Dia Mundial

#VemDeBike: motorista, o ciclista é parte do trânsito!

Julliana de Melo
Julliana de Melo
Publicado em 19/08/2015 às 20:50
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Recife tem apenas 33 quilômetros de malha cicloviária / Foto: Hélia Scheppa/Acervo JC Imagem

Recife tem apenas 33 quilômetros de malha cicloviária Foto: Hélia Scheppa/Acervo JC Imagem

A conscientização, o respeito e a infraestrutura ainda não são suficientes para que todos os motoristas e ciclistas convivam em paz no trânsito do Recife, como deve ser. Porém, mesmo com ressalvas e muitas buzinadas, integrantes de associações de cicloativistas já comemoram certo avanço nos últimos anos. Na cidade com apenas 33 quilômetros de malha cicloviária, eis pelo menos um motivo para comemorar nesta quarta-feira (19), Dia Mundial do Ciclista, quando iniciamos, no JC Trânsito e no Portal NE10, a campanha #VemDeBike.

É o caso de Ênio Paipa, articulador nacional do Bike Anjo, que pedala há cinco anos e justifica essa evolução ao fato de a bike estar em pauta entre os recifenses, seja na mídia, em discussões ou em políticas públicas. O coordenador da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), Daniel Valença, também percebe que há mais respeito, mas credita isso à maior adesão dos moradores da cidade às bikes, principalmente devido aos constantes congestionamentos.

Para Valença, no entanto, esse avanço esbarra na falta de ciclovias e ciclofaixas. "A infraestrutura é importante porque permite respeito mútuo entre os modais", defende. Das 12 novas rotas prometidas, durante o lançamento do Plano Diretor Cicloviário (PDC), em fevereiro de 2014, apenas uma saiu do papel – a ciclofaixa Marquês de Abrantes, com 1,9 quilômetro entre Campo Grande e Rosarinho, na Zona Norte. E com críticas: "Eles (o poder público) tiram dos locais com rota normal e colocam em paralelas que não necessariamente atendem a população."

Está em discussão também a ausência de ligações entre as ciclovias e ciclofaixas. "A malha cicloviária é completamente desconexa. A mais integrada é a da Estrada do Encanamento com a do Arraial (na Zona Norte), mas na lógica de circuito, não de integração", afirma o cicloativista. Saiba onde há espaços exclusivos para os ciclistas no Recife:



Procurada pelo Jornal do Commercio, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) prometeu ainda para este ano, as ciclovias Inácio Monteiro, no Cordeiro; Antônio Curado, no Engenho do Meio; e Jardim São Paulo, no bairro do mesmo nome. Vale salientar que as duas primeiras eram previstas para o ano passado.

Para a Ameciclo, exemplos de vias que deveriam ter faixas só para quem está pedalando são a Avenida Caxangá, na Zona Oeste, com circulação diária de mais de 5 mil ciclistas, e a Rua do Futuro, na Zona Norte. "Lá (na Rua do Futuro) seria como eles (o poder público) estão acostumados, sem mexer com o fluxo de veículos, apenas tirando vagas de estacionamento", ironiza Valença. A cada três meses, a associação faz contagens do número de ciclistas nas vias - a programação completa de palestras e eventos está no site deles, neste link.

Além da falta de integração entre as próprias faixas exclusivas para os ciclistas, um obstáculo à pedalada como meio de transporte é a falta de ligação entre os modais. Não é permitido, por exemplo, levar bicicletas no metrô da capital pernambucana em dias úteis. "A bicicleta já tem um grande potencial para transportar as pessoas até seis quilômetros, o que corresponde à maioria dos deslocamentos. Mas a integração permitiria maiores distâncias ou acesso mais fácil a lugares onde as pessoas se sentem mais inseguras, como o Viaduto Capitão Temudo (na Zona Sul). É uma forma de aumentar o raio", justifica o coordenador da Ameciclo.

A associação defende ainda a implantação de bicicletários nas estações e de canaletas para facilitar o acesso das bikes pelas escadas rolantes.

Há ainda a questão da formação dos condutores. Poucos são conscientizados para obedecer a regras simples do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), como a obrigação de reduzir a velocidade ao passar por um ciclista e manter distância de 1,5 metro. Devido ao não cumprimento dessa norma, aliás, só nos 14 primeiros dias deste mês, 71 pessoas reprovaram no teste prátido do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE) para a categoria B da carteira de habilitação. Foram feitos 1.759 testes e 911 candidatos não conseguiram passar.

