Cuidado redobrado

Onda de insegurança no Recife leva pais a repensarem rotina familiar

Arlene Carvalho
Arlene Carvalho
Publicado em 17/02/2017 às 11:23
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A notícia da tentativa de sequestro sofrida por um estudante de 13 anos, na Jaqueira, começou a circular na tarde da quinta-feira(16) em redes sociais e deixou pais e mães aflitos / Foto: Hélia Scheppa/Acervo JC Imagem

A notícia da tentativa de sequestro sofrida por um estudante de 13 anos, na Jaqueira, começou a circular na tarde da quinta-feira(16) em redes sociais e deixou pais e mães aflitos Foto: Hélia Scheppa/Acervo JC Imagem

Os casos de violência na Zona Norte do Recife têm assustado os moradores da região e provocado mudanças na rotina das famílias. O exemplo mais recente foi a tentativa de sequestro sofrida por um estudante de 13 anos na tarde da última quinta-feira (16), na Jaqueira, que viralizou através dos grupos de WhatsApp. O caso deixou pais e mães ainda mais preocupados com a proteção de seus adolescentes e pré-adolescentes que circulam por bairros como Jaqueira, Casa Forte, Graças e Torre, que concentram grandes colégios particulares da capital. 

Uma dessas mães é a recepcionista Rebecca Francinny, 31 anos. Ela tem uma filha de 12 anos que estuda no Damas, nas Graças, e já disse que não tem condições de permitir que a filha saia sozinha. “Minha filha nunca sai sozinha. Ela fica mais na casa da avó, na Jaqueira, e minha mãe sempre vai levar ou buscar. O máximo que ela pode fazer é descer na esquina e ir andando, mas minha mãe fica conferindo”, relata. “Ontem, por coincidência, minha filha pediu para ir numa lanchonete com uma amiga, para almoçar. Como a lanchonete fica no mesma rua da escola, eu deixei. Mas depois da história desse menino, eu não deixo mais. Poderia ter acontecido algo assim com ela”, lamenta Rebecca.

O sentimento de impotência aliado à insegurança tem feito vários pais repensarem a liberdade que dão a seus filhos. A professora universitária Ully Cavalcanti, de 41 anos, não consegue proporcionar ao filho de 12 anos a mesma liberdade que tinha na idade dele. “Eu tenho dois filhos. Um menino de 12 e uma menina de 16. Na idade do meu filho, eu já voltava para casa sozinha e a pé. Era bem tranquilo. Hoje não é possível. Ele até fica bravo por ser acompanhado para qualquer lugar, até para a aula de inglês, que fica a cerca de uma quadra de distância. Mas eu não arrisco”, diz. 

Com relação à filha mais velha, a professora comenta que a própria adolescente não sente segurança de andar pelas ruas do bairro. “Quando não posso buscá-la, ela sempre prefere pegar um táxi ou um Uber por medo de ser assaltada ou algo assim. Já ouvimos muitos casos de violência sofridos pelos próprios colegas de sala dela e isso a deixou com medo. Eu tento estimular ao máximo a autonomia, mas em muitas ocasiões, ela mesma não quer ir. O que é preocupante, pois ela não pode se privar até de ir tirar uma xerox, como já aconteceu”, afirma Ully. A menina estuda em uma escola em Casa Forte e os pais moram na Jaqueira, bairros vizinhos. 

Autonomia

Para a psicóloga Maria Auxiliadora Cunha, a insegurança na cidade do Recife contribui para que os pais alimentem uma espécie de culpa pela ausência. “A ausência é absolutamente normal, já que nenhum pai pode estar disponível para o filho durante 100% do tempo. É necessário que se dê certa liberdade aos adolescentes para que, dessa forma, eles possam começar a construir sua autonomia”, explica. “O excesso é sempre prejudicial. Seja o excesso de amor, de cuidado ou de liberdade. Os pais devem orientar seus filhos, dar instruções de segurança e formar cidadãos”, explica a profissional.

Nos casos de jovens que já passaram por alguma situação de violência, Auxiliadora indica que os pais observem o filho e se identificarem traços de medo, isolamento e retração, procurem um profissional de psicologia. “Quando a criança ou o adolescente passa por algum trauma, ele tende a se isolar. A ajuda profissional é indicada para evitar que esses indivíduos desenvolvam algum tipo de transtorno social ou síndrome de pânico, por exemplo. A família precisa acolher e ensinar que crescer, apesar de difícil, é necessário” ressalta a psicóloga. 

Segurança

Com relação às queixas de insegurança na área, a Polícia Militar de Pernambuco informou que a demanda foi encaminhada aos comandantes do 11º e 13º Batalhões, responsáveis pela área, que vão intensificar as abordagens nos bairros da Zona Norte do Recife. O policiamento na área é realizado com rondas em toda área pelas Patrulhas do Bairro; Guarnições Táticas e recobrimento com o Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI). Além de contar com o apoio de motopatrulheiros.

A PM completou que vem efetuando prisões na região citada. Na última quinta-feira (15), um homem foi preso e um menor apreendido suspeitos de praticarem um assalto, em Casa Forte, utilizando uma arma falsa. No último dia 10, em parceria com a Polícia Civil, foi presa uma quadrilha de assaltantes que vinha tirando o sono dos moradores do Poço da Panela e bairros vizinhos. Foram presos dois suspeitos dois homens e apreendidos outros dois menores de idade.

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