#ViasTravadas

Av. Caxangá é festival de infrações na Zona Oeste do Recife

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 28/05/2015 às 17:42
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Carros transitando na faixa exclusiva são cena constante / Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Carros transitando na faixa exclusiva são cena constante Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito

É carro trafegando na faixa exclusiva do BRT (Bus Rapid Transit), bicicleta na calçada, avanço de semáforo, veículos sobre a faixa de pedestres... Assim é a Avenida Caxangá, na Zona Oeste do Recife, a sétima a ser abordada na série #ViasTravadas. Um pouco menos congestionada desde a inauguração do Túnel da Abolição e do fim das obras das estações de ônibus do Corredor Leste-Oeste, a avenida é prejudicada pelos próprios motoristas.

Não é raro ver a Caxangá engarrafada, com alguns trechos mais problemáticos. Para Agostinho Maia, gerente geral de Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), a falta de educação dos condutores. "Os principais problemas são estacionamento errado, invasão de faixa, obra em alguns trechos, ônibus rodando junto com o BRT", pontua. O órgão municipal não tem ações de conscientização para a área.

Calçadas são esburacadas na Caxangá

Calçadas são esburacadas na CaxangáFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

Maia, no entanto, admite a incapacidade da CTTU de fiscalizar a avenida em toda a sua extensão. O gerente explica que, segundo as recomendações do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o número de agentes no Recife deveria ser 700, enquanto atuamente é menos de 500. "Temos protesto, obra, acidente e vários outros problemas que precisam da presença do agente. Não temos como ter um grupo exclusivo para cada via", justifica. Para ajudar nesse trabalho, defende a instalação de equipamentos de fiscalização eletrônica, ainda inexistentes nessa via.

Enquanto estava na Avenida Caxangá, nesta quinta-feira (28), o JC Trânsito presenciou diversas infrações. A principal delas foi a invasão da faixa exclusiva do BRT, em todos os trechos da via. Isso é uma infração grave, com multa de R$ 127,69, se o motorista for flagrado. "As pessoas têm que pensar que estão prejudicando um serviço que transporta mais de 30 pessoas, enquanto elas estão sozinhas em um carro", defende o gerente.


Passageiros têm que aguardar ônibus no sol na Avenida Caxangá (Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito)

Um flagra foi o momento em que um motorista parou no sinal vermelho, no cruzamento com a Estrada do Barbalho. Ao invés de esperar, como os outros carros à sua frente faziam, avançou pela faixa exclusiva do BRT e entrou na via transversal à Caxangá. Não havia guardas no local, logo, ele não foi multado. A CTTU não faz o levantamento de infrações por via.

Bicicletas transitando pela calçada são outro problema. O aposentado Nerino Gonçalves, 65 anos, estava pedalando pelo espaço para os pedestres e justifica que os motoristas não respeitam quem está sobre duas rodas. "Já bateram em mim duas vezes. Uma delas foi no Cordeiro, quando o carro bateu e foi embora. Eu fiquei no chão. Não aconteceu nada, mas foi um susto", diz.


É complicado para pedestres e ciclistas (Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito)

Mesmo assim, conviver com as bikes deixa mais difícil o percurso dos pedestres. Quem caminha pela Caxangá ainda enfrenta calçadas esburacadas e, muitas vezes, com carros estacionados como obstáculo.

Maria José diz que avenida é desorganizada

Maria José diz que avenida é desorganizadaFoto: Amanda Miranda/JC Trânsito

A aposentada Maria José dos Santos, 68, vive em bairros que margeiam a avenida há 24 anos, primeiro no Cordeiro e depois na Iputinga, e acredita que o principal problema é o excesso de veículos. "A Caxangá sempre foi assim, mas a tendência é piorar. As pessoas estão comprando carros sem limites", afirma. "Hoje em dia, a faixa do BRT é ótima. O resto é uma agonia. Além de muito carro, é tudo misturado - carro, moto, ônibus - e sem espaço. É um inferno", afirma. "Não tem hora, é tudo engarrafado sempre aqui onde moro (próximo ao cruzamento com a BR-101). Às vezes é quase uma hora para chegar ao Derby."

