Abandono

Projeto Peixe-Boi tem visitação suspensa e clima é de abandono

MARÍLIA BANHOLZER
MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 10/02/2017 às 20:32
Guga Matos/JC Imagem
FOTO: Guga Matos/JC Imagem
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Espaço do Projeto Peixe-Boi está um verdadeiro deserto, poucos funcionários circulam no local / Foto: Guga Matos/JC Imagem

Espaço do Projeto Peixe-Boi está um verdadeiro deserto, poucos funcionários circulam no local Foto: Guga Matos/JC Imagem

Não dá mais para visitar os aquários e os animais do Projeto Peixe-Boi, no Parque dos Mamíferos Aquáticos de Itamaracá, no Litoral Norte pernambucano. Os passeios que eram uma das atividades turísticas da região estão suspensos por tempo indeterminado. O lugar que recebia ônibus de excursão e ficava com o estacionamento lotado de carros de turistas agora guarda carros abandonados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 

Na portaria um papel velho informa que a visitação está suspensa, mas não explica os motivos. Moradores e comerciantes locais apostam quem não existem mais animais no local. A falta de atividade em aquários que podem ser vistos por quem caminha nas areias da praia do Forte Orange reforça a teoria. No site do ICMBio, os números de telefone não funcionam ou caem na casa de pessoas que, educadamente, tentam explicar que os contatos não pertencem mais ao projeto.


Nem o aviso na portaria, ou o vigilante, explicam o motivo do fechamento para visitas. Foto: GugaMatos/JC Imagem

Passeando na praia com amigas, a adolescente Ester do Nascimento Costa, 14 anos, tentava ver de longe se havia movimentação nos aquários. "Antes a gente passava aqui por fora e dava para ver o bichos pelas janelas dos aquário. Agora faz um tempão que não aparece nada. Na escola tinha sempre passeio, mas nunca mais teve. Acho que fechou de vez", opinou a garota que desistiu de mostrar os mamíferos marinhos e seguiu o passeio pela praia.

Na página do Facebook do Projeto Peixe-Boi, a internauta Keyla Nassar contou sobre o dia que saiu de casa, em João Pessoa (PB), para levar o filho de 5 anos para conhecer o ponto turístico e se deparou com o local fechado. "Depois de quase uma hora e meia de viagem, chegamos lá e o local se encontrava fechado já há bastante tempo. Os moradores da ilha sequer sabem ao certo para onde os animais foram levados", disse ela no relato. "Como eu já havia visitado há alguns anos, não podia deixar de levá-lo, pois fiquei encantada quando visitei [...] Quanto descaso com o turista e com tão lindo projeto", resumiu no post feito há cerca de 3 meses.

Embora a reportagem do NE10 tenha sido impedida de entrar e ver os peixes-boi, um funcionário, que não pode gravar entrevista, garantiu que 13 animais estão sendo cuidados para, no futuro, serem encaminhados para a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, em Porto de Pedras (AL), e depois devolvidos aos seu habitat natural. Por e-mail, o ICMBio também garantiu que os serviços de cuidados aos peixes-boi continuam e que a retomada das atividades de visitação está sendo negociada junto à Prefeitura de Itamaracá e ao Governo de Pernambuco.

Em nota, a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco informou que está em busca de uma parceria público-privada para a reabertura da área turística do equipamento e que, em março, serão iniciados os debates sobre o tema com as empresas que manifestarem interesse em investir no espaço.

Mariana (E) foi lamenta ter perdido uma opção de turismo e lazer

Mariana (E) foi lamenta ter perdido uma opção de turismo e lazerFoto: Guga Matos/JC Imagem

Moradora do Recife, a dona de casa Marina Ramos, 58, aproveitou a quinta-feira de sol forte para visitar o Litoral Norte com o marido e um casal de amigos portugueses. Ela lamentou não ter mais a opção de visitar o Projeto Peixe-Boi e aproveitou para criticar a falta de preservação dos pontos turísticos do Litoral Norte pernambucano. 

"Não sei o motivo, mas fechou né? É uma pena porque era muito bonito e interessante de ver. Creio que isso seja falta de interesse público. É lamentável para o turismo, para a economia e para Itamaracá que parece estar um pouco abandonada", avaliou Marina Ramos.

