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Em obras e desorganizada, Av. Cruz Cabugá enfrenta congestionamentos diários

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 21/05/2015 às 17:01
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 / Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Não adianta estar fora do horário de pico. É nesses horários que a Avenida Cruz Cabugá fica, quase todos os dias, travada. Com obras de estações do BRT (Bus Rapid Transport), calçadas esburacadas, sinalização horizontal incompleta e motoristas e motociclistas imprudentes, a mobilidade na via, que liga Olinda ao Centro do Recife, é muito difícil.

"O caos começa às 8h e vai até as 11h, depois dá uma pausa e o engarrafamento volta às 14h", descreve a comerciante Valéria da Silva, 44 anos, que trabalha há 14 em frente à vice-governadoria. Em tanto tempo, viu o trânsito se transformar. "Antes era muito mais calmo", ressalta.

Motociclista é flagrado se arriscando entre os carros e ainda bloqueando o trânsito

Motociclista é flagrado se arriscando entre os carros e ainda bloqueando o trânsitoFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

A rede semafórica da avenida é um dos alvos de reclamações. "É terrível, um sinal em cima do outro", afirma o taxista Denilson de Paula, 42, enquanto aguarda o semáforo abrir no cruzamento com a Rua Dr. Jayme da Fonte. "Os semáforos não estão sincronizados, o que faz com que os carros se aglomerem. É transtorno total em uma via que não deveria estar assim", diz o também taxista Rafael Américo, 32.

A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) afirmou que, como em qualquer máquina, acontecem falhas, mas negou que elas sejam frequentes. "As pessoas esquecem que na via não só tem carro, tem pedestres também", frisa o gerente geral de trânsito do Recife, Agostinho Maia, que explicou que os semáforos foram instalados de acordo com a demanda, em frente ao Hospital do Câncer, próximo às estações de BRT e no cruzamento com a Avenida Prefeito Artur Lima Cavalcanti, o trecho criticado. "Afinal, as pessoas precisam atravessar."


Estação Vila Naval, já em funcionamento, já teve parte quebrada por causa de caminhão. Peças foram solicitadas, mas não há previsão para o conserto

O entregador Flávio dos Santos, 33, percorre a Cruz Cabugá diversas vezes por dia e afirma que os motoristas que passam pela via costumam não respeitar a distância mínima de 1,5 metro de quem está de bicicleta, o que poderia lhes render multa de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira, se houvesse fiscalização. "Aqui não tem espaço para ciclofaixa, então o jeito é dividir o espaço, ter atenção e aguentar os trancos que levo", lamenta. A ciclofaixa mais próxima é na Rua da Aurora.

Apesar desses problemas, as obras de duas estações de BRT no bairro de Santo Amaro, iniciadas em junho de 2013 e ainda em andamento, são consideradas o principal motivo de tantos congestionamentos na Cabugá. São quatro paradas que compõem o Corredor Norte/Sul e, portanto, deveriam estar prontas há um ano, para a Copa do Mundo. O custo para construir cada uma é R$ 2,5 milhões, dos R$ 187 milhões contratados para o corredor, segundo valores divulgados pela Secretaria das Cidades.

As estações Araripina e IEP, entre as avenidas Norte e Mário Melo, ainda não estão prontas, mas a nova promessa da pasta é entregá-las à população em junho. Até lá, a via terá afunilamentos que provocam retenções nos dois sentidos.

Duas estações estão em funcionamento: Vila Naval, onde o teto já está quebrado, e Santa Casa da Misericórdia. Porém, com a desordem da via, carros usam o trecho de faixa exclusiva, que não está ainda em toda a avenida, atrasando as viagens.


Expectativa é de concluir as obras das estações, que se arrastam há dois anos, no próximo mês

Usuário constante da estação Santa Casa da Misericórdia, o aposentado Manoel Marcolino, 50, afirma que o sistema está melhorando, mas lamenta o tempo que os ônibus ainda perdem no meio dos carros, sem corredores exclusivos. "Com o tempo, os motoristas vão entender que têm que ficar na faixa deles. Enquanto não respeitarem isso, vai ficar assim. Isso é por falta de educação", defende.

Com o fim das obras, no entanto, haverá uma faixa exclusiva para o BRT no sentido Recife/Olinda, restando apenas uma faixa para carros, motos e ônibus comuns. Será priorizado o transporte coletivo na via, mantendo a proibição do acesso de veículos comuns a partir do Cemitério dos Ingleses até o fim da via. O acesso já é restrito, porém raramente respeitado.

No sentido Olinda/Recife, que atualmente tem três faixas de tráfego misto, terá uma exclusivamente para os BRTs e duas para os outros veículos. As linhas comuns, que funcionarão em número menor, terão paradas na calçada, como funciona atualmente, deixando uma faixa livre. "Hoje não é corredor exclusivo. Vamos fazer o isolamento com tachões, além da faixa pintada", explica o gerente de Obras da secretaria, Gustavo Gurgel.


Faixas de pedestres não estão em bom estado. Mas a CTTU afirma que uma tinta melhor será usada após o recapeamento, previsto para este ano

De acordo com a CTTU, o projeto apresentado pela Secretaria das Cidades ainda está sendo avaliado. Dessa forma, poderá passar por alterações. "Naturalmente as pessoas vão se acomodar, procurar outras vias para evitar a Cabugá", afirma Agostinho Maia, usando a Avenida Agamenon Magalhães, igualmente engarrafada, como exemplo. "Temos que aguardar a conclusão da obra para avaliar." Cerca de 20 mil veículos trafegam na Cruz Cabugá todos os dias.

