Pernambuco

Proibido há quase 15 anos, cerol continua sendo perigo para ciclistas e motociclistas

Julliana de Melo
Julliana de Melo
Publicado em 08/10/2015 às 15:30
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Pescoço da ciclista foi ferido por linha de pipa em Boa Viagem / Foto: Carolina Paraíso/Cortesia

Pescoço da ciclista foi ferido por linha de pipa em Boa Viagem Foto: Carolina Paraíso/Cortesia

A lei 11.931, que proíbe o uso do cerol em linhas de pipas em Pernambuco, foi sancionada em janeiro de 2001. Quase 15 anos depois, a mistura de cola e pedaços de vidro continua em uso e sem fiscalização, provocando acidentes principalmente envolvendo motociclistas e ciclistas. Sem fiscalização ou mesmo estatísticas oficiais sobre isso, só resta tomar cuidados.

Um acidente deste tipo por pouco não tirou a vida do motociclista Ricardo Moraes, 38 anos. Há dois anos ele trafegava na antiga BR-101, na altura do bairro de Ponte dos Carvalhos, quando uma linha com cerol atingiu seu nariz próximo aos olhos. “Eu vi que tinham dois meninos com pipa na calçada da estrada e de repente ouvi um barulho como se fosse a serra de faca passando nos dentes. Parei a moto, coloquei a mão no pescoço mas não senti nada. De repente começou a pingar sangue no tanque da moto e quando olhei no retrovisor vi meu nariz solto”, relembrou ele.

Ricardo chegou a receber os primeiros socorros de funcionários de uma empresa localizada às margens da rodovia, mas precisou ser levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência até o hospital Dom Hélder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho, Grande Recife, onde recebeu seis pontos no nariz. “Eu estava com aqueles capacetes que não tem a parte do queixo e com a viseira aberta. O óculos que estava usando ficou riscado pela linha, ou seja, poderia ter atingido meus olhos. Pior. Se a viseira estivesse fechada poderia ter cortado meu pescoço”, detalhou o motociclista que também usa o veículo para trabalhar. “Hoje eu não pego uma moto sem corta-pipa nem para ir na esquina. Eu poderia não estar aqui. Como ficaria minha filha e minha esposa?”, completou.

Já a administradora Carolina Paraiso, 33 anos, estava pedalando na ciclovia da Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, no último domingo (4), quando foi atingida no pescoço por uma linha de pipa. Não se sabe se era mesmo cerol o material que estava no cordão de nylon que atingiu o pescoço dela, mas ficou o alerta. Carolina publicou o caso no Facebook e o post já teve mais de 1,5 mil compartilhamentos. "Minha preocupação foi avisar para que outras pessoas não passassem pela mesma situação", disse.

Pessoal do pedal, skate, patins e afinsAtenção ao andar especialmente na orla ou em bairros onde hajam crianças...

Posted by Carolina Paraiso on Sunday, 4 October 2015


A ciclista também comprou a antena conhecida como corta-pipa, equipamento de proteção já usado por alguns motociclistas e previsto pela resolução 378 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para quem usa o veículo para trabalhar. "Me impressionou que nas lojas onde passei não eram poucos os casos. As pessoas sempre diziam que conheciam alguém com quem tinha acontecido (um acidente com cerol", afirmou Carolina. Há diversos modelos de  antenas, principalmente em lojas de acessórios para motos, com preços que variam de R$ 10 a R$ 50.

Além da "corta-pipa", o major do Corpo de Bombeiros Edson Marconni orienta o uso de outros equipamentos de segurança, como óculos e capacete, para evitar o contato direto do material com a pele. "Toda barreira de proteção é importante."

Carolina estava de luvas no dia do acidente e até o material foi cortado pela linha da pipa, mas diminuiu o ferimento na mão dela. "Estava na praia e cheguei em uma parte onde havia muita gente, quando diminui a velocidade. Foi minha sorte. Senti a linha e tentei puxar; cortei um pouco o dedo e a luva", contou. "Se eu viesse na velocidade que geralmente pedalo, teria tido um ferimento grave."

A ciclista não chegou a ser procurar atendimento especializado. Apesar disso, Marconni ressalta a importância de consultar um médico após o acidente. "Isso não quer dizer que não tenham ocorrido lesões internas. Se a pessoa tiver dificuldades respiratórias, devido ao corte no pescoço, deve ficar em posição confortável, deitada ou inclinada", advertiu. O major indicou ainda colocar gelo na pele, sempre protegido por panos que não sejam grossos.

No caso de ferimentos mais profundos, o primeiro passo é acionar o Corpo de Bombeiros, pelo 193. As orientações sobre o que fazer já são dadas por telefone, mas algumas são:

- Controlar o sangramento, usando panos secos e limpos para pressionar a área. Porém, é preciso ter atenção principalmente se for no pescoço, para não fazer isso com muita força e impedir a oxigenação do cérebro
- Tentar acalmar a vítima, para evitar o aumento dos batimentos cardíacos e, consequentemente, o fluxo de sangue
- Manter a vítima deitada e com a cabeça nivelada à superfície. É mito a necessidade de mantê-la mais alta e de levantar as pernas; pelo contrário, isso pode piorar a gravidade do ferimento
- Transportar a pessoa para o hospital ou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próximos. Quem for prestar socorro deve usar luvas

Depois de ser atendida, a vítima deve registrar um Boletim de Ocorrência em qualquer delegacia.

Esses cuidados, no entanto, são apenas paliativos. Os pais não devem deixar as crianças usarem cerol, prática ainda comum. "Existe lei para tudo, mas as pessoas desrespeitam", lamentou Marconni. A legislação atual prevê que, no caso de crianças e adolescentes usarem cerol, os pais ou tutores serão responsabilizados, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. As medidas variam de acordo com o dano causado às vítimas, além de multa. O problema é encontrar os responsáveis.

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