Cinquenta e oito mil veículos circulam pela avenida conhecida no folclore recifense como a maior em linha reta da América Latina - o que nunca foi verdade, pois ela tem aproximadamente seis quilômetros, muito menos que o trecho de 10,2 quilômetros em linha reta da Avenida Teotônio Segurado, em Palmas, capital de Tocantins.

Agostinho Maia explica que a maioria das vias da capital pernambucana está no limite. "Cada faixa tem uma capacidade de 900, mil carros por hora. Todas estão perto disso ou com mais", aponta.

Para o gestor, a Avenida Caxangá tem dois gargalos. Um deles, próximo ao Túnel da Abolição, em direção ao Centro, foi minimizado com a abertura do equipamento, no mês passado. "Quando estava em obras, o trânsito chegava próximo ao Arraial do Bom Jesus, que as pessoas chamam de Avenida do Forte, o dia inteiro. Hoje a fila de carros chega até a Avenida General San Martin, mas só até as 9h, no sentido Centro", lembra.


Mais um carro no corredor exclusivo do BRT (Foto: Amanda Miranda/JC Trânsito)

O comerciante José Maurício Ferreira da Silva, 68, que trabalha próximo ao cruzamento com a Rua José Osório há 18 anos, observou a mudança. "Para mim, o trânsito melhorou 90%. Só engarrafa pela manhã porque todos estão saindo no mesmo horário e tem que ter paciência. Estou aqui esse tempo todo e nunca vi essa tranquilidade", conta. "Quando o túnel estava em obra, a Rua José Osório estava aberta. Dois movimentos se encontravam na Caxangá e engarrafava", justifica o gerente geral de Trânsito.

O outro ponto de constantes congestionamentos no cruzamento com a Rua Ribeiro Pessoa. De um lado, principalmente à tarde, o congestionamento às vezes chega às imediações do Hospital Barão de Lucena, a aproximadamente três quilômetros. Do outro, pela manhã, à Avenida Belmínio Correia, já em Camaragibe. "O projeto do Corredor Leste-Oeste prevê um retorno por outra transversal, fechando o cruzamento, diminuindo o semáforo que quatro tempos para dois e ainda diminuindo o giro à esquerda. Mas, enquanto não fizerem as desapropriações e não pavimentarem as vias, não tem como melhorar", lamenta Maia.

CORREDOR - Embora 13 estações de BRT estejam prontas, apenas com duas a serem entregues, ainda há obras do Leste-Oeste sem conclusão prevista. São dois terminais integrados, os perimetrais III e IV - sem contar com construções em outras áreas.


Não há previsão para concluir os terminais (Amanda Miranda/JC Trânsito)

"É complicado para quem pega o BRT em Camaragibe. Sem estações prontas, quem mora no Centro tem que voltar até a integração. Além disso, tiraram as linhas Camaragibe (Conde da Boa Vista) e Camaragibe (Derby). Então, os moradores que pegam para o Shopping Boa Vista têm que descer na Avenida Guararapes e voltar", reclama o polidor Rubens Vasconcelos, 21, usuário desse sistema de transporte diariamente. Porém, frisa que a agilidade do BRT é um ponto positivo.

Os problemas, entretanto, vão continuar por prazo indeterminado. Isso porque a Secretaria das Cidades não vai renovar o contrato feito com o consórcio formado pela Servix e pela Mendes Júnior, com problemas financeiros desde que foi envolvida na Operação Lava Jato. Dessa forma, será preciso fazer uma nova licitação para escolher a empresa que concluirá o corredor, prometido para a Copa do Mundo do ano passado e orçado em R$ 168,7 milhões. A obra está com cerca de 80% das intervenções prontas. Mas ainda serão necessários meses.

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