PASSAGEIROS -
Se no BRT o problema é a obra, atrasada em um ano, a questão para quem pega os ônibus tradicionais é falta de respeito. "Os ônibus se alinham de uma forma que conseguem cortar a parada, mesmo tendo passageiros esperando. Não podemos fazer nada, pois reclamamos e não tem punição", protesta o eletrotécnico Abraão da Silva, 57, usuário da linha Amparo.

Além de não ter identificação das linhas, paradas ainda oferecem dificuldades a idosos para subir nos ônibus

Além de não ter identificação das linhas, paradas ainda oferecem dificuldades a idosos para subir nos ônibusFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

"Se eles (os motoristas) notam que a gente é idoso, não paga, é que não param mesmo", acrescenta a aposentada Geomedete de Souza, 65, que aguardava o Jardim Atlântico na mesma parada, em frente à Vila Naval. Aguardando a linha havia 40 minutos nesta quinta-feira (13), ela relata ainda que, no último dia 13, o motorista do ônibus que passou no mesmo local por volta das 8h50, com número de 1.063, xingava alguns passageiros. "Ele estava comendo pipoca, falando no celular e chamando palavrões com as pessoas que estavam subindo. O cobrador estava com o pé na cadeira", conta.

De acordo com o Grande Recife Consórcio, é necessário que os passageiros entrem em contato com o telefone 0800.081.0158 e informem os seguintes dados: data, hora, local, nome e número da linha, nome da empresa, número de ordem do veículo e ponto de referência. Foram registradas 870 ligações sobre queima de parada na Região Metropolitana de janeiro ao último dia 15.

Nas paradas, os passageiros enfrentam a falta de informação. "Há várias paradas e nem todos os ônibus param nelas. Deveriam pelo menos identificar em letras grandes. Estava esperando o Igarassu (Dantas Barreto) no lugar errado há uma hora, passaram dois e não pararam. Só vim para o lugar certo porque um senhor me informou", reclama o recepcionista Deivid Correia, 26, que contesta ainda o fato de as paradas não terem abrigo para todos os usuários. "Se estivesse chovendo, todo mundo estava molhado."

O Consórcio informou, pela assessoria de imprensa, que tem um projeto de identificação das linhas que param nos pontos do Centro Expandido com cartazes - além da Avenida Abdias de Carvalho, na Zona Oeste, e da Avenida João de Barros, na Zona Norte. O problema, no entanto, é que alguns foram alvo de vandalismo. O Grande Recife "solicita que a população denuncie qualquer ato contra o patrimônio público. Com a sinalização de todos esses pontos, os usuários do sistema terão mais facilidade no seu deslocamento", como disse na nota enviada ao JC Trânsito.

Cerca de 58 linhas de ônibus convencionais circulam pela avenida diariamente, além de quatro linhas de BRT. O número de passageiros por dia chega a 244 mil.

PEDESTRES -
As reclamações sobre as calçadas são inúmeras, desde os buracos e lixo até os alagamentos em dias de chuva. "Esses buracos já têm anos. Só vejo o governo gastando dinheiro, mas sem fazer nada para resolver isso. E o povo votando neles", aponta a manicure Lucicleide da Silva, 44. "Sofro de artrose e para andar aqui é muito difícil. É cada buraco que parece um vulcão", ironiza ainda o aposentado Cláudio Aurélio de Oliveira, 68.

Veja a situação na galeria de fotos abaixo:

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Barracas ocupam calçada em frente à Assembleia de Deus - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Idosos têm dificuldade para transitar nas calçadas - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Chegar à parada de ônibus por essa calçada é desafio - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Pessoas correm riscos devido aos buracos - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Por onde o pedestre passa? - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Parada de ônibus acumula água - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Mais buracos na calçada. Desta vez, próximo ao Mercado de Santo Amaro - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Após chuva na madrugada, era impossível aguardar o ônibus na parada, que ficou embaixo d'água - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Água e buracos são obstáculo nas calçadas - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Lixo também ocupa a calçada - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Em dias de chuva, buracos acumulam água - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Um trecho da calçada foi reformado para receber uma parada de ônibus, que foi desativada - Amanda Miranda/JC Trânsito
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Não há o mínimo cuidado com as calçadas - Amanda Miranda/JC Trânsito


Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) afirmou que "a manutenção é de responsabilidade dos proprietários dos imóveis, de acordo com a Lei Municipal nº 16.890/2003". É papel da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano fiscalizar.

Segundo o órgão municipal, a coleta de lixo é nas terças-feiras, quintas-feiras e sábados, sempre à noite. Então, moradores não devem colocar os sacos na calçada pela manhã.

Para evitar alagamentos como o desta quinta-feira, em que uma parada de ônibus estava embaixo d'água, a Emlurb informou ainda que "realizará a recuperação do sistema de drenagem e do pavimento da Av. Cruz Cabugá até o final de 2015. A obra terá investimento de aproximadamente R$ 2,5 milhões e deverá durar 90 dias."

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