Jackson Ramos, cadeirante de 24 anos e paratleta, enfrenta dificuldades de locomoção por causa da falta de acessibilidade nas paradas de ônibus do Recife Foto: Júlio Cirne/JC Trânsito
Se ser usuário de transporte coletivo na Região ?M?etropolitana do ?R?ecife (RMR)? já é difícil para quem desfruta de mobilidade plena, a situação fica ainda pior quando se? tem alg?uma deficiência. Nes?te? 3 de dezembro, quando é comemorado o ?D?ia Internacional da Pessoa com Deficiência, o JC Trânsito traça um panorama da situação das paradas de ônibus nos principais pontos ?da ?RMR, no que diz respeito às políticas de acessibilidade para atender às necessidades especiais desse grupo que representa 26,75% da população pernambucana, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE.? Infraestrutura precária nos pontos, equipamentos quebrados nos ônibus, abrigos sem proteção do sol e da chuva, além de desrespeito são alguns desses problemas enfrentados diariamente pelos deficientes físicos.
Veja, na galeria de fotos abaixo, a situação de algumas paradas de ônibus no Centro do Recife:
Um dos locais de maior fluxo de pessoas no Recife, a área Central, principalmente os bairros do Derby e da Boa Vista, é o local que mais recebe críticas de quem precisa se locomover de ônibus para resolver as obrigações cotidianas. Mãe do cadeirante e paratleta Jackson da Silva Ramos, de 25 anos, a dona de casa Lindacy Maria da Silva Ramos, com 48 anos, reclama principalmente da infraestrutura das paradas de ônibus, que não estão preparadas para atender às necessidades especiais de pessoas com deficiência.
Algumas paradas não contam nem com cobertas para proteger do sol e da chuvaFoto: Júlio Cirne/JC Trânsito
“São muito estreitas. Essa (parada de ônibus) aqui da Praça do Derby é maior um pouco, mas a maioria normalmente é pequena e descoberta. Quando chove a gente se molha, quando faz sol também é ruim, pois passamos muito tempo esperando o coletivo no calor”, disse dona Lindacy. Quando conversou com o JC Trânsito, na manhã des?s???a quarta-feira (2), a dona de casa vinha de uma consulta médica com Jackson no bairro do Derby. Morando em Jardim São Paulo,? bairro Zona Oeste do Recife,? mã?e? e filho contam que demoram cerca de duas horas quando precisam sair ?de lá para chegar à área central.
Apesar de todas as dificuldades, Jackson não se deixa vencer por elas. ?E?ste ano o jovem começou a jogar basquete, através de um programa de inclusão oferecido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mesmo com o lugar dos treinamentos sendo mais próximo de sua casa, Jackson mantém a mesma reclamação da mãe: “A parada não é boa e o motorista sempre para longe de onde estamos para subir no ônibus”, disse o jovem. “Isso quando o carro está preparado para ele”, reiterou dona Lindacy, dizendo que alguns veículos ainda não possuem o equipamento necessário para que cadeirantes embarquem nos ônibus.
Jackson encontra dificuldades para embarcar no ônibus, pois o motorista para muito longe de onde ele está. Confira o vídeo:
De acordo com dados do Grande Recife Consórcio de Transporte, responsável pela operação do transporte coletivo no Recife e RMR, cerca de 5% da frota de 3 mil ônibus cadastrados ainda não contam com o elevador da porta do meio. Veja mais números sobre o transporte abaixo:
Ilustração: Guilherme Castro/NE10
Além dos cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, os deficientes visuais formam outro grupo que sofre por causa da falta de infraestrutura das paradas, que não oferecem o mínimo possível de recursos de acessibilidade. É o que relata Michell Platini, que trabalha na área de comunicação social da Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (Sead). “Não existe, no Recife, nenhuma parada com sinal sonoro”, disse Michell, que também é usuário de transporte coletivo.
