NE10

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