O QUE É BOM - A bicicleta tem inúmeros benefícios além de reduzir a quantidade de carros nas ruas. "A bicicleta mudou tudo na minha vida: o comportamento com as pessoas, o jeito de enxergar a cidade... conheci coisas que nunca imaginava que existissem no Recife", conta Paipa, do Bike Anjo.

Entretanto, não adianta apenas pegar uma bicicleta velha e sair pedalando. O especialista adverte que dois cuidados essenciais são conhecer o próprio corpo, sabendo se tem condicionamento físico para fazer o trajeto necessário de bike, e verificar as condições do veículo.

Para atravessar a faixa de pedestres, ciclistas devem descer da bicicleta e ir caminhando

Para atravessar a faixa de pedestres, ciclistas devem descer da bicicleta e ir caminhandoFoto: Alexandre Gondim/JC Imagem

A orientação é ocupar pelo menos um terço da faixa de rolamento comum, um pouco afastado do meio-fio. "Tem que ter espaço para fazer desvios em qualquer eventualidade", afirma Paipa. Outros cuidados necessários são usar capacete e outros equipamentos de segurança, roupas claras e chamativas e ter atenção aos espelhos retrovisores.

Quem ainda se sente inseguro pode procurar o Bike Anjo na internet, neste link. Um dos 53 voluntários pode fazer os trajetos que forem precisos, dando dicas. Há também uma escola para quem nunca pedalou, sempre no último domingo do mês, na Praça da República, no Centro, das 9h ao meio-dia - este mês será no dia 30, em comemoração aos três anos da escola no Recife.

Da mesma forma que os carros devem cuidar das bicicletas, como orienta o artigo 29 do Código de Trânsito - os veículos maiores devem prezar pelos menores -, os ciclistas devem lembrar que também acabam virando pedestres. Não é permitido trafegar pela calçada ou pela faixa. "Todo mundo deve descer da bike e ir caminhando. Por que não fazer isso se o trecho for curto? Justificar que 'é só um quarteirão' é a mesma história do cara que estaciona o carro na vaga de deficientes e diz que são só cinco minutos", afirma Paipa. É uma questão de educação.

#VEMDEBIKE - No Dia Mundial do Ciclista, o JC Trânsito e o Portal NE10 lançaram a campanha #vemdebike, para estimular o uso das bicicletas como meio de transporte. Para participar, é só postar uma foto ou o relato da sua experiência no Twitter ou no Instagram com a hashtag. Veja algumas que já recebemos pelas redes sociais:

@ainohanmendes/Instagram
- @ainohanmendes/Instagram
@aurenicerodrigues/Instagram
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@aurinouchoa/Instagram
- @aurinouchoa/Instagram
@azevedomikson/Twitter
- @azevedomikson/Twitter
@sergiodanilopes/Instagram
- @sergiodanilopes/Instagram
@josephgospel/Twitter
- @josephgospel/Twitter
@nubia.2209/Instagram
- @nubia.2209/Instagram
@patricia2080/Instagram
- @patricia2080/Instagram
@rafa_salless/Instagram
- @rafa_salless/Instagram
@remarinh/Instagram
- @remarinh/Instagram
@thiagowagners/Instagram
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O repórter do Blog do Torcedor Thiago Wagner participou dessa missão. O jornalista saiu de casa, na Avenida João de Barros, na Zona Norte do Recife, às 12h20 e chegou à redação, em Santo Amaro, na área central, dez minutos depois. Se fosse de carro, levaria uma média de vinte minutos; de ônibus, meia hora.


Repórter saiu da Avenida João de Barros e passou pela Rua dos Palmares e pela Avenida Mario Melo até chegar à Rua Capitão Lima

Thiago não sente medo de enfrentar o trânsito e afirma que nunca foi desrespeitado pelos motoristas. O único incidente foi há mais de um ano, quando um condutor bateu o retrovisor na bicicleta dele, mas parou, pediu desculpas e prestou assistência. "Como tenho experiência, consigo ocupar o meu próprio espaço", justifica. O repórter costuma ir pedalando à academia e ao Parque da Jaqueira, ambos na Zona Norte, e dá a dica para os iniciantes: começar por vias mais tranquilas e no fim de semana, além de se impor na rua como ciclista e respeitar a sinalização e o pedestre.

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