#ViasTravadas

Av. Abdias de Carvalho: onde o pedestre não tem vez

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 30/04/2015 às 16:48
Leitura:

Joselma sempre tem que passar correndo com os filhos / Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Joselma sempre tem que passar correndo com os filhos Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

"Na vida duas certezas: a morte e o trânsito parado na Abdias", comentou Júnior Farias, em tom jocoso, no Facebook do JC Trânsito, nesta quinta-feira (30). Se está difícil assim para quem passa de carro e de ônibus pela Avenida Abdias de Carvalho, que liga o Centro do Recife à BR-232, imagine para os pedestres. Ao longo dos cerca de 5 quilômetros de via, por onde passam 59,5 mil veículos por dia, faixas de pedestres são desrespeitadas e quase todas as calçadas são cheias de buracos, entre outros obstáculos.

O ponto mais crítico é o cruzamento com a Avenida General San Martin, na Zona Oeste. O sinal é de três tempos: dois para quem vem dos dois lados de cada avenida e o outro para o giro à esquerda acessando a San Martin. Nunca para os pedestres. Quando os carros não vêm da Abdias, vêm da transversal. No meio, cada um atravessa como pode.

É o que faz a desempregada Joselma Maria Santos, 31, que precisa ir de um lado para o outro duas vezes ao dia para ir levar e buscar os filhos de 2 e 6 anos na escola. "Isso aqui é um perigo. A minha sorte é quando os orientadores estão por aqui, que me ajudam parando o trânsito", diz.

O mesmo não acontece com o estudante Severino José do Nascimento, 17. Quase todos os dias ele precisa cruzar a avenida por volta das 8h, mas raramente vê os representantes da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). "São muitos carros e eles não respeitam. "Já tenho meu jeito de atravessar, entre um carro e outro", afirma. Severino geralmente leva entre cinco e dez minutos para conseguir atravessar.

Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito
Amanda Miranda/JC Trânsito
- Amanda Miranda/JC Trânsito

Os pedestres terão que esperar pelo menos até o segundo semestre para ver em ação a proposta da CTTU. A Abdias de Carvalho faz parte de um projeto para resolver gargalos em três áreas nesse período: além da via, na Ilha do Leite, no Centro, e em Casa Forte, na Zona Norte. "Será primeiro a Abdias e depois a Ilha do Leite", promete a gerente geral de Planejamento para a Mobilidade, Sandra Barbosa.

A alteração mais sentida pelos motoristas será a proibição do giro à esquerda da Abdias para a San Martin. As mudanças, que ainda incluem recapeamento de duas ruas e abertura de canteiro central, foram estudadas, simuladas em um software e agora estão em fase de projeto.

Com o giro proibido, de acordo com a gerente, será possível reprogramar a rede semafórica da via. "Acredito que, com essa retirada do giro, melhoramos a Abdias. Mas isso compreendendo que o Recife tem um volume de tráfego grande. Por isso, não há milagre. Há carros demais. As pessoas precisam entender que estamos estudando, mas há esse excesso", ressalta Sandra.

Apesar dessa tentativa, a CTTU reconhece que não há solução prevista para o giro à esquerda da San Martin para a Abdias. Algumas atitudes, no entanto, podem amenizar o problema, como os giros livres na avenida. "O desafio é como operar melhor com o que as vias têm agora", afirma.

Pablo reclama que não há semáforo em frente à Escola Paulo Freire

Pablo reclama que não há semáforo em frente à Escola Paulo FreireFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Próximo ao cruzamento com essa via, alunos e professores da Escola Paulo Freire também enfrentam riscos para atravessar, apesar da faixa instalada em frente à unidade. "Os motoristas não têm consciência", critica o professor Pablo Egídio, 37.

Sandra Barbosa concorda com ele. "Não posso colocar um semáforo a cada 200 metros. Vamos resolver a travessia na San Martin. Mas a faixa de pedestre deve ser respeitada, inclusive por ser infração grave não fazer isso. O condutor tem que ter consciência", adverte.

O professor reclama também sobre as linhas de ônibus que atendem a avenida. Morador da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife, tem que pegar dois para chegar à Abdias. E mesmo assim desce longe, próximo ao Dom Bosco. "São constantes e rápidos, mas não tem para todos os lugares", pondera.

Outra queixa de Pablo Egídio é sobre as calçadas da avenida, problema constatado pela reportagem. Carros estacionados sem deixar espaço para os pedestres, buracos e lixo são alguns exemplos.

O trânsito no Recife está no limite, está esgotado. Há carros demaisSandra Barbosa


O segurança José Alexandre do Nascimento, 47, que trabalha na Abdias, já viu diversas atropelamentos na via. "As pessoas correm muito risco e de vez em quando tem acidente, principalmente com idosos", reclama.

CICLISTAS - Usuário da Abdias todos os dias de bicicleta, o segurança Antônio Carlos da Hora, 42, admite cometer uma infração na tentativa de garantir a própria segurança: trafega na contramão dos outros veículos. "Os carros passam muito perto e rápido. Conheço várias pessoas que sofreram acidentes", alega. Para ele, uma solução para isso seria a implantação de uma ciclofaixa.

No entanto, a faixa exclusiva para ciclistas não está nos planos da CTTU. Uma das justificativas é que o plano cicloviário da capital pernambucana tem entre as suas diretrizes elaborar rotas para atender aos pontos de interesse do bairro, como mercados e praças.

Pedestres dividem calçadas com carros, motos e buracos

Pedestres dividem calçadas com carros, motos e buracosFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Além disso, a ciclofaixa, segundo o órgão municipal, intensificaria ainda mais o trânsito na via, o que, para a Companhia, poderia ser resolvido com o planejamento das faixas em vias paralelas, também mais seguras devido ao menor fluxo de veículos. "O que podemos fazer é procurar rotas alternativas, colocar Zona 30 dentro do bairro e tomar outras atitudes. Queria muito colocar ciclofaixa, mas não tem como. É o caso da Rosa e Silva", explica Sandra.

MAIS PROBLEMAS - Na avaliação de Sandra, o cruzamento com a Avenida General San Martin é só um dos problemas da Abdias. "A avenida alimenta e é alimentada pelo tráfego para todos os interiores", avalia. Pela avenida, é possível ir do Centro às BRs 101 e 232 e também fazer o caminho inverso.

Há ainda a questão de ter tráfego intenso por vários motivos nos horários de pico, entre eles por causa dos trabalhadores da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e dos estudantes da faculdade Estácio.

A Abdias tem um semáforo de pedestres em frente à faculdade, sinal que tem aviso sonoro para deficientes visuais. Os pedestres devem cruzar a pista que segue em direção ao Centro em 25 segundos. O problema é que, como o do outro sentido não fecha em sincronia, devem aguardar no canteiro central.

Mais lidas