A suspensão da visitação ao Projeto Peixe-Boi não é ruim apenas para quem gosta de ter uma opção turística voltada para a preservação do meio ambiente. Os comerciantes dos arredores reclamam que o fechamento do serviço enfraquece a movimentação e faz esfriar os negócios. "Aqui a gente só tinha o Forte Orange - que está em reforma, mas recebendo visitas - e o Projeto Peixe-Boi. Agora nosso movimento caiu uns 90% porque só podemos contar com os turistas que vêm no fim de semana. Durante a semana ainda tinha as excursões dos colégios", contou Eliude Araújo, dona do Aconchego Bar, que há 12 anos mora na Ilha de Itamaracá.


Dona Eliudes espera que a visitação ao projeto retorne para que os negócios mehorem. Foto: Guga Matos/JC Imagem

Com a ameçada de extinção do peixe-boi marinho, o governo brasileiro proibiu sua caça e criou em 1980 o Projeto Peixe-Boi, desenvolvido pelo CMA (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos), com sede na Ilha de Itamaracá, Pernambuco. Por todos esses anos, o projeto dedica-se à pesquisa, resgate, recuperação e devolução à natureza do peixe-boi.

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Na portaria, segurança explica que a visitação do projeto está suspenso por tempo indeterminado - Guga Matos/JC Imagem
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Pelos fundos, é possível ver como a estrutura do lugar está com sinais de abandono - Guga Matos/JC Imagem
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Sem visitação, o espaço fica deserto e conta apenas com a presença de alguns funcionários - Guga Matos/JC Imagem
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Do lado de fora, curiosos tentam ver algum movimento pelas janelas do aquários - Guga Matos/JC Imagem
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No estacionamento, carros do ICMBio estão abandonados e com sinais de ferrugem - Guga Matos/JC Imagem
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Foto de 2011 mostra o aquário onde os animais eram cuidados para depois voltarem ao seu habitat - Guga Matos/JC Imagem

ICMBio troca sede do Recife por Santos, em São Paulo

Localizado a quase 50 km do Recife, o espaço que abriga o Projeto Peixe-Boi também era a casa do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA). No enanto, o serviço mudou sua sede para Santos, no litoral paulista. A coordenadora do CMA, Fábia Luna esclareceu que a troca foi necessária por uma questão estratégica, uma vez que o litoral da região sudeste concentra uma demanda maior de animais marinhos em risco na natureza. 

"Por causa de diversos fatores como atropelamento por navios, vazamento de petróleo, exploração do pré-sal, nós identificamos que era mais viável trazer a sede do ICMBio para o litoral do Sudeste brasileiro, mas isso não significa que o atendimento ao peixe-boi e demais mamíferos aquáticos tenha sido suspenso em Pernambuco", explicou Fábia Luna.

Se encontrar um peixe-boi o que devo fazer?

Caso o cidadão encontre um peixe-boi em situação vulnerável na costa pernambucana deverá entrar em contato com o Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (CEPENE), que é um dos Centros Especializados do ICMBio. O centro fica instalado na praia de Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco. O contato deve ser feito através do telefone (81) 3676.1109. De acordo com o ICMBio, a equipe do CEPENE avaliará as condições de vulnerabilidade do animal encontrado e adotará as medidas necessárias para o atendimento e encaminhamento do animal.

Em nota, o Instituto Chico Mendes ainda informou que têm sido frequentes os registros de aparecimento de peixe-boi nas praias da Região Metropolitana do Recife, especialmente em Olinda. Além disso, apesar de ser uma área de ocorrência natural da espécie, a interação com a população implica em riscos para a saúde das pessoas e dos animais. Alimentar, ofertar água e tocar nos animais são ações consideradas como molestamento intencional pelo Decreto Federal 6.514/2008, o qual prevê a aplicação de multa para quem praticar estas ações.


A orinetação do ICMBio é de não tocar no animais, pois pode causar doenças para o animal e para os humanos. Foto: Bobby Fabisack/JC Imagem

O peixe-boi marinho é uma espécia ameaçada de extinção. Atualmente ele se distribui nas costas dos estados entre Alagoas  e o Amapá, com áreas descontinuadas em parte de Pernambuco, Ceará, Maranhão e Pará. Um mapa de ocorrência atualizado deverá ser publicado pelo ICMBio juntamente com o "Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção", que se encontra em fase de finalização.

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