Falta de educação: população suja as paradas que já estão degradadas pelo tempo e pela falta de manutençãoFoto: Júlio Cirne/JC Trânsito
O jovem explica ainda que para atender integralmente as necessidades de um deficiente visual, as ?pa?radas de ônibus deveriam contar com dispositivo de “voz sintética”, que além de avisar sobre a chegada do ônibus, ainda informa qual é a linha que está na parada. Por causa da total ausência dessas paradas adaptadas, Michel conta que o deficiente visual acaba tendo que contar com a solidariedade de outras pessoas. Ele considera que o recifense está sempre disposto a ajudar, mas muitas pessoas ainda não sabem como agir para ajudar uma pessoa com deficiência visual. “São coisas simples como, por exemplo, a pessoa se oferecer para ajudar e, caso o ônibus dela chegue primeiro, ela vai embora sem avisar”.
Outra reclamação recorrente diz respeito à falta de preparo de alguns motoristas para lidar com pessoas com ?deficiência: “Além do despreparo, há alguns motoristas que param o ônibus muito longe de onde a pessoa está parada ou que simplesmente mostram má vontade para auxilar”, disse Michell, contando que já aconteceu de um motorista ironizar a sua deficiência apenas porque ele reclamou da distância com a qual o ônibus parou em relação ao ponto.
ALÉM DA DEFICIÊNCIA - Quando se fala em acessibilidade, o debate acaba ficando concentrado na questão da deficiência, essa crítica é compartilhada pelo gerente de Política da Sead, Geziel Bezerra: “A acessibilidade é universal. Ela serve para atender à mulher grávida, um idoso, uma pessoa obesa e a outros grupos”. Geziel também é cadeirante e, como usuário de ônibus, precisa enfrentar as dificuldades que a ausência das paradas adaptadas trazem. Ele se desloca diariamente de Olinda ao Centro do Recife usando o transporte coletivo.
?EXEMPLOS DE FORA - A cidade do Rio de Janeiro se prepara para nos próximos dias instalar um sistema que promete melhorar a vida de deficientes visuais na hora de usar o transporte coletivo. Chamado de "ponto inteligente" e idealizado pelo estudante de engenharia elétrica Douglas Toledo, o projeto foi batizado de Viibus, sigla em inglês para “Visually Impaired Inteligente Bus Stop” (Ponto de Ônibus Inteligente para Deficientes Visuais).
No sistema, ponto de ônibus recebe um painel em braile com as informações das linhas que param nele. O usuário seleciona a linha e aguarda a chegada do veículo. Em? seguida?, ?um sinalizador visual é acionado para indicar ao motorista que há um deficiente visual esperando naquele ponto. O motorista do coletivo também é informado da presença do passageiro no ponto. Quando o ônibus chega à parada, o passageiro é notificado e solicita o embarque apresentando um cartão de identificação.
O desenvolvimento do projeto foi o trabalho de conclusão de curso de Douglas e foi vencedor do "Desafio Cisco", que premia iniciativas baseadas no conceito de "internet das coisas". O Viibus será instalado como protótipo na área do Porto Maravilha, uma dos locais do projeto olímpico da cidade do Rio de Janeiro.
Confira o vídeo de divulgação do projeto:
PERSPECTIVAS PARA PERNAMBUCO - Atualmente, a RMR conta com aproximadamente 5.850 paradas de ônibus, padronizadas em cinco modelos diferentes: abrigos de metal coberto; abrigos feitos de concreto; montante, que são placas de metal com aproximadamente 1,80m de altura; colunas em "L" e placas em poste de concreto. O Grande Recife informa que as paradas nesse último modelo só são usadas para indicar os pontos quando não é possível utilizar modelos de outro tipo.
Ainda segundo o consórcio, um trabalho de reparos pontuais vem sendo realizado nas paradas do Centro do Recife. Além disso, será lançada em breve uma licitação para a manutenção de todos os abrigos de ônibus da RMR. A licitação está na fase interna (ajustes no edital) e após a conclusão será enviado à Secretaria de Administração para análise e publicação do edital. O contrato de concessão terá validade de 20 anos.
A respeito da adaptação das paradas, a assessoria do Grande Recife informou que ainda não há pontos específicos estabelecidos para esse tema, mas que a matéria será incluída no processo de análise do edital.
O consórcio atenta para que população zele pelo bom estado das paradas existentes e informa que, apenas de janeiro a julho de 2015, foram gastos mais R$ 404 mil em reparos de danos que foram causados por vandalismo.
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